segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Diário página 5

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Querido diário,

Desaprendi as palavras. As que me eram conhecidas, usuais, familiares, agora neste ano, envolveram-se em novo significado, tantas sumiram e outras tantas passam a fazer parte do cotidiano.
Diário, este que me desejei aqui escrever e que deveria ser diariamente, ficou assim tão espaçado. Meses, semanas tantas sem vontade de escrever.

Novo normal, distanciamento social, sanitização, pandemia, imunidade de rebanho... tudo o que passou a nos rodear, a conectar nossos neurônios numa nova lógica.

Quarentena, de dias infindáveis e hoje eu passei a caixa com o presépio para uma prateleira mais baixa, afinal já tem panetone no mercado.

No celular fotos tiradas no início da quarentena, quando eu me sentia estranha ao sair na rua vazia e mais estranha ainda em fotografar. Mesmo assim o fiz. Queria trazer um pouquinho de beleza para toda aquela estranheza.

Tudo parece meio desconexo. Fiquei sem jeito com as palavras, me deparei com mudanças no painel do blogger depois de tanto tempo sem vir aqui.

Receba o meu desejo de que vocês estejam bem, saudáveis de corpo, de emoções. Desculpem o mal jeito da postagem, queria mesmo voltar a encontrá-los.

domingo, 17 de maio de 2020

O cachorro Toninho

Mas não é sobre o cachorro Toninho que quero falar. É sobre o que estamos a aprender com o vírus da pandemia.

Logo que tudo isso começou, começaram também as reflexões - o que esse vírus quer nos ensinar, o que ele quer nos mostrar.

E não demorou para que surgissem inúmeras interpretações. E fui, inicialmente, lendo algumas, refletindo junto.
Família... estávamos desconectados de nossas famílias dentro da mesma casa? Trabalho? Tudo excessivo? Manipulação política? E quando me dei conta, já não conseguia mais refletir sobre nada, não conseguia ouvir o que o vírus gritava.

Tudo questão ambiental. Políticos de olho não nas vidas mas nas próximas eleições. Homescholling, como assim, com crianças pequenas que deviam passar longe de celulares e tablets? A indústria da vacina, a farmacêutica? Os muitos testes para covil-19 que mais confundem do que elucidam. A subnotificação?

Se eu achava, lá no início que sabia qual era o recado do vírus, fiquei imersa em confusão, atordoamento, coisa demais para pensar, para ouvir, muita matéria para aprender.

Então agora eu quero falar sobre o cachorro Toninho.

O cachorro Toninho, eu o conheci antes dessa pandemia, na verdade logo que me mudei. Ele estava deitado debaixo da carroça, com seu dono a aparar-lhe os pêlos. Estavam na esquina duas grandes e movimentadas ruas e de tão interessante observá-los ali, em meio àquela multidão passando apressada entre entrar e sair de academias, bancos, eu, voltando do mercado, o comércio de rua ali todo concorrido, eu parei entre os semáforos piscando e perguntei o nome do cachorro.

Toninho. E eu sou o Renato.

Voltei para casa já contando: conheci o cachorro Toninho!

Dia desses na pandemia, eles estavam lá, no mesmo cruzamento, os semáforos trabalhando incessante entre verde, amarelo, vermelho. Desnecessário. Poucos carros na rua, quase nenhum pedestre para atravessar. Tudo deserto, tudo estranho. Homem e cachorro e carroça ali, estacionados. Comércio fechado. Eu que ia a passos rápidos e só com os olhos descobertos, parei. Nem sei ao certo se queria parar, o que me fez parar, mas parei.

"Seu Roberto, eu vou ao mercado, o senhor quer que eu traga alguma coisa?"

"É Renato. Eu sou o Renato e ele é o Toninho. 
O homem virou-se para a sua carroça e com uma das mãos ( depois percebi que o outro braço é paralisado ) levantou um pedaço de lona e disse-me: pão eu tenho, tenho arroz com carne, tem um pouco de leite. Obrigado, não preciso de nada não.

Eu não queria chorar, eu tentei segurar uma ou outra lágrima, usei como argumento que é ruim chorar de máscara, mas meu coração não atendeu.

Um homem, o cachorro Toninho, a carroça. Simplicidade.


* Peço desculpas por não estar conseguindo interagir nesse tempo em que temos tempo de sobra. Porém com as aulas online das crianças, o computador é utilizado o dia todo e eu realmente ainda não consigo fazer pelo celular. Sempre que der apareço! Fiquem bem, cuidem-se e fiquem em casa. Beijo!

domingo, 10 de maio de 2020

Mãe




Tivemos ou temos, todos nós uma mãe.
Mães maravilhosas, ou se não tanto assim,
através da mãe chegamos ao mundo.
Nosso corpo, nossa vida hoje nos foi dada por ela.

Minha homenagem às mães.
Que não se perca nunca a virtude de acolher,
Ouvir, ninar, alimentar, compreender.

Um dia das mães em meio à pandemia
certamente será diferente.
Talvez tenha mais essência 
Seja verdadeiramente mais amor.

Um feliz dia das mães!

terça-feira, 14 de abril de 2020

Diário página 4

Quando meus filhos eram pequenos, numa daquelas cirandas literárias das escolinhas de educação infantil, trouxeram para casa o livro Quando as cores foram proibidas.
Lembro-me muito pouco da história. Havia um rei malvado que proibiu as cores no seu reino, que ficou cinza e triste.

Acho que estamos um pouco assim num mundo em que estamos perdendo o colorido.
E por isso é preciso não deixar que as cores se desbotem, ou deixem de existir!



Nesses dias em que o olhar se debruça nas janelas, vi um homem que parecia cuidar de umas árvores.
Aqui do nono andar não era possível ver com clareza. Num outro dia, quando saí para o mercado, passei pelas árvores.
O que o homem fazia e eu não identificava era pintar flores nos troncos!






Era a sua maneira de trazer um pouco de cor para esses dias tão difíceis!

E para nos acalentar, como uma bênção descida dos céus, as cores do final de mais um dia assim se derramou sobre nós!




sábado, 11 de abril de 2020

Feliz Páscoa


Uma abençoada Páscoa para todos!
Todo o significado,
todo o ensinamento
nos dado através do Renascimento
nos dê força, resiliência
para passarmos por esse período.
Saúde e paz a todos!

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Feliz aniversário Júlia!

Hoje minha filha faz 15 anos!
É uma alegria celebrar sua vida.
Saúde, vida longa, sorrisos... e aquele lembrete de que, tudo passa.
Viva intensamente!







quarta-feira, 1 de abril de 2020

Diário página 3




Querido diário,

Três ou quatro árvores à frente de onde moramos, há uma " árvore dos desejos".

A pressa dos dias corriqueiros nunca me fez parar e ficar defronte para algum dos desejos.
Mas agora, diário, os dias não são os mesmos. Um minúsculo ser, um vírus, nos pede para olharmos para os nossos dias corridos, nossa pressa, nossa ânsia em fazer, em chegar.

O mundo desapressou-se, o corriqueiro tornou-se extraordinário e nesse novo mundo,nessa nova maneira de viver, eu parei.

Parei, ainda distante e olhei para a árvore.




E depois, toquei um dos desejos. Com os dedos,com os olhos, com o coração.
Senti a lágrima nascendo na garganta e depois banhando o olhar.


O desejo enlaçado junto ao galho em fita de cor de esperança , diz assim:

" Eu desejo que não tenha mais brigas entre eu e minha mãe ❤️. Ale

Ah diário... estamos todos, praticamente o planeta inteiro, em isolamento social, restrição,confinamento, ou seja lá o nome que queiram usar para definir esse grande ensinamento.
Estamos dentro de nossas casas, sejam elas amplas com horta, apartamentos, favelas, quartos. Estamos,  diário, enlaçados com pessoas e sabe, por uma semana estava tudo muito bonito, as pessoas  até que estavam mantendo certa felicidade, mas agora que a gente nem sabe para onde tudo isso vai dar, começamos a nos dar conta que existem pessoas que estão a viver dias mais difíceis ainda do que podemos imaginar.

Diário, eu queria poder falar para o Ale, ou, a Ale e para sua mãe que, a vida é frágil, a vida é preciosa e é tão maravilhoso amar e exercitar o amor através do cuidar.

Hoje estamos juntos, façamos o nosso melhor. Amanhã não o sabemos.

Que a árvore dos desejos floresça e frutifique amor em todos os corações!



quarta-feira, 25 de março de 2020

Conhecendo melhor os blogs


Uma das coisas boas que nossa quarentena tem nos trazido é uma maior interação entre os blogs!
Tenho lido pessoas que há tempos não blogava, encontrado outras em comentários nos posts de amigos, mais visitas, mais escritos.
Então aproveitando esse bom momento, eu vou interagir com o blog Filha de José, da Ana Virgínia e vou falar um pouquinho mais do meu blog.

Muitos amigos antigos já conhecem a história. Vou contar e incrementar seguindo o roteirinho que a AnaVi sugeriu!

  • Meu blog foi criado em... 
  • O nome do meu blog é pelo motivo de... 
  • O que eu mais gosto no meu blog e nos blogs é ... 
  • Eu criei meu blog para... 

Meu blog foi criado em janeiro de 2011.
E o nome dele surgiu de uma conversa que minha filha Júlia com seus três aninhos teve comigo.
Aquela voz deliciosa de criança.
Ela estava um tanto brava e decepcionada com nossa vizinha, a dona Cristina que a adorava!
Voltou da casa dizendo "eu não gosto que a dona "Quistina" fala que ama eu do fundo do coração; lá no fundo é muito escondido, eu queria que ela amava eu do lado de fora do coração para todo mundo ver!"

Eu me lembro de ter anotado essa fala da pequena e quando contei para a dona Cristina ela caiu na risada e disse que falaria para Júlia que a amava do lado de fora do coração.

Disse que iria incrementar, não disse?!

Então, eu tenho quase cinquenta anos e portanto nasci completamente analógica!
Jurei que não teria um computador ( e fiz o mesmo com o celular! ).
Via de perto um computador de uma fábrica de cerâmica e tudo o que saía de lá eram códigos e notas fiscais mandadas para uma enorme impressora. Olhava para aquela tela no enorme monitor quadrado e só via códigos, pra quê eu ia querer aquilo?

O mundo girou e eu tive filhos. Quando fui em busca da primeira escola para o menino, onde eu batia me pediam o e-mail. Ãhn? E-mail? Mais eu não tenho e-mail e me olhavam como se eu fosse de outro planeta.
Eu, inocente, pedia se não poderiam me enviar as propostas por correspondência. Não, não usamos mais esse meio, só mesmo por e-mail.

A pressão pelo tal e-mail fez-me matricular numa escola de computação.

É, pensar que meus filhos já nasceram mexendo sem medo nos eletrônicos.

Fui para a primeira aula e seria preciso filmar para que acreditem: minha mão tremia ao segurar o mouse e eu não tinha controle nenhum daquela seta, daquele cursor. Tinha é medo.
A todo momento uma janela indesejada se abria na minha frente e eu quase saltava de tanto medo.

As aulas no computador para mim foram a auto-escola que não fiz!

Como demorei a dominar o básico daquilo!

Assim que aprendi um pouco, compramos nosso primeiro computador. Uma caixa enorme com o monitor, a CPU.

As primeiras coisas "sociais"que fiz no computador foi falar por Skype e ter uma conta no orkut.

Comecei então a saber sobre blogs através das revistas que comprava na banca de jornal. Fulano escreve no blog tal.

Fui visitando esses blogs que eram mais profissionais, mais para produtos, empresas e em certo dia cheguei a algum blog "nosso".

Fui gostando e um dia resolvi fazer uma tentativa e fui clicando, mexendo e quando vi estava com um blog ali na minha frente!

Foi também um susto e precisava apenas de um nome.

Um nome? Qual? Assim de imediato?

Eu não estava pensando em criar um blog, nunca achei que conseguiria!

Tudo o que me veio à cabeça foi o "lado de fora do coração".

E deu certo o nome e assim ficou!

O que eu mais gosto nos blogs são as interações que acontecem, os laços que vão se estreitando sejam virtual ou se tornam um abraço real.

Gosto quando, de repente, olho, encontro algo e penso em alguém dos blogs. Ela ia gostar dessa foto, isso tem a cara daquela pessoa de tal blog!

Fui percebendo com o tempo também que isso aqui é um belo registro de nossas vidas, de nossas fases.

Já tive fases de poesias, de escrever todos os dias, de postar muitas fotos, de ficar muito tempo afastada.

As rotinas também influenciam. Comecei com as crianças pequenas, agora adolescentes usam bem mais o computador e eu ainda não consigo postar a partir do celular.

Nessa quarentena por exemplo, tenho mais tempo porém o notebook está sendo usado durante a maior parte do dia pela filha que está tendo aulas online.

E assim a gente segue e usa essa ferramenta maravilhosa que tem coração pulsante: nossos blogs!

segunda-feira, 23 de março de 2020

A geladeira nova

No ano passado quando surgiu a possibilidade da mudança de cidade, a primeira coisa que me ocorreu foi: precisaremos comprar uma geladeira nova.

Marido de imediato concordou. Nossa antiga geladeira sofreu demasiado com a mudança de voltagem que foi obrigada a passar, revertê-la novamente não seria nada bom.

Filha e marido tomaram a frente nas pesquisas de preços e modelos, meu pedido é que fosse um modelo frost free. Marido por fim decidiu-se.

Mas foi a Júlia, nossa filha que não se mostrou muito satisfeita com a escolha.

"Vocês têm certeza? Os comentários que estou vendo na internet não falam tão bem desse modelo".

Marido disse que era bobagem. A marca era confiável.

A mudança transcorreu bem e a nova geladeira seria entregue em alguns dias após nossa chegada. Como não tínhamos nem geladeira, nem a instalação do gás, marido e as crianças ficaram uns dias com familiares e eu me virei com marmitas até a entrega da geladeira.

Bem...

A família chegou, a casa já estava com as caixas da mudança ajeitadas, fogão, geladeira, chuveiro, gás.
Então a noite caiu.

Despertei na madrugada entre o pulo do marido seguido de uma invocação "Minhanossasinhora"e os latidos assustados do cachorro. Um tropeçando no outro.

Virei-me para o lado e apenas pronunciei - é a geladeira, fique tranquilo.

Na manhã seguinte marido comentava sobre o que era aquele estrondo enquanto passava o café.

Parou de repente com a chaleira em suspenso o olhou de soslaio para a geladeira.

"Mas é assim, parece que tem um vulcão aí dentro! "

Mostrei-lhe os comentários da internet:


“É bom produto, sempre uso essa Marca … mas o problema é o forte Barulho no Motor mesmo, que incomoda muito, ainda mais que minha cozinha é tipo Americana !”


Geladeira com barulho insuportavel e nao está refrigerando parte de baixo, congelador congelando até a porta ninguém resolve meu problema.
O cachorro já se acostumou ao estalos da geladeira; marido segue se revirando e diz que é o travesseiro que não está bom!
Bom, eu sozinha no apartamento na primeira noite com a geladeira... só posso dizer que tive o coração deslocado do peito para a boca. Agora sigo bem a cada manifestação noturna da geladeira!

sexta-feira, 20 de março de 2020

Diário página 2

Querido diário,

Choveu de madrugada e o céu amanheceu de um jeito que eu não sei definir.
Peguei o celular e cliquei no aplicativo de previsão do tempo. Fiquei triste por perder essa capacidade de sentir o vento e saber se ele está trazendo chuva ou a levando embora. Esses tempos da pandemia, em que tivemos que deixar nossa correria, nosso desassossego e buscar mais quietude talvez me ajude a olhar mais para o céu e menos para o aplicado com desenhos de nuvens e raios.

Mas hoje diário eu quero te contar as boas iniciativas que o vírus está despertando.
Tenho filhos na escola, quero dizer, sem escola, sem aulas por conta das restrições necessárias e foi através deles que eu fiquei sabendo de boas coisas acontecendo! Vou te contar:

Aqui no nosso país nós temos as escolas particulares e as escolas públicas. As públicas diário, foram tão negligenciadas ao longo de muito tempo que, infelizmente, não conseguem expressar o potencial que têm e seu ensino não possui a qualidade que deveria.

Mas olha que legal! Algumas plataformas de estudo, que antes eram pagas, estão abrindo de maneira gratuita e oferecendo seus conteúdos para os alunos de forma online!

Sim, isso é maravilhoso porque muitas escolas particulares poderão oferecer aulas pela internet e poucas escolas públicas terão a possibilidade de fazer o mesmo. Mas esses jovens são antenados e conectados. Eles se espalham essas notícias e aqueles com boa vontade e dedicação poderão usar esse tempo de reclusão para aprender.

Há também tvs por assinatura que estão disponibilizando seus conteúdos para crianças. Claro que sabemos que não é tão bom passar muito tempo com telas luminosas, mas vamos ter que nos adaptar.

Também soube de aplicativos de meditação, antes pagos, que vão abrir suas portas por um tempo para ajudar as pessoas que estão ansiosas por conta dessa enxurrada de notícias que causam tensão.

Você não acha tudo isso bom, diário?!

Ah, e tem também o Spotify, que é um novo jeito de ouvir rádio, querido diário, que está pensando em desenvolver uma programação só para crianças. Além do instagram que tem um pessoal bem legal contando histórias para crianças.

Já tem chef de cozinha famosão ensinando suas receitas.

É diário, a generosidade está à solta!

Bom para finalizar, quero colar em suas páginas duas fotografias que fiz quando estive lá na França no ano passado. Você vai gostar diário e vai ficar bem bonito aí em suas páginas.






Diário, quando eu fiz essas fotos, eu me lembrei de uma amiga. As folhas estavam tão verdinhas e fiquei a imaginar "Quando o outono chegar..." por que será que ela escolheu esse nome para seu blog?

O outono chega por aqui, a primavera por lá.

Que esse sopro de outono nos traga a paciência, a resiliência necessária para enfrentarmos o que ainda temos pela frente.




domingo, 15 de março de 2020

Diário página 1

Querido diário,

O dia amanheceu lindo, céu azul, sol desde as primeiras horas da manhã. Hoje é domingo, o último domingo do verão. Um verão que foi atípico, sem aquele calorão, com muita chuva aqui no sudeste.
Chuva esta que também foi atípica. A estrofe da música que diz "são as águas de março fechando o verão", não se deu em março e sim em fevereiro com águas devastadoras.

Escrevo diário quando o livro mais vendido por aqui é - A Peste, Albert Camus.
Escrevo em tempos de coronavírus.
Escrevo porque quero daqui a um tempo, um curto tempo, espero, reler e poder dizer "conseguimos".

Hoje é o primeiro dia de uma semana que também será diferente. Escolas suspendendo as aulas, pessoas trabalhando de casa, exposições sendo canceladas.

Os noticiários da tv merecem ser destacados, querido diário. Vemos os repórteres, os apresentadores e por trás deles, naquela tela de fundo enormes esferas cor laranja-vulcão-em-erupção girando, esferas em dimensões maiores que o próprio planeta.

E é justamente esse minúsculo vírus que já começa a ensinar grandes lições. Está bonito de ver as redes sociais publicando as fotos das cartas coladas nos elevadores. São moradores disponíveis a ajudar com compras em mercados, farmácias.

Outras postagens nos dão conta de que perder algumas coisas, nos faz as valorizarem ainda mais: abraços, um café, uma viagem, uma ida à academia.

A situação já esteve caótica na China; neste momento a Itália, a Europa estão no epicentro do problema. Também veio da Itália, pelas redes sociais, o vídeo das pessoas em isolamento em suas sacadas cantando a diminuir a dor, a reconhecer os profissionais de saúde, a esperançar pelo retorno à rotina.

Também da Itália vem um exemplo de cooperação e não-preconceito. Receberam especialistas chineses para ajudar na contenção e administração da situação.

É diário, as bolsas de valores viraram de ponta cabeça, o mercado financeiro em polvorosa, dólar nas alturas...

Quando tudo começou, olhávamos com aquela distância, que parecia nunca nos alcançar.

Já temos casos, poucos se comparados com outros países. Estima-se que ainda chegará o pior.

O pequeno coronavírus covid-19 exporá as grandes mazelas da desigualdade, do descaso com nosso sistema público de saúde, o SUS.

Os ambulantes, os profissionais autônomos? A população de rua?

Não há certezas diário, nem mesmo respostas. Tudo está aberto. Poderemos ser gentis, prestativos e cultivar o que de melhor há em nossos corações. Ou poderemos nos fechar no medo, pânico e manifestar o mais cruel egoísmo.

Sabe diário, eu também sinto que o poder da oração, qualquer que seja a crença, é valioso, é importante.

Os nossos profissionais de saúde terão rotinas exaustivas, que nossas orações os fortaleçam.

Querido diário, não sei se escreverei todos os dias aqui sobre a pandemia. Sabe, eu tenho um blog e quero escrever nele também sobre outros assuntos, como a história da geladeira que ainda essa semana eu publico. Espero que você me entenda e seja um bom companheiro. Será uma turbulência esses tempos, haverá dias difíceis e dias belos, haverá lições a serem aprendidas e quem sabe sairemos disso tudo com nossos corações fortalecidos no amor, a força maior!

E para finalizar, diário, vou deixar registrado uma fala bonita que eu deixei separadinha para trazer aqui nestas páginas:

"Quando morremos não levamos nada para lugar nenhum. Então, por que mesmo estamos amealhando uma quantidade grande de coisas? Por mais que a gente tenha  muitas coisas é sempre insuficiente. O rico é aquele que tem para dar, não é o que tem muito. Riqueza não diz respeito a quanto a pessoa tem, mas diz respeito à capacidade que ela tem de oferecer. É a capacidade de oferecer que mede a riqueza"       Lama Padma Samten

quinta-feira, 12 de março de 2020

Cuidemos de nossos corações


"Quando eu tinha cerca de 6 anos, recebi um ensinamento essencial de uma velha senhora que estava sentada ao sol. Um dia, eu estava passando em frente à casa dela, sentindo-me só, não amada e louca da vida, chutando qualquer coisa que me aparecesse pela frente. Rindo, ela me disse: "Menina, não deixe que a vida endureça o seu coração."

Naquele momento eu recebi esta instrução básica: podemos permitir que as circunstâncias da vida nos endureçam, nos tornando cada vez mais ressentidos e amedrontados, ou podemos permitir que essas mesmas circunstâncias nos tornem mais amáveis e mais abertos em relação àquilo que nos assusta. Sempre podemos escolher."

Este pequeno texto da Pema Chödrön, em seu livro Palavras Essenciais, tem o seguinte título: NÃO DEIXE QUE A VIDA ENDUREÇA O SEU CORAÇÃO.

Muitas vezes temos a sensação de que o básico, o essencial, o óbvio não precisa mais ser dito, ser refletido, aprendido e praticado.
Julgamo-nos prontos para algo mais elaborado, um nível mais difícil, afinal as coisas corriqueiras, são de certa forma até banais.

A vida tem seu lado áspero; especialmente nesses tempos de agora, a aspereza parece querer roçar nossos corações. Nada melhor do que apenas um sorriso de uma velha senhora e a mais simples das recomendações - não deixe que a vida endureça o teu coração.

quarta-feira, 4 de março de 2020

Corações aquecidos

Essa história foi um presente que meu marido me deu. Um presente que aqueceu meu coração!

Internei um morador de rua de madrugada - começou a me contar.
Você sabe o quanto é difícil fazer isso num hospital público ( faltam vagas, faltam leitos, enfim, saúde pública... ) mas consegui e internei.
Cedinho saí para tomar um café e na porta do pronto-socorro estavam quatro cachorros. Voltei do café e eles estavam lá.
Ali por umas dez horas da manhã, abriu uma fresta no céu nublado e chuvoso a vários dias e um pouquinho de sol apareceu. Então eu fui lá fora e encontrei o homem que eu havia internado. 
Quase nem reconheci: banho tomado, barba feita, com a roupinha do hospital. Então ele me chamou e foi me apresentando.

Neste ponto da conversa eu o interrompi e exclamei: que bom que ele tem família!

Não, não, me disse meu marido. 
Ele foi me apresentando para os cachorros! Aqueles quatro cachorros eram dele!

Que cena, que cena incrível!

Ele chamava os cachorros um por um, pelo nome e dizia "esse aqui é doutor que tá cuidando de mim, viu, logo eu fico bom". E os cachorros, muito bem cuidados aliás, abanavam o rabo. Uma mulher que passava por ali, parou para ver a cena e sorriu. Acho que ela entendeu tudo!

Bem,  tirei o homem da rotina dele e dei-lhe um pouco de férias - vai ter banho todo dia, banheiro e comida e ainda umas boas vitaminas e remédio para tratar-lhes as mazelas.

E eu preocupei-me também com os cachorros.

Nem se preocupe! O sujeito tem o coração tão bom que já fez amizade com as cozinheiras que vão levar comida lá na rua para os cães! E ele sempre dá um jeitinho de ir lá visitar os fiéis companheiros.

Não dá para fazer muito, mas foi possível fazer o que estava a meu alcance naquele momento.

Uma história quentinha que aqueceu meu coração!

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Na ponta dos dedos, o arco-íris


Fiquei na ponta dos pés, estiquei bem o braço e, com a ponta dos dedos, quase toquei o arco-íris!
Ali, bem em frente, no quintal do vizinho, ele nascia ou findava; naquele fim de tarde quente quando chegou a chuva de verão, chegou também o encantamento.

Por vezes sinto falta de reencantamentos.
Os encantamentos são tão fáceis no olhar de uma criança - a formiga a carregar a enorme folha, pedrinhas de gelo caindo do céu, a mágica da moeda que some das mãos e ressurge de uma das orelhas.

O arco-íris tão próximo de meus olhos, naquele momento era tão somente o arco-íris.

Eu pude me reencantar porque fui tomada de arco-íris e de não-saber.

Nada de ângulo dos raios solares, nada de incidências, gotículas, refração.

Apenas minha filha e eu na janela.

"Mãe está mais bonito de ver do que na tela do celular. A foto não está reproduzindo a beleza toda! "

Ficamos ali naquele tempo tão curto, tão longo e tão cheio de arco-íris.





quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Preciso de óculos

Preciso usar óculos.
Tenho afastado cada vez mais a embalagem de pão para poder enxergar a data de validade. É um sinal.
Cheguei a telefonar para uma clínica na antiga cidade em que morávamos, fiquei de ajustar os horários, porém depois veio a possibilidade da mudança e fui adiando.
Já instalada, ainda falta chegar o sofá e eu temo ter é que procurar um ortopedista ao invés do oculista!

Mas, como eu dizia, já instalada, resolvi que vou usar meus óculos e para isso preciso encontrar um oftalmologista aqui aos aredores da nova moradia.
Bastava um google e facilmente se resolveria a busca.

Ah, estou envolvida em conhecer os pedacinhos, as peculiaridades, o comércio, o pão de cada padaria e não seria diferente com o profissional dos olhos.

Já andei muito aqui pelo bairro e reclamei com marido: "nossa, aonde foram parar os oftalmologistas, não encontro um consultório".

Quase me rendendo a uma busca pelo google, eis o que vejo:


Um banner enorme, um outdoor, enfim uma bela publicidade: moço bonito com seus óculos, sorrindo, não tive dúvidas, toquei a campainha e entrei.

Não havia uma secretária no local, coisa comum nos tempos atuais, redução de gastos. Um simpático homem estava ali e antes de dirigir a palavra a mim, despediu-se de uma cliente que saía segurando os óculos em uma das mãos e lhe se despediu com um "até o mês que vem".

Gostei ainda mais, profissional com retorno é sempre bom!

Então fiquei de frente para o homem e lhe perguntei o valor da consulta.

Bem, depende - foi o que ele me respondeu. A senhora precisa exatamente do quê, clínico geral...

Tive um pensamento rápido, assim, faz tanto tempo que não vou a um oculista que as coisas devem ter mesmo mudado, deve haver muitas especializações na área.

O pensamento foi tão rápido a ponto de eu interromper enquanto ele pronunciava o clínico geral.

Então, é assim. Para minha filha, pode ser mesmo mais geral, ela só precisa de um exame de grau. Já para mim, por causa da idade né?, preciso de um exame mais detalhado, fundo de olho, pressão, essas coisas.

Olhou-me profundamente o homem. Não saberia precisar exatamente quantos segundos durou aquilo.

A senhora está procurando exatamente o quê?

Um oftalmologista.

Aqui é uma clínica odontológica.


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Considero-me uma pessoa pacífica, mas juro que naquele momento tudo o que eu queria era uma escada enorme para fazer aquele sujeito subir lá até onde estava estampado a fotografia do moço de óculos e fazê-lo desenhar com canetinha preta um aparelho nos dentes do sujeito.

Saí de lá com o cartão do dentista, que era o próprio homem simpático que me atendeu.

Defronte para a casa de paredes azuladas olhei fixa e demoradamente - estava mesmo escrito clínica odontológica.

Sigo ainda sem meus óculos; relevem qualquer erro de digitação.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Dos sinos à Pietá

Logo nos primeiros dias aqui na nova morada, ouvi o badalar de sinos.
Corri às janelas para tentar ver de onde vinha o som. Avistar não foi possível, só mesmo ouvir.
De qualquer forma, sabia que não estava tão longe.

Numa manhã, indo ao mercado, após pedir informações, resolvi deixar a linha reta que me levaria ao destino e virei numa rua a fim de ver o que tinha por lá.
E foram alguns passos apenas até avistar uma torre.

Uma pequena igreja em reforma.
Enquanto eu caminhava pelo pátio, badalaram os sinos.
Ah! Era dali que flutuava pelo ar o som que nos chegou.




Adentrei já com o coração feliz e foi naquele encantamento de olhar a arquitetura, a decoração que eu me deparei logo na entrada, ao lado com essa maravilhosa imagem.



É uma réplica, a verdadeira está na basílica de São Pedro, no Vaticano.
Não sei se algum dia terei a oportunidade de ver essa obra-prima, mas mesmo sendo uma réplica, é de uma beleza indescritível.



"Os traços da Virgem mostram a intensa dor e admirável serenidade com que recebe nos braços o Filho descido da cruz".

É para contemplar em um longo silêncio...



Quem já viu essa obra no Vaticano?
Me contem, é mesmo deslumbrante, não?!

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Aos arredores

Confesso que essa é a parte que mais gosto nas mudanças - o não-saber.
Não sei onde tem padaria ou qual é a "melhor". Então um dia a gente come um pão ruim, no outro encontra o melhor pão do mundo!
E para essas descobertas, nada melhor que sair andando a esmo.
Sim, bem sei que a internet nos localizaria tudo na palma de nossas mãos, mas talvez a própria internet, os aplicativos eficazes não encontrariam surpresas pelo caminho!
E assim foi com esta árvore.

De longe eu avistei algo ali entre os seus galhos.
Fui chegando mais perto e olhem só o que encontrei:





Era a semana do Natal, foi especial encontrar a Criança-Luz delicadamente colocada ali.
Na verdade, a primeira vez que a vi, estava sem o celular.
No dia seguinte levei-o para fotografar.
E de uma terceira vez que passei por lá, já não estava mais.

Quem a colocou, teria levado de volta?
Alguém que por ali passava, resolveu levar para o seu Natal?

Não importa, alguns corações foram tocados!

E não posso deixar de mostrar o que se pode contemplar na janela da nossa moradia:



Podemos colecionar pores do sol!

Temos muito ainda a descortinar por aqui!
Tivemos perrengues também, como o problema do gás encanado que até ser resolvido nos rendeu banhos frios... Mesmo estando no verão, não foi fácil!

Esse olhar para o desconhecido não podemos perder. Ainda que vivamos no mesmo lugar por toda uma vida, por muito tempo, enxergar o novo sempre é possível!

Você consegue ver para além do habitual, do tão conhecido?!


domingo, 12 de janeiro de 2020

Nove anos depois


Feliz novo ano! E feliz aniversário para este blog que completa 9 anos!
Foi exatamente em janeiro de 2011 que eu criei sem querer este blog.
Vou recontar a história!
Ouvia falar muito de blogs, acessava alguns que tinham o endereço publicados em revistas e um dia tentei arriscar seguir um passo a passo para criar o meu próprio blog. Tinha certeza de que não conseguiria. Foi apertando botão, clicando lá e acolá e de repente, foi mesmo de repente que surgiu um blog na minha frente - o meu blog.

E agora? O que eu vou fazer?

Nome. Um blog precisa de um nome. Tudo o que me veio à cabeça era uma fala da minha filha, com 5 anos à época, quando ela falava que não gostava quando diziam "te amo lá no fundo do meu coração".

"Mamãe, o fundo do coração é muito escondido, acho que a gente deveria amar do lado de fora do coração, assim todo o mundo vê".

Nascia o blog Lado de Fora do Coração.

Feito um bebê titubeante nos primeiros passos, eu não sabia exatamente o que escrever. Vontade tinha muita, mas não tinha um assunto específico e fui misturando crônicas, cotidiano, fotografia caseira, uns poemas e a alegria de estar aqui só crescia.

Eram raros os seguidores até um tempo em que foram muitos - parecia um café da tarde numa grande mesa posta numa enorme varanda.

Visitas que vieram, se foram, muitas ficaram, novos chegaram.

Já escrevi quase que diariamente, já fiquei meses sem aparecer.

As demandas da vida mudam, porém mesmo vindo cá com uma frequência bem menor, esse é um cantinho pelo qual eu tenho um imenso carinho!

Os blogs se tornaram muito especiais porque somente pessoas que amam essa plataforma, esse jeito de interagir, de registrar memórias de receber carinho, ficaram, permaneceram!

Como eu me alegro em ver que os blogs extrapolaram, transbordaram para além das telas.
Há amigos blogueiros se encontrando e se abraçando!
Há presentes que chegam pelos correios nascidos das amizades criadas pelos blogs.
Há pessoas que já moram em nossos corações e nos preocupamos nos momentos difíceis e celebramos os festivos.
Enfim, há muita vida por aqui e eu sou grata por você que me lê, dedica um tempinho a comentar, a estar comigo através da escrita.

Meu desejo de um bom novo ano. Que a gente tenha força e sabedoria para o lado difícil da vida, e muitos sorrisos, na maior parte dos dias para viver com alegria e o coração cheio de amor.

Um abraço apertadinho em cada um de vocês!