domingo, 29 de janeiro de 2023

Na academia

 


Meus filhos já vinham insistindo há algum tempo. Eu seguia firme na relutância até que, me deparei com um artigo do dr. Toba.


“… o trabalho pela longevidade tem que começar na infância, e não aos cinquenta anos”, diz o especialista.


Ao ler isso eu quase perdi a ternura para com o dr. Toba. Respirei e lembrei que elegi a palavra ternura para nortear meu ano.


Fiquei um tanto abalada com essa fala do dr. Toba porque a minha infância foi vivida com chocolate guarda-chuvinha e suco vendido na feira em embalagens plásticas em formato de carrinho, boneca, com cores bem vívidas, acho que tinha até azul. O que havia naquele suco ou no chocolate de guarda-chuva é melhor nem pesquisar…


Tomei então uma decisão: juntei a insistência dos filhos, mais a desesperança do dr. Toba, a minha alegria de infância com os guarda-chuvinhas achocolatados e me matriculei numa academia.


Nossa! Como eu pude demorar tanto tempo para fazer isso?! Descobri que eu adoro uma academia. Vou sempre que posso, só é uma pena que quase nunca posso ir. Mas vou, sempre que dá.


Os primeiros dias foram muito, mas muito difíceis. Cheguei mesmo a achar que nunca mais voltaria a por os pés naquele lugar.


“É dor no corpo mãe?” - perguntava aflito um dos filhos.


Não, não sinto dor no corpo. O problema é o cheiro. Cheiro de borracha que me faz sair de lá com muita náusea.


Eles me olhavam com cara de guarda-chuvinha.

“Mãe, não existe isso de cheiro de borracha.”


Claro que existe, eu revidava e provava - todas aquelas roldanas, aquelas esteiras girando o dia todo ali, aquilo exala e eu fico tonta e nauseada.


“E o corpo?” - eles insistiam em saber.


Não sinto nada no corpo.


Entre repousos, semanas sem ir, consegui vencer a questão do odor emborrachado e passei a frequentar com maior assiduidade.


Apanhei até certa intimidade com os outros frequentadores. Eu os chamo de “queridos”. Por causa do livro que li Humanos Exemplares, lá tem os queridos.


Os horários em que consigo ir para a academia estão sempre lotados de queridos. Eu mal me sento em uma daquelas máquinas de musculação e chega um querido perguntando - “tá terminando?”.


Eu respondo que sim e imediatamente vou me levantando para dar lugar ao querido. Vejo que os músculos dele têm mais urgência em manter aquele padrão todo do que os meus.


Encontrei duas coisas que realmente gosto de fazer na academia. Uma bicicleta que tem uma cadeirinha como banco. Então você se senta bem confortável naquela cadeira com pedais. Pode tornar os pedais duros e exigentes colocando uma intensidade neles. 

Eu prefiro mesmo ao natural, pedais bem soltinhos, sem esforço. Fico ali muito tempo e posso com tranquilidade olhar bem para a fisionomia dos queridos.


Olha, fico estarrecida. Eu que já trabalhei num centro obstétrico, não via caretas tão retorcidas durante os partos como vejo no rosto dos queridos durante sua musculação. Eles, os queridos, colocam tanto peso, mas tanto peso que todos os músculos da face de retorcem.


Um dia, eu estava ali serena na minha bike-conforto e uma querida disse para a outra:

“Tadinha, a minha mãe não me deixa pegar peso em casa, mal sabe ela o quanto de peso eu pego aqui na academia!”.


Ouvir isso me abala os nervos. Eu vou lá para ser saudável, mas fica difícil com esses queridos. Eles me estressam.

Toda vez me pego pensando: será que todos esses músculos tão fortes e desenvolvidos têm forças para pegar uma pia de louça e dizer “mamãe, pode deixar que eu lavo”.


Esses braços que mal cabem na manga da camiseta, seriam agéis com uma vassoura?


Fico tão estressada ao ouvir e ver essas injustiças musculares que não há outra maneira, largo tudo e me largo na cadeira massageadora que basta uma moedinha, cedida pela própria academia, e eu fecho os olhos e deixo os queridos para lá e tento relaxar um pouco.


Ao sair, um novo golpe: há duas caixas plásticas enormes próximo da entrada cheia, lotada de guarda-chuvas.


Estamos em época de chuvas de verão. Intensas, porém rápidas, passageiras. Os queridos chegam com seus guarda-chuvas, depositam ali na caixa plástica e depois de tanto tempo ali dentro, a chuva passou, o chão da rua já secou, o sol voltou a brilhar e eles nem lembram que choveu e muito menos lembram de pegar o guarda -chuva de volta.

Músculos tão trabalhados e a atenção… E olha que eu que comi um mundo de chocolate guarda-chuvinha na infância, não esqueço nunca meu guarda-chuva ali.


Volto para casa com a sensação de missão cumprida. Mas os olhares que recebo em meu próprio lar são ásperos: “mãe, como você consegue voltar da academia sem estar nem um pouco suada?”.



quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Pormenores

 Vamos brincar com a Chica 4





A palavra da semana é: pormenores


Minha frase:


Foi preciso aprender a enxergar os pormenores.


Achei tão especial a palavra escolhida pela Chica para esse brincar.

E antes de me concentrar para escrever, fui, como de hábito, ler logo pela manhã a “palavra do dia” disponibilizada no site de Gratidão.


Encontrei algo tão em sintonia com os “pormenores"!


“ Por muitos anos, a um grande custo, viajei por muitos países, vi as altas montanhas, os oceanos.

As únicas coisas que eu não vi foram as gotas de orvalho cintilantes na grama do lado de fora da minha porta.”


  • Rabindranath Tagore.  




Fiquei refletindo e acho realmente que é necessário um cultivo do olhar e do coração para que enxerguemos os pormenores da vida. Sejam minúcias da natureza, detalhes de um gesto, de uma fala.


Talvez alguns já cheguem a esse mundo abastecido de pormenores nos seus olhos. Os poetas, as poetizas acho que encontram esses pormenores com tamanha facilidade e os transbordam em versos.


Eu venho cultivando ao longo da minha vida colher esses pormenores que nos trazem tamanha beleza para nossos dias.


Já vivi muito no automático, na correria, por vezes caí na armadilha de olhar só para coisas ruins e difíceis, até que fui aprendendo com inúmeros “professores" na vida, na vizinhança, na feira, nos blogs… que os pormenores estão aí. É a generosidade da Vida em jeitos tão pequeninos.


Agora, quero saber como são os pormenores na tua vida?!



domingo, 22 de janeiro de 2023

Tristezas e belas delicadezas

 Domingo, dia 22 de janeiro.

Ainda é cedo, estou sozinha em casa com nosso cachorro. Levei-o para passear e sentei-me com o notebook para ler e escrever, antes de tomar café.


Encontro a notícia de que a AnaMi se foi, ela voou. Morreu ontem, 21, à noite. As homenagens seguem lindas e emocionam. Sem querer ser inspiração, ela inspirou muita gente.


Aqui no blog, recentemente eu escrevi sobre e para ela, na minha homenagem em vida.


Ainda haverá muita coisa linda que ela semeou e vai florescer!


Há um ano atrás, nesse exato 22 de janeiro, quem nos deixava era o mestre zen Thich Nhat Hanh, conhecido também por Thay.


Thay era imenso, oceânico, e definí-lo com palavras não faz sentido. Aliás, faz, se escolhermos palavras imensas como ele: paz, amor.


Foi algo incrível acompanhar a cerimônia fúnebre dele que foi transmitida e participada por milhões de pessoas ao redor do planeta.


E uma outra grande coisa que ele ensinou foi olhar para a morte como vida, como uma continuidade. Voltamos à terra e vivemos de tantas outras formas que não à física.


As monjas e monges e leigos de sua tradição, para homenageá-lo fizeram um documentário de beleza imensa. Tem tristeza, mas sabe aquela tristeza repleta de delicadeza, de beleza?



Vou colocar o vídeo, caso se interesse.

Thay também era um defensor e cultivador do diálogo inter-religioso. No documentário, é possível ver em um dos altares as imagens de Jesus e Buda juntos.

Thay sempre dizia: Jesus e Buda irmãos.






Finalizo com uma frase que diz tanto.

Finalizo com o coração cheio de gratidão por tudo o que AnaMi nos trouxe assim como Thich Nhat Hanh


“Se em nossa vida diária pudermos sorrir, se pudermos ser pacíficos e felizes, não só nós, mas todos lucraremos com isso. Este é o tipo mais básico de trabalho de paz.”


- Thich Nhat Hanh


Vamos brincar com a Chica 3

 A palavra escolhida para a nossa brincadeira com a Chica em seu blog Sementes Diárias é néscio.



MINHA FRASE:


NÉSCIO DA EMERGÊNCIA CLIMÁTICA, DESTRÓI SEU PLANETA.



FUTURAMENTE, QUERO TORNAR ESSA BRINCADEIRA COM A PALAVRA NÉSCIO ( A QUAL EU NÃO SABIA O SIGNIFICADO E FUI PROCURAR, E COMO É BOM APRENDER PARA NÃO FICAR NÉSCIO - DESPROVIDO DE CONHECIMENTO! ) ALGO SÉRIO A SER CONVERSADO AQUI NO BLOG - A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA.









quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Humanos Exemplares

 Existiam muitos tomates diferentes naquele estrangeiro, mais tomates do que a velha jamais conhecera em sua vida. Cada um deles servia para uma coisa diferente, saladas, molhos, sucos, sopas, doces, e havia um bem pequeno e suculento que servia para ser passado no pão. Ninguém parecia ter dificuldades em distinguir os tomates, todos agiam como pessoas que convivem com seis ou sete tipos de tomates desde sempre e isso era tão bonito de ver quanto alguns pontos turísticos."





O trecho destacado acima é da primeira leitura que fiz nesse 2023. Decidi que esse ano vou trazer aqui para o blog os livros que eu concluir a leitura, assim poderei fazer um inventário literário dos lidos do ano e partilhar um pouco dos meus gostos literários com os leitores do blog.


Humanos Exemplares chegou a mim através de uma newsletter e logo me prendeu a atenção porque a garota que falava sobre o livro era bem jovem e havia se encantado com a história de uma velha. Achei bem interessante esse fato e fui olhar o que mais eu encontrava sobre o título antes de comprá-lo.


“Poucos na atualidade dominam tão bem a carpintaria narrativa, a serviço de contar uma história que é, ao mesmo tempo, comum, pois de imediato nos reconhecemos nela, e única, pois cada personagem se destaca em sua singularidade. Um livro arrebatador de uma autora fundamental." Luiz Rufato


Pronto. Bastou essa fala de Luiz Rufato para eu desejar mergulhar nessa leitura. Alguém que faz carpintaria com as palavras, com a narrativa? Foi uma leitura que iniciei e não queria parar. E entre o cachorro que tem que passear, o mercado, o fogão, a roupa para pendurar no varal, corria para umas páginas que prendiam sem esforço.


Na newsletter que indicava o livro, a garota falava que era até difícil descrever como a autora conseguia usar o tempo todo a palavra velha sem ser indelicada, pejorativa.


E durante a leitura eu fui me encantando com a velha e sua filha que morava no oceano superior ( olha a carpintaria aqui ), maneira linda de dizer que a filha morava no exterior.


A velha passa seus dias no apartamento sozinha esperando o telefone tocar lá do oceano superior.

É um livro excepcional. A gente pensa nos filhos que saem para bem longe de casa, nos pais que envelhecem, na maneira como olhamos para um velho. O que há por baixo daquela pele fina, sensível e enrugada? Há histórias que certamente não vemos…


Vou destacar mais um trecho que me tocou e vou finalizar a postagem com uma fotografia. Queria que fosse de tomates diversos. Como não tenho nenhuma assim, vai de uma banca de feira num oceano superior!


“Aquela velha que ainda mal sabia como ser uma viúva teria adorado pegar emprestada na ocasião a neta de alguém, uma criança fêmea para quem pudesse funcionar como uma avó atarefada por alguns dias. Ali estava uma velha prestes a não tomar banho mais um dia, prestes a olhar no espelho e se chatear mais uma vez de que aquele reflexo não dissesse a verdade, não a mostrasse partida ou rachada, e sim inteira, com a pele no lugar."





Humanos Exemplares

Juliana Leite

Companhia das Letras

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

A beleza da vida

"O simples ato de começar a escrever abre as portas da memória, da percepção e do afeto". Luciana Pianaro


Durante o longo tempo em que fiquei afastada dos blogs, tive alguns, vários para ser sincera, momentos em que desejei escrever. Cheguei mesmo a abrir a página do editor no blogger, só que não havia nada a escrever. Era assim que eu sentia. Não tenho o que escrever.


Sempre há. É o que nos dizem os profissionais da escrita. Sempre há algo que pode ser escrito, sempre há coisas acontecendo.


Eles, os profissionais da escrita estão certos e também não tão certos assim. 

É fato que se estamos vivos, coisas estão acontecendo. Mas pode ser que, para a escrita não haja motivação suficiente, seja para um texto, uma poesia que nos tocou, uma fotografia.


E também é bastante verdadeira a ideia da frase que abre esse texto. “O simples ato de começar a escrever…”


Os sentidos ficam mais aguçados. Assim que algo nos perpassa e somos tocados, vem aquela vontade de partilhar através da escrita.


Desde que voltei a visitar os blogs, comentar, ler comentários, escrever no meu próprio blog, tem sido assim.


Fui tocada por uma reflexão tão bela e triste ao mesmo tempo, que já quero trazer para a partilha.


Falava-se da necessidade do mundo por poesia e imaginação diante de tantas dificuldades e vulnerabilidades.


"Então havia uma citação de Eduardo Galeano sobre tempos sombrios da ditadura no Uruguai.

Ele nos diz que no Uruguai os presos políticos não devem falar sem permissão, ou assobiar, sorrir, cantar, andar rápido ou cumprimentar outros prisioneiros, nem podem olhar para imagens de mulheres grávidas, casais, borboletas ou pássaros”.


Um professor é preso por “ter ideias ideológicas”e sofre tortura. Um dia, diz Galeano, o professor é visitado por sua filha Milay, de 5 anos. Ela traz para ele um desenho de pássaros. Os guardas pegam o papel e o destroem na entrada da prisão. No domingo seguinte, Milay traz um desenho de árvores. As árvores não são proibidas, e o desenho passa. O professor elogia seu trabalho e pergunta sobre os círculos coloridos espalhados nas copas das árvores, muitos pequenos círculos meio escondidos entre os galhos. “Eles são laranjas? Que fruta é essa?” Milay coloca o dedo na boca: “Shhh”. E ela sussurra no ouvido dele: “Seu tolo, são olhos. Eles são os olhos dos pássaros que eu contrabandeei para você” Galeano e a pequena Milay superam a morte e o desespero com novas possibilidades.


Nesse mundo, por vezes tão árido, você tem encontrado beleza?











sábado, 14 de janeiro de 2023

Outra vez, dois livros!

 


Escrevi anteriormente sobre dois livros iguais que tenho. E agora escrevo sobre outros dois iguaizinhos que moram na minha estante e, claro, tem uma história sobre eles!


Lá atrás, eu estava ouvindo uma palestra de um monge da tradição zen-budista e em certo momento ele começou a falar de um monge católico beneditino. Ele falava com tanto entusiasmo desse monge beneditino, com tamanha ternura que até parecia haver um brilho diferente em sua voz, tão grande a admiração do monge zen pelo monge de outra tradição.


Isso eu acho incrível: quando uma tradição reconhece a beleza de outra que não a sua.

Quando alguém de uma tradição espiritual pratica ali, na nossa frente, a virtude da humildade ao expressar admiração pelas virtudes de uma outra pessoa que espiritualmente tem uma prática diferente e existe essa abertura para o diálogo, isso é um ensinamento poderoso. 


Fiquei tão fascinada com isso que fui procurar saber mais a respeito do monge beneditino, o qual nunca antes eu tinha ouvido falar.

Depois de vencida a dificuldade do nome dele para poder pesquisar, cheguei a seu livro.


Naquela época fiz uma leitura rápida e mesmo descuidada, por isso em algum momento vou relê-lo.


Muito tempo depois, houve um desafio no Instagram da editora do livro - a Editora Vozes que, no dia da gratidão escolheria a melhor resposta para a pergunta: “A que você é grato?” E o prêmio seria o livro Gratidão, a alma da oração.


Eu fiquei empolgada em ver que eles estavam divulgando um livro tão especial, que mais pessoas iriam ler o querido monge beneditino e eu quis responder à pergunta não para ganhar o livro, pois já o tinha. Era mesmo para fazer público, volume, ali!


E como nem tinha a intenção de concorrer, não elaborei uma boa e pomposa resposta, fui escrevendo o que me veio à mente naquele momento.


“Eu sou grata pelos tradutores de livros. Por causa deles eu posso ler.”


A resposta vencedora foi a minha!

E assim chegou o gêmeo idêntico do meu livro!





Irmão David Steindl-Rass mantém uma comunidade de gratidão online, é um site riquíssimo em histórias, práticas, orações, inspirações, artigos escritos pelo próprio Irmão David que tem 96 anos, que tem um incansável trabalho pela paz e pelo diálogo inter-religioso.


A gratidão vai muito além de um muito obrigada, ou a própria palavra gratidão. É um jeito de viver, assim ensina o Irmão David.


O site está em inglês, como não domino o idioma, eu utilizo a tradução do próprio Google e funciona bem. Tanto pelo computador como pelo celular é possível colocar a tradução em português.


Grateful Living - site de Gratidão



quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Homenagem em vida

 Você conhece a AnaMi? Ana Michelle Soares?

Eu conheço e ao mesmo tempo não a conheço.


Foi minha filha quem me falou dela pela primeira vez e então eu passei a acompanhar o perfil no Instagram, e fui também “encontrando" com ela em outras mídias - entrevistas, podcasts.


É dessas pessoas que eu nunca irei conhecer pessoalmente, mas, pelo lado bom das redes sociais, eu a conheci e é precioso o que ela partilha e a maneira como o faz.


AnaMi foi diagnosticada com câncer metastático aos 28 anos. Hoje ela tem 40 e nesse caminho bonito e triste, cheio de dores e também alegrias, eu acredito que ela vem tocando o coração, a vida de muitas pessoas com sua fala honesta, franca misturando vida e morte num mesmo sopro.


Recentemente, ela escreveu uma mensagem que mobilizou amigos conhecidos e desconhecidos a fazerem uma homenagem em vida para ela.


“Os caminhos estão ficando cada vez mais estreitos e eu nunca prometi eternidade para vocês… no momento, o câncer é o de menos no meu corpo. Talvez, eu morra em decorrência de infecções pulmonares. Não fiquem tristes , eu não estou. Passei os últimos anos falando e aprendendo sobre finitude. Ela não me coloca medo, talvez curiosidade. Descobrir o Grande Mistério deve ser  interessante. E não se esqueça, estarei sempre por aí, dançando com o vento!”


É um mistério lindo a maneira como ela tocou inúmeras pessoas e eu sou uma delas.


Aprendo e espero seguir aprendendo a olhar para a finitude com o sorriso que ela sempre mostrou. 

É lindo de ver a onda de homenagens e os comentários cheios de gratidão.


Vou deixar abaixo alguns links caso você queira conhecer um pouco da luz linda dessa moça.


Uma palestra TED


Perfil no Instagram


Comentários inspiradores


Os livros dela:











Dois livros iguais

 A história dos dois livros iguais



Tudo começou com o passeio da escola, algo de que sinto até saudades: acordar bem cedo para não perder o horário, pois o ônibus não espera, ficar um tanto apreensiva pensando se a cria estará bem, um dia inteiro sem se ocupar de levar e buscar para as inúmeras atividades, até que chega realmente a hora em que o ônibus retorna e estamos todos lá, mães e pais e avós, até madrinhas e padrinhos a buscar nossos pequeninos cheios de novidades.


Levei um livro para a espera entre o horário marcado para a chegada do ônibus e o horário verdadeiro que ele iria estacionar. Sempre há trânsito, sempre há atraso no retorno. E assim foi.


Mas eu li e o tempo correu e quando me dei conta, lá vinha a menina correndo ao meu encontro, feliz e cansada e ao mesmo tempo contando sobre o seu incrível dia.


“ Mãe, olha só o que eu comprei, tinha uma lojinha lá, ah depois eu te mostro, segura a sacola, foi muito legal…


Dia seguinte, procuro o livro para dar  continuidade à leitura e onde foi parar?


Procurei por tudo, a memória fez birra e não quis colaborar, então fui fazer o trabalho árduo - voltei ao açougue, padaria, mercado e farmácia.


“Por acaso, será que vocês não encontraram um livro assim, assado?”


E como diz o dito popular, quando tá ruim ainda pode piorar. E não é que piorou?


Naqueles dias a editora do livro perdido anunciou o encerramento de suas atividades.


Do burburinho na internet eu me lembro muito bem.


“ Cosac naify? Como assim, fechar? E agora? Autores estão surpresos com o anúncio e não sabem para onde irão suas publicações.”


Livro perdido, editora fechada, autor desnorteado e eu com um buraco literário interior. Poxa, estava gostando tanto daquela narrativa.


Não perdi tempo e corri para encomendar outro mesmo título antes que acabasse.


Chegou, li, me emocionei, guardei na estante e achei melhor esquecer também o livro perdido. Aquilo doía.


Numa manhã ensolarada ( na verdade eu não me lembro se era uma manhã ensolarada, mas eu tenho certeza de que não faria faxina num dia chuvoso ) eu resolvi fazer uma faxina daquelas.


Daquelas de faxina de primavera, faxina de ano novo, faxina de visita que vai se hospedar em nossa casa. Não era nenhum evento assim memorável, era só mesmo uma disposição incrível para faxinar.


Então era bom aproveitar essa disposição toda!


Puxa, arrasta, varre, passa pano, separa para doar.


“Júlia, essa sacola aqui de papelão lá daquele museu, lembra? Pode por para reciclar?”


Iria direto para o saco dos recicláveis, mas durante o trajeto houve um barulho, um movimento lá dentro que me fez parar, abrí-la e, já sabem né?!


Naquela euforia de buscar a filha no dia do passeio, enfiei o livro na sacola que ela havia trazido e mesmo encontrando o livro, não consegui me lembrar do momento que fiz aquilo!


Bem, confesso que fiquei bem feliz em reencontrar meu querido livro, mesmo tendo o seu substituto!

E achei melhor ficar com os dois!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Vamos brincar 2

 


Vamos brincar com a Chica?!


A palavra da semana é: oportunidade


Minha frase:


Reconhece uma oportunidade para fazer o bem?



Para escrever esta frase, eu me inspirei, me lembrei de algo que ouvi sobre o Dalai Lama.

Diz-se que ele, ao acordar, reforça diariamente esse pensamento - “Que eu possa fazer o bem a todas as pessoas que eu encontrar hoje”.


A cada amanhecer somos agraciados com um dia inteirinho pela frente. Oportunidade de fazer o bem, certamente haverá.


Talvez a gente pense em fazer algo grandioso, mas, muitas vezes um cumprimento sincero, um bom dia com um sorriso no rosto é a oportunidade que temos de fazer o dia de alguém melhor.


Acho que precisamos apenas estar atentos e com o coração aberto. A oportunidade irá surgir!