Veio apressada a Zefinha, enxugando as mãos no avental quando a segunda rodada de palmas soava lá do portão.
Exclamou um nossa, levando as mãos ao rosto e apertou ainda mais os passos.
Abraçaram-se, apertaram as mãos. Pediu um minuto para dar a volta e abrir a porta da sala.
Enquanto fazia a meia lua pelo quintal, já punha-se a encontrar solução para o embaraço: primos de segundo grau vindos de longe a fazer-lhe visita no final do mês. Despensa vazia, pagamento só no dia 10 e de certo, ficariam para um café. Não havia pó o suficiente para cinco pessoas.
Já destrancando a porta, a dificuldade da situação foi se dissipando. Alegrou-se em rever os parentes, perguntar pela saúde da caçula que os fazia viajar tão distante e que o doutor já se mostrava animado e espaçara a próxima para dali a um ano.
Depois vieram as perguntas sobre o tio, a comadre, a seca, as chuvas e quando olhou de soslaio para a cômoda, o despertador anunciava hora do café. Na falta deste, hora de chá.
Levou a leiteira com água a ferver enquanto estendia a toalha e acomodava as visitas ao redor da mesa.
Coou o chá, serviu com pedaço de bolo de fubá feito na véspera. Tudo acomodado com mais conversa e sorrisos.
Assustaram-se com a hora, que pareceu voar. Levantaram-se apressados.
No portão, abraços, aperto de mão.
Se Deus quiser dali a um ano se veriam novamente.
Zefinha prometeu que da próxima vez teria café.
"Mas a gente espera o ano inteiro Zefinha, só para tomar o seu chá. Eita que chá como o teu ninguém faz. Deve é de ter algum segredo. A gente volta. Cê fica com Deus viu."
Colocou novamente o avental e foi arrumar a louça da cozinha. Estava feliz: nem perceberam o aperto da falta de café. Gostaram mesmo foi do seu chá!
Inspirei-me a escrever este pequeno conto depois que precisei fazer uma pesquisa na internet sobre chá e me surpreendi com o tanto de belas imagens de chás em saquinhos. Em sua maioria marcas importadas em canecas decoradas. Dei-me conta que muita gente, talvez os mais jovens nem saibam da existência do chá "de coar". O chá mate que hoje gourmetizou e foi parar em latinhas, garrafinhas, e caixinhas bonitinhas.
E então eu senti uma vontade danada do chá coado que tantas vezes me aqueceu, alimentou, emoldurou uma boa prosa. E fui comprar.
Difícil encontrar... Só fui achar num mercadinho pequeno, ali meio escondido, até com um pouco de poeira na caixa.
E o que se dirá sobre os chás feitos de um punhado de folhas colhidas ali no fundo do quintal?
Quase peça de museu.
Assim também me lembro de Rubem Alves falando sobre uma mulher que daria um ano de sua vida para Deus para que Ele, em troca lhe desse uma das noites de sua vida a beber do chá que a mãe fazia.
Se quiser ouvir essa história, ela está aqui.
Você tem alguma história com chá? Gosta de que tipo?
Beijo!