Datas são números nos calendários, isso apenas. Já defendi com com postura hirta e voz imposta esse pensamento que em algum momento da vida eu incorporei.
Certamente não foi na minha infância, pois, no calendário, na folhinha, aquela semana que antecedia o Natal, além de ter uma cadência lenta, despertava emoções que eu podia sentir dentro do meu estômago: ali se misturavam a alegria da festa, a ansiedade pelo presente que era absolutamente uma surpresa, e o medo pela visita de Papai-noel. Eu amei com intensidade aquela semana que transcorria lenta por muitos e muitos calendários.
Mas, como disse, em algum momento todo aquele espanto se perdeu e dei lugar a uma empáfia, desdenhando das datas carregadas de emotividade.
Sou grata à Vida; ela a grande professora que com paciência me ensinou.
O momento do aprendizado consolidado, realmente não sei.
A vida me convidou a olhar com olhos generosos e cheios de ternura para as datas que um dia desdenhei.
Meu coração hoje sente que as datas podem ser um convite à memória para que ainda drene dores ou que celebre o fato de ter atravessado a dor para se aninhar em recordações afetuosas, doces memórias.
Um mês da morte de nosso cãozinho, o Theo. Encontrar o número 25 ainda traz a ausência, ainda se faz necessário um esforço para que as boas memórias surjam. Elas, as boas memórias existem, precisam apenas acomodar as águas do luto para depois deixar emergir todas aquelas lambidas, rabinho abanando feliz!
Então vou aproveitar para falar das minhas emoções relativas à morte do pequeno cão.
Foi o primeiro cachorro da minha vida e eu bem sabia o tempo biológico estimado de vida da espécie.
Quando completou 12 anos, passei a ter um olhar de despedida para ele. Sempre falava para meu filho “ você se despediu do cachorro? pode ser a sua última vez com ele”.
Para mim era fato de que a finitude se aproximava, pela questão da idade, pois estava bem de saúde.
Quando aconteceu, eu me surpreendi com meus sentimentos de ausência.
Sou bastante crítica com os excessos que nós humanos podemos dar aos nossos animais de estimação: será realmente que o bichinho precisa de um pote de porcelana com friso de ouro para beber sua água? Basta entrar em um petshop que nos deparamos nitidamente com esses excessos, que fez até o Papa Francisco também trazer essa reflexão.
Mesmo sem excessos, a ausência se fazia presente. Foi então que olhando na internet, eu me deparei com uma fala muito delicada sobre esse assunto, onde a profissional discorria sobre ser o luto por um animal, um luto não reconhecido, não validado pela sociedade e assim não nos permitimos sentir.
Eu realmente me sentia estranha pelo que estava sentindo.
É preciso olhar para as modificações das nossas relações com os animais, impostas muitas vezes pelo nosso tipo de moradia. No meu caso, como de muitos outros, tivemos um cachorro em um apartamento, o que torna a convivência muito próxima. Claro que isso pode acontecer também em grandes espaços de casas, sítios, enfim…
Bem, não tenha receio a deixar uma lágrima escorrer pela dor e morte de seu bichinho, até os mais “durões" têm os corações amanteigados por esses focinhos tão companheiros?
Quer conhecer uma história assim? Aqui, Cão Pantaneiro.
A montagem das fotografias foi feita no dia de hoje, o primeiro mês sem nosso bichinho, pela minha filha Júlia. Uma maneira de homenagear, recordar e começar a preencher o coração com uma adocicada saudade!
Boa noite de sábado, querida amiga Ana Paula!
ResponderExcluir"Sou grata à Vida; ela a grande professora que com paciência me ensinou."
Gosto muito de ler textos assim como o seu... dá pra refletir sobre uma porção de pontos.
Sou imensamente grata à vida que Deus me conserva.
"A vida me convidou a olhar com olhos generosos e cheios de ternura para as datas que um dia desdenhei."
Com dezenove anos com dois empregos públicos e um filhinho recém nascido, na Universidade eu li um pensamento mito interessante: amar é babar retratinhos de filho depois de ter desdenhado os dos outros...
A palavra desdenhar nunca me saiu da mente.
Não só retratinhos, como outros pontos mais vitais aprendemos a não desdenhar
Meu primeiro cãozinho morreu nas vésperas do casamento do meu primeiro filho, eu não podia sequer curtir meu luto, nunca me esqueci do olhar dele se despedindo de mim. Muito triste, era um poodle.
Na realidade, foi a filha que ganhou do padrinho e, como e cuidava, pois ela era pequena, ele se apegou a mim demasiadamente. Foi doloroso demais!
O rostinho da sua filha diz tudo...
Tenha um abençoado final de semana!
Beijinhos
Bom dia, Ana.
ResponderExcluirEsse comentário vai ser complicado, e preciso cuidar para que ele não fique maior que sua postagem. Então, vamos lá.
Quanto a questão das datas, nunca fui apegado a elas. Tive uma infância onde não existia dinheiro para festas ou presentes, então apenas mantenho o sentimento relativo a elas guardado no coração (Natal, Páscoa e aniversários), mas sem comemorações. No fim das contas, é puro apelo comercial.
No tocante ao sentimento pela perda, nunca tive ninguém perto que tenha partido, assim como pais, irmãos ou filhos. Não sei descrever o sentimento que me tomará, mas me preparo para ele já faz tempo. Mas tive um companheirão, chamado Lilo, um gato preto que partiu apenas com 2 anos de idade, e até hoje, já passados 3 anos, ainda sinto dor, e uma lágrima corre. E a melhor coisa que carrego comigo é a auto-permissão para chorar, seja de alegria ou por tristeza. E sou um chorão de marca maior.
Em terceiro lugar, ao chegar ao final de sua postagem, me deparo com um presente. Um link com indicção para meu conto. Te conheço a pouquíssimo tempo, e este já é o segundo presente que ganho de ti e que me emociona demais. O primeiro foi teu relato sobre o acontecido quando você resumiu meu conto para sua filha. Te agradeço demais essa tua generosidade comigo. Muito grato, sempre.
E, para encerrar, quero te contar, em primeira mão, que estou preparando uma crônica para falar de sentimentos, mas não qualquer sentimento. Será uma exploração sobre sentimento dos animais. Te adianto que uma parte dela vai causar uma carga emocional forte. Creio que daqui uns 15 dias eu a publique, e espero sua crítica para essa crônica. Será de extremo valor para mim.
Perdão pelo longo comentário, Ana, mas não conseguiria fazer diferente. Um lindo domingo pra ti e família. Abraços.
Marcio
Poxa, esqueci de comentar. Depois do Lilo, meu gato preto, veio o Farofa, meu 50-tons-de-cinza. É um gato persa, com mais de 4 quilos, tanto de peso quanto de traquinagem. Fará 3 anos mês que vem, e é, também um companheirão. Isso quando não resolve avançar no meu pai, no meu filho, no carteiro, na funcionária da companhia de água e esgoto que veio fazer vistoria em minha loja. Entrar, ela entrou, mas sair... rsrs. Mas isso é outra história.
ExcluirAbraços, Ana.
Marcio
ANA, que lindo e tocante ! Tenhas razão quanto às datas, mas algumas delas, ainda que não queiramos, aparecem em nossas recordações Uma pena que nossos bichinhos precisam partir. Deviam ficar até o nosso fim, irmos juntos...! Eles são mesmo queridos, sinceros e não precisam de frescuradas, riquififis... só amor, muito amor e mais ainda amor! beijos, inté! chica
ResponderExcluirBoa noite Ana.
ResponderExcluirQue beleza de crônica com reflexão com dor e sem dor. Na primeira parte sobre as datas, que realmente desdenhamos. Datas que entendemos como exploração comercial no alto consumismo vigente. Datas criadas com objetivos claros para atender uma parcela da sociedade e frustrar outra. Mas quando vamos para o lado das perdas, as datas nos acompanham pela vida, cobre-se o luto e vem as lembranças vivas e muitas vezes, somos agraciados por ter estas boas lembranças como companhia. Gosto desta liberdade de falar sobre a finitude, não só dos animais, mas de entes queridos, porque em certo momento da vida as perdas nos rondam e aí amiga, haja preparação para entender. Uma coisa dita e perfeita, deixar os que amamos com uma palavra doce, pois pode ser a ultima vez e quantas vezes somos surpreendidos sem estas palavras.
Gostei.
Que a saudade seja superada com as belas lembranças lambidas.
Abraços e feliz semana Ana.
Pois, Ana, ainda não sei como fazê-lo ou o que fazer para acompanhar suas postagens. Já dei boas caminhadas aqui, pela tua casa... Minhas filhas, ainda pequenas, tiveram um cãozinho, um poodle, era uma alegria para elas e para a avó. Fugiu pelo portão aberto e não voltou... Ao apanhá-las uma vez na escola, abri a porta do carro, um cão sardento se aboletou no piso do banco do carona e foi um drama. Minhas filhas se apequenaram diante do cão, ele queria apenas proteção, o que verdadeiramente eu não poderia dar... E precisei retirá-lo do carro. E o fiz sem o maltratar. E não sei porque cargas d'água, a mais velha não chega perto de nenhum cão hoje... Foge literalmente... E as datas? Nem elas, nem eu, desdenhamos. Até porque elas cansaram de comemorar aniversário das bonecas... Havia sempre festa no quarto das bonecas...
ResponderExcluirGostei da simplicidade e das imagens... Também vi um cãozinho definhar e a tristeza da minha amiga até a hora da partida do cãozinho...
Bem, é bom falar dessas pequenas grandes coisas para que a vida não fique enfadonha e possamos cultivar a a amizade.
Abraços, Ana!
Olá, Ana.
ResponderExcluirAcabei de re-publicar uma fábula, lá dos idos de 2012, e isso motivado por você e sua filha. Depois do Cão Pantaneiro e a carga emocional enorme que ele traz, e que fez algumas pessoas se sentirem até amarguradas e entristecidas, me senti no dever de trazer um pouco de leveza. Então, se você me der a graça de sua visita, essa fábula é especialmente para você e sua filha, que foram as pessoas que mais se sentiram tocadas com o Cão Pantaneiro.
Grato, sempre, por sua generosidade. Obrigado.
Marcio