terça-feira, 7 de outubro de 2014

Luz e lâmpadas

O dia estava com uma luminosidade intensa que se permitia filtrar através da cortina de tramas alargadas, chegando ao interior da sala num suave tom alaranjado e acolhedor.
Marido recostou a cabeça em meu colo e naquele silêncio luminoso que banhava o sofá onde estávamos, vieram-lhe recordações.
"Olhando para o teto e vendo essa lâmpada estou lembrando da minha infância. Não tínhamos lâmpada; tínhamos lamparina à óleo."
Recordou o cheiro, a fuligem preta, ou causos de assombração contados pelo velho pai que, em meio às sombras formadas pela luz tremeluzente da lamparina, aumentava em muitas vezes o medo!

Eu me lembreidas duas lâmpadas do cômodo e cozinha onde morei com os fios pretos e vermelho expostos e que expunha também a nossa carência material.
Perguntei a ele se já ouvira falar da super lâmpada tecnológica de alta conexão. Achou maluquice!


Descrevi o que havia lido numa revista mediante a descrença dele.
"É uma lâmpada controlada pelo celular. Você aciona, escolhe o tipo de luz de fraca a intensa, e o mais especial: a lâmpada toca música. Selecione a música, a playlist e o som sairá lá de cima, lá da lâmpada!
Rimos muito ao pensar que, da lamparina, da casa de duas lâmpadas podemos hoje pensar em comprar a lâmpada que toca música.
"Ah! E serve também como despertador - programe o horário e ela acende e vai te despertar com a música no volume escolhido. Tudo por apenas 360 reais."

Dias se passaram e houve uma manhã em que eu estava ali no sofá, no mesmo lugar onde divagamos sobre as lâmpadas, porém, eu estava sozinha. Do céu nublado chegava apenas uma claridade sem força alguma. E foi nesta penumbra imposta pelo mau tempo que li esta frase:

"Em seguida contou que a primeira a acreditar nele tinha sido uma condessa que desejava em sua saleta uma luz idêntica à da aurora.
 - Não foi nada fácil - recordou."

O protagonista do livro encontra sem querer um artesão de lâmpadas, ou melhor, de minilâmpadas. Um velhinho de olhos lacrimejantes produz minilâmpadas ao gosto  do freguês.
Quero acreditar que este velhinho existe e um dia vou encontrá-lo para lhe pedir uma luz que absorvi lá nas Minas Gerais e ainda trago em mim.
Antes talvez, eu compre a lâmpada de alta conexão enquanto o velhinho não aparece e com suas mãos hábeis me agracie com esta luz:


Esse artesão que reproduz em minilâmpadas a luz da aurora ou do poente, eu não sei se existe.
Mas sei que existe um senhor que ao anoitecer, aperta o interruptor da primeira luz da noite dizendo "Boa Noite Cinderela".
  

8 comentários:

  1. Muito lindo este texto, escrito por quem possui uma luz anterior e que com letrinhas ilumina o fim de tarde.

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  2. Os artesãos não conseguirão se igualar ao senhor do 'boa noite Cinderela'_esse poente lindo que vemos na foto.
    Lindo o texto Ana_ de verdade as lâmpadas tem uma utilidade insubstituível nas nossas vidas,não podemos negar.
    deixo abraços

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  3. Nenhuma luz será igual aquela que chega dos céus. Que lindo te ler!! bjs, acabando de voltar,chica

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  4. Existiu!
    Ainda existe em mim e a cada vez que ascendo a primeira luz da noite repito seu dizer.
    S. Luis, luz há em seu nome.
    Luz em minhas memórias, nas suas, nas de seu marido, no entrelaçar delas, na sintonia com a história do livro.
    Sob e sobre a luz da tecnolagia, aplausos, espanto e meu encanto pelo simples, manual e pela sua sensibilidade e seu talento que desperta sentimentos.

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  5. Que lindo texto, Paula, leve e divertido.
    Há uma magia na luz, seja natural ou artificial.
    Por isso fico triste ao pensar que muita gente ainda vive sem essa magia, nesse nosso Brasil.
    Beijo.

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  6. Que lindo texto, Ana Paula!
    Memórias, poesia e tecnologia, tudo junto e misturado. Assim como a vida.
    a luz e algo que me encanta sempre…
    Bjs

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  7. A Ana Paula é uma pessoa iluminada. Só uma pessoa com uma luz especial dentro de si consegue escrever desta forma. Emocionei-me!
    Um beijinho.

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  8. Que lindo e poético texto.
    Há muita beleza e encanto nas histórias e no jeito da sua narrativa.
    Parabéns!
    Tens que escrever um livro. Aguardo o lançamento do mesmo.
    Beijos,
    Luiz Malvino.

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