sábado, 22 de abril de 2017

Diário

Ontem li num blog sobre escrever diários. O quanto a garota se tornou melhor e mais feliz escrevendo e relendo seus diários.
Tomo a decisão. Vou escrever também. Ainda que virtualmente. Isso aqui é um diário também.

Sábado, 22 de abril de 2017.

Acordo às 05h46min.
Filho tem aula.
É emenda de feriado, é feriado prolongado de Tiradentes que a gente lembra, mas eu tinha me esquecido que hoje é "descobrimento do Brasil".
18˚ é a temperatura lá fora. O céu está muito limpo e bonito. Promete ser dia de sol ( previsão minha mesmo).
Tenho que ser ágil. Café preto, duas castanhas do Pará e metade de uma maçã. Perguntei ao filho ontem antes de ir dormir.
Mando-o colocar blusa. Ele resmunga mas obedece.
Descemos: eu, o cachorro e o filho.
Seu amigo José já o espera; vão pegar um Uber. José veio só para esta cidade. Seus pais ficaram. José está sem blusa nesses 18˚. Um dia ainda arrumo um jeito de falar isso pra mãe dele.

Na minha volta, tomo o meu café, que na verdade é chá. GUEM MAI CHA. Assim que está escrito no pacote. É chá verde com arroz integral tostado. Aprecio demasiado.

No apartamento agora, só eu e o cão. Filha e marido têm casamento para ir à noite em outra cidade.
Achei cruel deixar o menino aos cuidados dele mesmo e ir também ao casamento. Fico. Ele tem aulas durante todo o feriado ( e agora tenho certeza Chica, que a melhor idade é a da Marina ).

Vou comprar jornal. São 9h da manhã e sol já aquece o ar frio. 15 min de caminhada até a banca.
Levo o cão. Compro o jornal e uma bala de hortelã.
Acho que a bala é saudade da filha.O jornal não é para ler; é para forrar o cestinho dos banheiros. Toda vez que ela vai comigo comprar o jornal aos sábados, pede bala de hortelã.
Volto chupando a bala e pensando nela e no casamento.

Ela me perguntou todo o protocolo da cerimônia. A gente fica sentado? Que horas levanta? Vai tocar música?

A menina tem doze anos e nunca foi a um casamento. No meu tempo acho que casavam mais porque nessa idade eu já sabia até as falas do padre.

Explico tudo com delicadeza e ela me devolve: "Obrigada, novelas, vocês me ensinaram tudo sobre casamento". "Ah mãe, sempre tem casamento no último capítulo".

Houve uma evolução muito grande nos casamentos.
Vou contar.
No convite que recebemos constava um site. Tudo deveria ser visto e resolvido por lá. Horários, trajes, endereços, lista de casamento virtual, fotos dos noivos e padrinhos.

Adorei a lista de presentes virtual. Fiquei um bom tempo olhando cada item e quando me decidi, ocorreu-me uma dúvida em relação a cor. Chamei marido, mostrei-lhe os outros itens, disse estar apreensiva em relação a cor porque de repente, nada naquela lista, nada parecia combinar e assim ele ligou para a mãe da noiva, que no caso, é sua própria irmã.

Expos com delicadeza minha dúvida sobre o ornamento das cores, que foi imediatamente sanada. "Mano, preocupa não com a lista,  qualquer coisa, porque aquilo é só pra dizer. Num vai os presentes para ela, só o dinheiro".

Odiei a lista de presentes virtual.

Não tive como conter as lembranças dos casamentos da minha infância. A mãe da noiva era a que mais sofria. A cada visita que ia à sua casa, ela os conduzia até a casa da noiva e lá acomodava os presentes em cima da cama.
Nos dias que antecediam o casório, já tinha presente no chão.
Como era gostoso olhar aquilo. Cinco panelas de pressão, quatro ferros de não vapor, jogos de prato duralex.

Decido que não gosto das listas de casamento virtuais e também que não vou mais escrever diários.
Tenho muito passado agora e esse passado se mistura com a bala de hortelã que eu volto chupando e assim o diário perde a característica de diário, enfim. 

Mas, antes de encerrar, só mais uma coisinha.
Ontem ( tá desculpa, o diário era pra ser sobre hoje ) eu peguei elevador com um pai e um garotinho.
O pai falou para o menininho me oferecer a bolacha. Ele virou o pacote em minha direção e eu agradeci recusando.
Fiz errado, devia ter pego, pois assim o garotinho já aprende que tem mesmo uma finalidade oferecer.
O pai se desculpou por ser bolacha de maisena. Eu disse que gosto de maisena e água e sal também.
Ele lembrou de "umas redondinhas que tinham pedrinhas de sal".

Claro que eu lembro, exclamei. Levei muito de lanche!
Eu ficava lambendo o sal, el econfessou. Acho que nem existem mais, pois agora fazem mal, concluiu.

Concluo assim que escrever diários é para os bons. Eu tô mais é para cadernos de memórias!

Feliz Dia do Descobrimento ( via Odebrecht ) do Brasil.

8 comentários:

  1. Ana Paula, tive que rir contigo e tive até vontade de chorar... As crianças crescem, responsabilidades chegam e nós que temos consciência não as abandonamos... Algo me dizia, enquanto te lia, que chegarias à conclusão que não farias diário... Não sei o motivo, talvez me espelhando...

    Os casamentos antes eram bem mais frequentes e eram só casamentos, não EVENTOS, onde até a cor da calcinha da madrinha é escolhida pelo protocolo nupcial, contratado a peso de ouro.

    As listas? Nem me fala saber que todo tempo perdido nas escolhas, cores, etc, é perdido, pois o que vai pra eles é a grana.

    Enfim, na tua lista de antes esqueceste dos vasos. Ainda bem que sempre fui desastrada e minhas pestinhas juntas se encarregaram de fazer a renovação, pois ganhei um montão deles.Era moda!

    Olhando agora o tamanhão a que cheguei aqui desse comentário, paro, não antes de dizer que nem as bolachinhas são iguais,rs...

    Adorei te ler! Que o casório seja legal, Julinha goste e se entusiasme a fazer tudo ,quando a vez dela chegar, sem tantos aparatos...

    bjs, lindo fds e VIVA O DESCOBRIMENTO e o Brasil se rosto tivesse, estaria de olhos tristes, chorando ao ver tantas lambanças...

    chica ( desculpa o jornal!)

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  2. Eu ia lendo e pensando A Ana é boa em memórias, em escrever crônicas, o teu diário ficou ficou lindo, mas bem além de apenas redigir as coisas de hoje as memórias, os laços, a saudade, os afetos, as grandes histórias entrelaçadas que leio aqui me contagiam. Amei. No poesia tem novidades

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  3. Rindo aqui porque penso que todas nós um dia pensamos em escrever diários.Você é boa,nisso.Eu ja comecei milhares e deixei no canto.Paciência que nao tenho, esqueço e prefiro que fosse mensal e nao diário. rs
    Gostei muitíssimo! Como é bom saber o que uma escritora/poeta faz durante o dia!
    Gosto mesmo é de ler,Ana.Pode continuar o diário que estarei aqui pra acompanhá-la.
    Beijinhos e ótima semana e ótimos dias com seus adolescentes.

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  4. Escrever um diário é muito interessante. O pior é quando temos uma vida rotineira...
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  5. Amei teu diário, tive que rir, muito legal. Também gosto de bolacha maisena...
    Bjos, Lú.

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  6. Continue a escrever o seu diário porque os seus olhos sabem captar cada detalhe que para os outros podem ser sem importância. Adorei os seus comentários sobre casamento e, por coincidência, estes dias vimos várias fotos de um casamento "de realeza". Neste, a futura rainha da Inglaterra ajuda com o vestido da noiva, é a responsável pelo cortejo das crinças, aponta o dedo para o nariz do filho e dá uma bronca, enquano a pequena lambe a cestinha de flores. Tudo normal, estilo pão com manteiga, simples e sem a correria das mocinhas do cerimonial a vigiar, comandar e dar ordens. Todas vestidas de preto. Sem dezenas de fotógrafos com os suportes de iluminação, deitados no chão para ter um angulo melhor. Enfim, menos é mais. Sempre.

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  7. Olá, querida Ana Paula!
    Bom vc escrever e é seu forte, creia...
    Passando pra matar a saudade visto que me ausentei bastante ultimamente para dar atenção aos familiares...
    Tenho visto muito mais união estável do que casamento nestes tempos...
    Oxalá eles durem!
    Bjm fraternal

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  8. Acho que meus diarios nunca foram diarios mesmo quando eu escrevia diariamente, pq era sempre essa confusão de passado e presente kkk

    Ah, sobre casamentos... eu só vou neles quando sou madrinha pq não tem escapatória, meio que fica obrigatório você ir kkkk Também achei triste essa lista eletrônica, quando as meninas casaram eu me preocupei tanto com o presente, queria que elas lembrassem de mim quando olhassem para eles e do quanto eu desejei coisas boas para elas quando elas se casaram. Dinheiro não deixa memórias!

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