sexta-feira, 23 de agosto de 2019

A avó-bomba

Homem-bomba eu sabia que existia, agora, avó-bomba? Fui pega totalmente de surpresa ao descobrir.

Deu-se da seguinte forma o meu conhecimento:

Numa manhã qualquer, eu adentro o elevador no andar em que moro, o décimo-sexto. Estou só. Logo no andar abaixo, um casal discutindo ( aqui faz-se necessário saber que essa discussão beira à uma briga ).

Dizem que certas emoções, como a raiva por exemplo, nos deixam cegos.

Bem, eles não me viram ali no canto. Nem um bom dia, nem um sorriso ou menear de cabeça. 
O jovem homem, era alto e forte e segurava em seu grande braço direito seu bebê de oito meses ( ouvi isso durante a discussão ). A jovem mulher, esposa e mãe e nora, segurava uma sacola na dobra que se faz ali na região do cotovelo e conseguia gesticular com ambas mãos enquanto falava.

"Ele não vai ficar na sua mãe e ponto. Não quero saber dela dando bomba para o menino".

A mulher discutia, o homem tentava amainar as coisas colocando docilidade nas palavras.

"Amoooor, que bomba? É só um suquinho? Você acha que minha mãe faria mal ao nosso filho?"

"Não quero saber, lá ele não fica, ele não vai tomar bomba que ela faz".

Desci me esgueirando entre as lanças afiadas e os corpos deles, sem saber de dizia um tchau e fui calada mesmo e assim que saí do elevador, já tinha espadas lá dentro tilintando e eles foram para a garagem brigando.

Enquanto eu estava na rua, fiquei com aquele diálogo bombástico na cabeça. 

Algum tempo depois, vi na tv uma pediatra falando sobre alimentação de bebês e ela usou esse mesmo termo - bomba, referindo-se ao suco.

Eu queria ter escrito sobre a avó-bomba no dia dos avós, 26 de julho.

Não deu e foi bom assim. Hoje inspirei-me a falar sobre as avós-bombas depois que li um trecho de um livro.

A narradora queria muito que o filho tivesse conhecido a sua avó Juju, que seria a bisa dele.
Então ela passa a descrever essa avó para que ele saiba como ela foi encantadora.

"Ela foi  professora durante a juventude - não por escolha própria. Queria mesmo era ter sido pintora, mas o pai dela nunca permitiu. Na década de 1930, assumiu uma turma de alunos da escola pública, os mais atrasados nas notas. Com o primeiro salário comprou livros, cadernos e roupas para as crianças. Não tardou que essa turma virasse a primeira." *

A avó Juju cultivava um belo jardim.

"Eu me lembro de um dia em que fomos posar para uma foto em frente a uma árvore - vovó, minha mãe e eu. Depois de várias tentativas em vão, desisti de subir na árvore. Quando olhei, Juju já estava lá em cima. E já passava dos seus 80 anos."

Eu fui me encantando com essa narrativa, com esse olhar tão carregado de amor por uma avó.

E fiquei pensando na avó-bomba. Quais histórias talvez seu neto seja privado de conhecer por causa de um suco?

Pensei em todas as avós que acordam cedinho e vão para a feira buscar as laranjas-limas mais bonitas, antes que sejam apertadas por muitas mãos se forem depois da 10h.

A ciência e o conhecimento são maravilhosos com suas descobertas para o nosso bem estar. Um pouco de flexibilidade nesse caminho também faz bem.

Quantos bebês não tomaram seus suquinho rigorosamente às 10 da manhã e hoje estão aí no mundo fortes e saudáveis?

Talvez uma conversa amorosa com a avó-bomba para que ela insistisse me frutas picadinhas.
Talvez uma flexibilidade ao pensar no amor naquele suco feita por uma avó que é só amor pelo neto?

Queremos um mundo de paz, de não destruição mas estamos armados em nossa alma.

Nossa rigidez está nos privando de ter o que mais queremos - o amor.

Estamos fazendo tempestade em copo de suco.

Abençoadas sejam as avós-bomba, ou melhor, as avós-amor.

*para Francisco livro de Cris Guerra

6 comentários:

  1. Arre, que nojo que dá! Mas um dia, essa sirigaita há de precisar da avó bomba, isso é certo! Quanta frescura,quanto mimimi! Não suporto mais essas coisas.Meu saco com essas palhaçadas foi-se pelo ralo,rs...Aliás, estou agora diante do marzão e voi ali na janela ne acalmar, pois essa leitura fez vir à tona CERTAS confusões... Fuuuuuuuuuuuuuuuui! bjs, tudo de bom,chica

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  2. Oi Ana Paula, que triste essas situação....Talvez uma boa conversa resolvesse...
    Achei lindo o que você disse, que por causa de nossa rigidez estamos perdendo o AMOR!
    Adorei saber de sua avó Juju...que linda...
    Bjs

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  3. Ana, penso exatamente como você...
    Como é triste esse cenário, que infelizmente não é raro...
    Penso que o amor jamais faça mal a alguém, mas o contrário sim... A raiva, as brigas por impor verdades, as discussões e lágrimas por tudo "que parece ser o melhor", deixa de ser simplesmente por trazer tristeza e angustias...
    O equilíbrio e a conversa é sempre o melhor caminho, inclusive ser menos rígidos também... Creio que faz um bem danado para o coração, ter leveza nos dias...rs
    Tudo que precisa brigar e gritar para acontecer, acredito que perde um pouco o encanto e beleza da vida, por melhor que seja...
    Bela reflexão!
    Amei demais...
    Beijos doces,
    Ju

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  4. As discussões por causa das crianças não levam a lugar nenhum… E quanto às avós eu, que não conheci nenhuma, entendo que querem para os netos o melhor do mundo. Gostei muito de a ler Ana Paula.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  6. Ah, se ela soubesse a riqueza que é conviver com os avós, independente das bombas, o amor é maior que tudo! Eu sinto tanta saudade e sinto não ter vivido mais com as minhas! Avós foram feitas para serem errantes, que guardam segredos e agradam sem exceções! O que é um suco perto de tantos abraços e tanto olhar de doçura delas?
    Tua reflexão me deixou com um nó e uma saudade no peito, mas também com uma gostosa nostalgia! Obrigada!

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