terça-feira, 5 de novembro de 2019

Páginas e lágrimas

Eu me emociono ao ler livros, adentrar a vida, a história das personagens. Chorar é raro.
Aconteceu com livros que li sobre os campos de concentração, um choro de apertar mesmo o peito.

Mas eu quero falar de um livro que finalizei a leitura recentemente. Chorei em cada página. Chorei o livro todo.
Um choro de alegria, de encher o peito de um calor confortante!

Quero mostrar-lhes a foto que está lá no finalzinho do livro, na chamada quarta capa:


Dois líderes espirituais.
Dois ganhadores do Nobel da Paz.
Dois amigos. Dois irmãos de tradições diferentes.

Olhar para esta foto já me emociona.
Não é uma foto de dois velhinhos fofos dançando meio desengonçados.

Arcebispo Desmond Tutu e Sua Santidade O Dalai Lama.
Ambos dentro de suas tradições espirituais fazem votos, ou juramentos. Algo de muita seriedade e que deve ser rigorosamente cumprido.

Sua Santidade o Dalai Lama tem o voto de nunca dançar.
E aqui, numa demonstração de pura amizade, amor, ele simplesmente quebra o seu voto e dança para acompanhar o Arcebispo Tutu.

Tutu igualmente quebra um voto sagrado por ele feito. Na tradição cristã, a eucaristia é oferecida para cristãos e ele celebra a eucaristia e a oferece ao Dalai Lama que o tempo todo mantém suas mãos em prece no mais profundo respeito pela religião do amigo.

Esse livro, Contentamento, nasce do desejo de ambos líderes e amigos, de comemorarem seus aniversários juntos num encontro de uma semana e oferecer ao público o presente desse encontro - o próprio livro nascido das longas conversas entre eles. Tudo foi filmado para que posteriormente se transformasse no livro.

As dificuldades foram inúmeras. Primeiramente seria o Dalai Lama a ir para a África do Sul, porém o governo africano foi alertado pelo governo chinês que, caso concedesse o visto de entrada para o Dalai Lama, sofreria sérias retaliações ( esse também é um dos motivos pelo qual o Dalai Lama não se encontra com o Papa ).

Então o Arcebispo teria que ir à residência do Dalai Lama na Índia. 
Ele estava passando por um tratamento de quimioterapia para o câncer de próstata e mesmo assim, ele foi.

O livro descreve com uma delicadeza, uma ternura, cada momento deles, desde a chegada ao aeroporto até a partida.
Frases como " O Dalai Lama segurou a mão do Arcebispo entre as suas" "Tocaram suas testas e assim ficaram demoradamente".


Num determinado momento, eles entram no assunto "morte". E o Arcebispo diz - "Ah mas para você não há problema, você tem a reencarnação."
Ao que o Dalai Lama responde: "E você tem o Reino do Céu, me conte, me ensine, o que é o reino do céu, o que você espera encontrar lá?"

Nenhum dos dois tenta convencer o outro que está errado. Simplesmente há um profundo respeito pela fé e crença do outro.

Não argumentam, não discutem se aquilo existe ou não faz sentido. Apenas se ouvem e mostram interesse cada um pela crença do outro.

Não é preciso concordar para respeitar.

Lindo, lindo, lindo.

Eu fico pensando o quanto poderíamos aprender com eles...
Não conseguimos conversar com quem pensa diferente de nós. Se adentrarmos o campo da política então... resulta em rompimentos de amizades, brigas em família, só discórdias.

Para tantas outras coisas, será que conseguiríamos abrir nosso coração e ouvir sem julgar?

Esse livro me tocou profundamente. É uma escrita leve, as lágrimas são de alegria, o riso vem fácil - 
"Você Dalai Lama tem um inglês tão ruim, mas tão ruim que eu não entendo como pode lotar estádios de gente para te ouvir. Ah! ainda quero ser famoso como você! "




8 comentários:

  1. Mais uma leitura qu8e aquece nosso coração aqui,Ana Paula! Adorei todo o texto, a foto dos dois com testas encostadas e as lições que desse livro ficam e tão bem soubeste passar...Seria maravilhoso que todos nós , humanos normais, tivéssemos essa capacidade de conversar polidamente com todos, independente de suas convicções ,sabendo a tudo respeitar! Adorei e já fui ver o livro, guardei o nome... beijos, valeu a dica! chica

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  2. Boa noite de paz, querida amiga Ana Paula!
    Por feliz coincidencia, hoje ganhei um livro interessante de historia real: A mulher do padre...
    Vou ler ansiosa e sei que vou chorar tambem como voce ao ler o que nos indica que deve ser espectacular:
    "Nenhum dos dois tenta convencer o outro que está errado. Simplesmente há um profundo respeito pela fé e crença do outro."
    Vou tentar achar para ler pois, de antemao, sei que vou gostar e me emocionar.
    Muito obrigada pela indicacao.
    Tema espectacular, pelo visto.
    Seja feliz e abencoada!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  3. Olá Ana Paula!

    Gosto muito de ler. Sempre viajo nas páginas do livro, e sempre choro. Sou assim: Choro e rio
    com a mesma facilidade.
    Me vejo em muitas das personagens, fictícias ou não.
    Ler, é enriquecer, além do vocabulário, a alma.

    Achei lindo o texto e a história.
    As pessoas deveriam aprender com esses sábios, o que é o amor, o respeito,
    a humildade.

    Abraços, Deus esteja sempre com você!

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  4. O respeito é o que de mais nobre podemos oferecer! Que livro encantador!
    Amei ler tuas impressões!

    Abraço!

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  5. Oi Ana Paula,
    Que sintonia, acabei de comprar este livro!
    Agora, com seu post ele vai passar na frente dos outros...
    Já estou emocionada!
    Bjs

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  6. Que lindo Ana, que gracinha os dois. Vemos sinceridade e simplicidade nesse encontro...
    Pelas fotos percebe-se!
    Outro dia estava falando com uma amiga "são nas diferenças que crescemos, se concordarmos com tudo todo o tempo, não temos crescimento emocional, cultura ou espiritual. As diferenças nos fazem crescer"

    E acho isso também. Embora fiquemos chateados quando não concordam com a gente, a riqueza está aí... em escutar o outro, em ver seu pensamento diferente e mais ainda, em abrir a cabeça e o coração para uma opinião diferente e quem sabe aderir a ela, sem fechar tanto a mente ao novo...

    Mas claro, tudo tem que ser com respeito, sem imposições, insistências... apenas mostrarmos que temos pensamentos diferentes, mas que respeitamos o modo do outro pensar...

    Acho que entre os dois houve Simplicidade... Eu adoro todo o contexto dessa palavra, pq ela engloba tanta coisa...
    E é essa simplicidade que falta no meio da gente... ser simples... com pensamentos, gestos e atitudes...
    Simplesmente simples....

    Beijos e obrigada por compartilhar essa riqueza!

    Tê e Maria ♥

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  7. Há livros assim, que nos emocionam, que tocam o nosso coração, ávido de generosidade. Assim foram Desmond Tutu e O Dalai Lama. Dois homens que resistiram ao ódio e às vicissitudes da vida. Dois homens que também me emocionam…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  8. Bela reflexão e pontos importantes, Ana!
    "Não é preciso concordar para respeitar"
    Essa frase parece fácil lendo apenas, mas na prática é bem difícil e eu venho exercitando isso dia a dia na minha vida, na convivência, as redes sociais, etc...
    Não é preciso questionar, enfrentar, julgar, comparar, podemos simplesmente ouvir e respeitar, ou ouvir e tirar coisas boas, fazer perguntas que elevam e não diminui...
    Faz décadas que a gente é doutrinado a rebaixar, ignorar ou ridicularizar o outro que é diferente de nós, e hoje aos 40 anos de idade, estou reaprendendo a viver bem!
    Amei o post, amo ler, principalmente leituras que me tocam a alma... Sou muito chorona também, me identifico com você, sou emotiva e gosto quando a leitura trás bons frutos...
    Beijos doces,
    Ju

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