sexta-feira, 21 de julho de 2023

Cidade 22



São Paulo capital. Uma cidade que poderia perfeitamente mudar de nome.
São doze milhões de pessoas nesta cidade. Uma cidade que tem a população de países inteiros. Uma cidade que poderia passar a se chamar Cidade 22.

Esqueçam da política que o número evoca.

22 é a nova maneira de se viver, de morar nesta cidade.
22 metros quadrados.

O recorte de um anúncio de empreendimento imobiliário que fotografei é um achado, considere-se feliz de poder morar em 23 ou 34. A grande maioria dos espaços fica entre 18 e 22 metros quadrados.

Se você mora em São Paulo ou se veio a passeio recentemente, já notou que a cidade foi para o chão e sobre as casas demolidas erguem-se o que chamamos de "studios".

Sou paulistana, nascida e criada na cidade de São Paulo, morei por algum tempo em outras cidades, outros estados.

Desde criança ouvia e via, a cidade sendo descrita como a "Selva de Pedra". Era possível ver de lugares altos, a cidade ao longe se destacando com seus inúmeros prédios, porém isso se concentrava no centro da cidade.
As casas eram a maioria das construções.

No decorrer dos meus quase cinquenta e dois anos de vida, Sampa sempre esteve em mudanças, inovações, obras, num ritmo em que era possível se acostumar, se adaptar.

O que ocorreu durante e no pós-pandemia é algo assustador e alarmante.

E muito curioso também...

Quando a pandemia aqui chegou, a maioria dos paulistanos passou a viver estritamente dentro de seus apartamentos que na média vão de 65 a 72 metros quadrados e viu-se o quão desesperador, o quão pequeno era estar com crianças, animais e adultos dentro desse espaço. Vi fotos de pessoas com o braço esticado na janela para pegar um pouco de sol.

Quem podia, ia para o interior. As reportagens falavam da necessidade de espaço.

Nesse tempo de Lockdown, eu saía às ruas com o sentimento de estar fazendo algo muito errado, para levar o cachorro a passear ( a se esvaziar, na verdade ) e numa dessas vezes, vi surgir uma placa de "vende-se" em uma casa.

Fotografei e liguei por mera curiosidade. Era uma casa de fachada muito estreita mas que me parecia tão bonita que liguei para saber o preço.

Além de um vídeo lindo que o proprietário me enviou ( a casa revelava-se incrível por dentro da fachada estreita ), conversamos por um bom tempo e ele me contava que estava recebendo muitas propostas porque as pessoas se deram conta, por conta da pandemia, que precisavam de espaços maiores para se viver - o escritório e um quintal eram essenciais. Ele me afirmou que a pandemia mudaria o conceito das moradias. Eu também acreditei nisso.

O que comecei a ver em seguida, me deixou confusa e causou estranheza: as pessoas não sofreram em seus apertados apartamentos de dois quartos com uma pequena varanda?
Como então começaram a se demolir casas, vilas de casas inteiras e construir apartamentos de 20 e poucos metros quadrados?

E o mais complexo dessa história toda... Vende, e vende muito e tem cada vez mais procura e assim cada vez mais empreendimentos.

Não consigo entender.

As casas antigas foram ao chão. Um novo empreendimento moderno e arrojado é lançado - com o mínimo espaço possível e o máximo de preço.

Essa é a tendência imobiliária "entulhar a galera em quartos minúsculos, como se a gente não precisasse de espaço. E vendem isso como o futuro da humanidade" - palavras e reflexões de Taize Odelli.

O texto já está extenso demais, então voltarei ao assunto de outra feita. Viver num espaço do que seria apenas um cômodo, de maneira moderna, minimalista, a sensação do momento, uau, moro num studio, me vem à memória o livro O cortiço. 
Deixa para depois.

Ah, só para constar, a casa linda que por vídeo, estava à venda por dois milhões e trezentos mil reais. O proprietário me perguntou quanto eu tinha para nos negociarmos. Nem os últimos dígitos caro senhor. Já foi vendida. Que seja feliz o novo proprietário porque espaço ele tem de sobra!

E não esquece de me contar se aí na tua cidade essa moda de espaços minúsculos para moradia já chegou.
Beijo e bom final de semana!

 








9 comentários:

  1. Ana Paula, como tu acho incrível essa mudança de cenário e comportamentos. Aqui também temos aptos. chiquetosos, valendo milhões até e no entanto, além de área gourmet, piscina disso, daquilo, lago artificial etc, a convivência se dará num aglomerado, como verdadeiros pombais.
    Imagino os barracos na hora da criançada em férias nas piscinas e as brigas dos seus pais...
    Fora isso, grandes mansões antigas demolidas para no lugar, fazer render o terreno e vários studios de no máximo 30 m² que vendem como pão 1q

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    1. vendem como pão quentes... Cabe a nós, achar nosso cantinho enquanto de espaço precisamos. Chegará uma fase em que até nós ficaremos bem em uma cantinho ,mínimo... Um flat, tipo hotel ,por exemplo...Até que com tudo incluído, arrumação, internet, condomínio, fazendo as contas, é bom negócio.


      beijos, adoro te ler ,sempre boas colocações! chica ( aqui com Marina ao lado que me faz pensar, como será tudo isso,quando for adulta!)

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  2. Boa tarde de paz, querida amiga Ana Paula!
    Cada vez mais estou procurando algo bem pequeno e é difícil por aqui.
    Para que algo grande para uma pessoa só? Estou mudando sempre até encontrar.
    Limpar dá muito trabalho e, quanto menos espaço, melhor em meu caso. Ajudante do lar está bem caro... vou diminuir despesas.
    Os kitnets têm sido opção de muitos.
    Quanto ao seu post, entendo que, para famílias maiores, está difícil, em certas cidades, encontrar algo viável.
    Tenha dias abençoados!
    Tenha tido um feliz Dia do Amigo!
    Beijinhos
    Por aqui, tem muitos ainda.

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  3. Ana, São Paulo me assusta! Quando a gente pensa que não aparece uma coisa nova mais desumanizante do que a coisa antiga... e olha que as coisas antigas de São Paulo em si já deixam a pessoa desacostumada aturdida.

    Essa ideia desses studios me causam claustrofobia e horror! Nasci e vivi em uma favela, então a vida em um espaço diminuto não é estranha, pq as residências nas favelas em muitos casos são assim, apertadinhas, construídas uma em cima da outra em uma confusão onde o conceito de privacidade não existe... por experiência própria, posso dizer que isso não é legal. Mas, na favela a falta de privacidade é compensada com muita solidariedade, amizade, parceria. Nós podemos contar uns com os outros para muita coisa.

    Esses studios são, claro, muito mais "higienizados" do que a periferia, devem ter várias normas de convivência, mas duvido muito que gerem a cumplicidade e a solidariedade que faz parte da vida na favela. Esse povo vai existir dentro de um lugar minúsculo, se aborrecendo com o trabalho, a vida, os vizinhos colados parede com parede e vão adoecer e não vai ser pouco. Eu fico olhando assim, absurdada! Pessoas cultas, estudadas que tem 2500 dinheiros para investir em habitação optando por viver assim... enquanto outras tantas pessoas permitem que isso aconteça e outras naturalizam essa coisa anti-humana!

    Ah, meu sonho é uma casa linda em um lugar bom, com muita luz. Sem fios elétricos na janela. Estou aqui sonhando com essa casa de milhões da qual tu contou e desejando que quem comprou seja feliz nela.

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  4. Pois bem Ana, estamos caminhando para o modelo japonês de moradia. Espaço reduzido cada vez mais e novos modelos de uso do espaço com grande trabalho para arquitetos e decoradores. Moveis que se recolhem quando não usados e assim vão se amontoando as pessoas. Sampa é gente demais e cada vez mais a procuram atrás de oportunidades. Já não só os novos baianos, é gente de todos os lados e mundos. Aqui em Salvador entrou pelo processo de liberar construções verticais na orla, parece criar uma nova Avenida Copacabana e logo a cidade deixará de respirar num futuro não longe. As áreas de uso estão reduzidas por aqui, apesar de números de quartos minúsculos aumentarem. Atraídos pelo números de quartos as pessoas não observam a área e depois se sentem lesados e decepcionados. Enfim é um processo, que fere bastante o espaço que precisamos, mas que atende a demanda crescente amiga.
    Boa observação e reflexão.
    A pandemia passou e pouco se aprendeu e não sabemos o que será, se uma nova vier.
    Abraços e feliz fim de semana

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  5. Cada vez se paga mais pela vista exterior e se recebe menos do interior das moradias. Pequenas, exíguas, e tão caras.
    .
    Saudações poéticas. Feliz domingo.
    .

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  6. As moradias na cidade em que mora, ainda são espaçosas, com quintais para crianças e animais brincarem, mas já tem alguns prédios com apartamentos minúsculos.
    Abraços fraternos!

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  7. Olá, Ana.
    Esse teu texto me vem em um momento que fiz justamente o contrário. Depois de duas cirurgias no mesmo joelho e precisando desacelerar, acabei optando por me recuperar em uma pequena chácara aqui na região metropolitana de Curitiba. Muito espaço, passarinhada cantando, verde por todos os lados e sem contato algum com tecnologia. Celular e internet? Sem chance. O que tinha era uma televisão pequena e um velho rádio. Foram dois meses da mais pura descontaminação.
    No entanto já morei em cada "apertamento", que nem gosto de lembrar. Em Campinas, dividi um apartamento de 30 m² com um amigo, e foi um pesadelo. Hoje, resido em uma casa espaçosa e com quintal, e não pretendo voltar a me apertar de forma alguma.
    Aqui em Curitiba já teve a onda dos grandes apartamentos, que foram reduzindo, depois os flats, os lofts, e hoje não está muito diferente de Sampa. Muitas pessoas optam por morarem sós, e isso vem modificando e acelerando o mercado.
    Afff... o coment já tá enorme. Melhor me segurar.
    Grande abraço, Ana, e uma linda semana pra ti.

    Marcio

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  8. Ah, gosto de espaço e luz, não sei se aguentaria muito tempo num espaço pequeno. Até talvez, mas teria de ter quintal, ou jardim, ou pátio envolvente logo ali à porta.
    Beijinhos

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