terça-feira, 13 de outubro de 2015

Precisamos falar sobre

"Eu comi a tua mãe".
No sentido mais chulo, baixo, pejorativo, desrespeitoso, depreciativo que esta frase tem.

Meu filho entrou em casa, chegando da escola, com o rosto transparente de quem havia chorado e muito.
Carreguei na entonação do meu "tudo bem?"na intenção de que ele me falasse o que havia ocorrido. Estava nítido que algo havia ocorrido.
"Vou procurar outras pessoas para tomar lanche, mesmo que eu fique com a Júlia e com os amigos dela".
Respirei fundo para encontrar calma. Não seria fácil conduzir aquela situação; mas seria extremamente necessário.

Há algum tempo ele vinha se esquivando de participar de enfrentamentos de rima com os colegas de sua sala. 
Até que o intimidaram e ele foi parar no centro de um grupo.

Até aí, eu para amenizar o clima de tensão, tentei uma brincadeira dizendo que ele que não ligasse ser ruim em rimas, eu também sou, rimar não é para mim, concluí sorrindo.
Ele então me explicou: tratava-se de rimas e jogo de palavras do mais baixo calão, onde os adolescentes desafiam o seu oponente dizendo que "comeu a mãe" e a partir daí, o nível despenca entre um falar o pior possível da mãe do outro.
Meu filho começou a chorar lá no centro da roda porque disse que não conseguia ouvir aquilo e nem retrucar no nível esperado.
Saiu sob risadas irônicas e gritos de neném, maricas, filhinho da mamãe e outros.

Ponderei muito em trazer para cá assunto que nauseia. Assunto que enfeia o blog. Mas achei importante.
Muitos de nós, eu diria até que a grande maioria, não tem ideia do que está se passando nas escolas. É um submundo, um mundo das trevas em relação ao que a gente acha que é , que deveria ser, o que a gente ensina.
E aqui não cabe a distinção pública/particular. É generalizado.
Nós nos espantamos quando vemos no noticiário que um jovem professor morreu após ser espancado; briga de faca entre duas garotas; vídeos, fotos e difamações que um colega faz sobre o outro.
E achamos que tudo isso está longe de nós, de nossas famílias.

Eu não sei onde estamos errando, mas está ocorrendo uma banalização de tudo, dos sentimentos das pessoas, do respeito que deveria haver e tudo isso ocorre antes ou depois das aulas de Filosofia, Ética e cidadania, só para citar as que mais têm facilidade de abordar esses assuntos.

Por algum momento, eu hesitei. Será que não falam isso sem maldade, sem pensar; será que eu estou dando muita importância a uma "travessura" de adolescentes?
Levei minha indagação até meu marido que assim me respondeu:
"Quando éramos moleques e fazíamos as travessuras, as nossas brigas, havia um código que nunca precisou ser lembrado ou falado - família e especialmente a mãe, a mãe era território sagrado.

Apreciei a confiança que meu filho tem na sua família ao nos trazer esse acontecido. Os valores que sempre procuramos transmitir ( que na adolescência a gente questiona se fez bem feito, ou acha mesmo que eles ouvem por um lado e já sai pelo outro ouvido ) mostrou-se que amor, diálogo e respeito ainda cabem. 

10 comentários:

  1. Que situação difícil Ana Paula!
    Seu filho é um rapaz de muita fibra e coragem! Ele não foi contra seus valores para agradar o grupo.
    Essa situação precisa ser conversada com as orientadoras da escola, ver o que está por trás desse movimento agressivo por parte destes jovens.
    É preciso falar sim!
    Passei por uma situação difícil na escola de meu filho neste ano, não igual a essa, mas também de assédio moral e não me calei, eu e meu marido conversamos com a diretora e a orientadora e tentamos resolver.
    Não podemos fechar os olhos.
    Dê os meus parabéns ao seu filho por sua coragem e fibra.
    Grande abraço

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  2. De fato, seu filho sabe dar valor à família e seus valores não importando em que situação se encontre.Lamentavelmente nem todas as famílias pensam e passam esses valores aos filhos, penso que a escola deve tomar conhecimento do fato.
    Parabéns pela família que estás constituindo, oxalá todas se preocupassem assim, teríamos um mundo bem melhor.
    Abraço!
    Sonia

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  3. Ana Paula, fiquei aqui estarrecida!

    Não perdi a oportunidade de lerr pro Kiko e Neno (e vou mandar pra Tita pra que leia e comente com o GUI). É preciso que eles saibam o que pode acontecer!

    Imagino a o estado que o teu filho chegou em casa, devia estar arrasado. Sei bem o quanto te esmeras na educação com os dois e de repente, são assim atacados na escola. Que coisa! Em que ponto chegamos! Que bom que ele se abriu contigo , isso é fundamental! Diz pra ele que mando um beijo e que admito cada vez mais o seu jeito e que não é pra dar bola pra esses marginais! Não podem ser chamado de outra coisa! E olha: até os marginais respeitam mãe , respeitam a casa, pelo menos!

    Boa sorte e fizeste bem em trazer o tema. Ainda que chocante, pode alertar outros que também não imaginariam ver isso ! beijos, chica

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  4. Eu tenho empatia com seu menino, lembro bem o que é ser alvo de deboche dos meus "colegas" e não saber revidar e chorar...

    Ao mesmo tempo tenho empatia com você, vivo em estado de eterna angústia existencial profunda com as coisas que estão fora dos nossos limites de intervenção dentro da escola.

    Deus sabe que eu amo a minha profissão, mas ele também sabe que as vezes eu gostaria de sair correndo também...

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  5. Pois é, precisamos conversar
    Entre nós
    Papo de família, amigos, redes sociais...
    Com os nossos filhos
    E com os dos outros
    Já fiz
    E faço isso

    Mais papo nas escolas, sem ser nos ouvirem com explicações inexplicáveis ou no modo entra por um ouvido sai pelo outro
    Juntar mais vozes ao coro
    Insistir
    "Incomodar"

    Me irrita e indigna falar desse episódio e de outros com bebidas alcoólica, agressões físicas e morais (com nomes e sem acompanhamento e soluções), preconceitos diversos ( me perdoem os sexuais em segundo plano, mas falo dos de marcas de roupa, corte de cabelo, o lanche, o bairro onde moram, a música que se gosta...) e a escola ou pais que vivem em Nárnia dizerem: Onde? Foi um episódio isolado! Deve ser engano! Bobagem mãezinha! Coisas da modernidade!

    Tô com o amigo Doutor
    Mãe era coisa sagrada e deve ser
    Pai também
    Irmã, irmão

    Religião, futebol e política não se discutia

    Diferentes são os jovens
    Contestadores
    Perturbadores
    Perturbados muitos
    Com brincadeiras e piadas de gostos e níveis variados
    Tudo a ser visto, considerado e conduzido

    O tal chamar pra real, de rima antiga e atemporal de não se confundir liberdade com libertinagem

    Homens e meninos choraram
    Homens e meninos defendem suas mães, amores, amigas e sendo poucos esses é sinal de que muito há que se conversar e mudar

    Não falar palavrões
    Não jogar ovo podre em pessoas passantes em transportes públicos
    Não chutar gatos
    Não tocar fogo em índios
    Não fazer tristes e trágicos trotes nas Faculdades
    Não excluir a menina da cadeira de rodas do ensaio de dança
    A careca da dança com figurino de flor presa no cabelo
    Necessário

    Na minha escola tinha uma menina com o rosto ee corpo todo peludo
    Nunca fiz uma piada
    Nunca fiz cara feia
    Nunca fiquei calada com o dito e por mim sabido não ser o correto

    Falei e ainda falo besteiras
    Conto piadas
    Mas ter um filtro
    Um mínimo de senso é a diferença
    Não rende likes
    Mas no futuro será parte importante do adulto que você Bernardo será
    Garanto

    Eu não ia chorar
    Ia bater em todos (que feio)
    Boto raiva nos outros não me enraivo dizem todos que convivem comigo

    Não há muito o que fazer a não ser enfrentar
    Ser a diferença que quer ver no mundo
    E as vezes o certo e o difícil são a mesma coisa
    E quantas vezes forem, fazer por onde
    Levantar
    Mirar e ir

    Vão
    Eu vou daqui

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  6. Digitado do tablet com dificuldades visual e tátil
    Mas n conseguiu esperar poder responder do PC

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  7. Uma triste realidade o linguajar e as ações de muitas crianças na escola, na rua e em casa. Não há mais respeito, pelos mais velhos, pelo professor, pelos pais. Vivo isso Ana todos os dias e meu medo é de que atinjam nossos filhos e por isso cabe mesmo aos pais conversar muito com as crianças

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  8. Ai que horror... Fiquei chateada!
    Que bom que seu filho ficou estarrecido com isso, sinal de uma educação que você dá!
    Como tem jovens baixos, é uma situação difícil de lidar!
    Conversa com ele, que ele tem é que se afastar de pessoas assim, que não acrescentam em nada a vida dele :)
    Bjs

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  9. Pois é. Você disse tudo. É lamentável que essas coisas aconteçam, e acho que você escolheu uma palavra certa para explicá-las: banalização. Hoje, tudo é banal.

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  10. Comovida com a sua situação, é tão importante trazer isso a tona e conversar. Devemos e podemos ser a diferença no mundo.
    Tive problema semelhante com meu filho os coleguinhas começaram a xingar a mãe de outros meninos e ele se incomodou com a situaçã e foi defender o amigo. Pronto estava armada a confusão este menino o ofensor usou palavras horríveis a meu respeito, meu filho ficou indignado falou com a professora e ela pediu que ele tivesse calma e nada mais...
    Isto me incomodou nada mais onde estão os valores, a educação que estes meninos deveriam receber no seu berço e da escola ao menos uma conversa com os agressores fiz barulho fui a luta. Não estamos em 100% mas começar já é um bom lugar. Triste ver que muitos crescem sem saber que mais é coisa especial que quase não se define, triste ver que muitos crescerão sem saber o que é respeito...

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