A mulher estava no portão. No seu colo, uma alegre menininha.
O homem saiu lentamente, sentado na moto ainda desligada. Desceu, fez com seu polegar um pequeno sinal da cruz na testa da mulher. Beijou-a depois. Repetiu o gesto na testa da criança, o pequeno sinal, o beijo por fim.
Sentado novamente na moto, disse com voz alta e doce: "um bom dia minha sogra".
Mulher e filha acenaram e sorriram até a moto deixar de ser vista no final da rua.
Eu agradeci silenciosamente por poder apreciar este pequeno ritual imenso de amor e inocência.
Nutriu-me presenciar tudo aquilo enquanto passeava com o cachorro na fria manhã.
Inocência...
Ah! Como eu achava ruim, quando criança, ouvir dos adultos a inocência das crianças. Soava-me como um sinônimo de coisa boba.
Que boba era eu!
Falo por mim, mas sinto que é um desejo coletivo, um desejo de muitas pessoas vivermos tempos de inocência.
Quanto cansaço, quanta exaustão o tempo todo termos que olhar para algo e buscar o que está por trás daquilo. Nada mais é o que parece ser. Tudo com uma segunda intenção. Sempre esperando por algo que ainda está por vir. E claro, que este algo, é sempre pior.
A cena que apreciei, era toda inocência. Não era para ser vista. Era um ritual intimista.
O acaso me pôs ali do outro lado da rua, um pouco distante para presenciar a inocência tão escassa e que tanta falta nos faz.
Que lindo e doce texto, Ana Paula!
ResponderExcluirPrecisamos de cenas assim... Precisamos de doçura em nossos dias e quando essa chega com inocência, melhor, muito melhor. Em dias bicudos, onde quase nada de espaço há pra coisas doces, pois estão sendo despejadas notícias nada agradáveis nesse país, podermos viver momentos assim faz muito bem! Tratemos nós de vivenciar isso e aproveitar a inocência quando ainda a podemos ver... Adorei a foto também! bjs, lindo fds! chica
Que Emoção, Ana Paula...fiquei muito tocada...
ResponderExcluirRealmente um privilégio presenciar cenas como essa nestes tempos loucos!
Sinto esse cansaço que você descreveu tão bem.
Imaginei a cena em minha mente, você andando com o cachorro...até senti o friozinho da manhã.
Vou guardar esta história em meus favoritos.
Bjs
É tão cansativo olhar para as pessoas e as atitudes e ter que pensar: o que há por trás disso? Eu gosto muito de trabalhar com a pequena infância por questões de inocência também, não há nada por trás do que elas dizem e fazem, elas só são o que são. E é tão bom cruzar, meio por acaso com situações como essa, onde não há dissimulação, renova a fé!
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