domingo, 18 de novembro de 2018

Solidão na maternidade


Participando do projeto Na Casa da Vizinha, uma blogagem coletiva que ocorre no terceiro domingo de cada mês, organizada pelas meninas Cris Philene do blog Prosa de Mãe e Tê Nolasco do Bolhinhas de Sabão para Maria, que hoje traz o tema Solidão na Maternidade.

Assim que vi o tema proposto para essa blogagem, imediatamente lembrei-me de um lindo texto que me tocou à epoca da gestação da minha filha Júlia, hoje com treze anos.


"Um dos momentos mais especiais da minha vida foi o mês após o nascimento de Tara. Descobrir minha filhinha era observar o milagre do desabrochar diante dos meus olhos. Ela era o ser mais precioso, bonito e divino que eu jamais vira.
Mas havia um outro aspecto desse tempo que guardarei para sempre como um tesouro. Numa tradição seguida por muitos indianos, a parturiente e seu bebê recém-nascido ficam na casa dos pais durante 40 dias após o nascimento. Esta tradição se explica pelo fato de tanto a mãe quanto o bebê necessitarem de cuidados e carinho nessas primeiras semanas. Cuidada por sua própria mãe, a recém-mamãe pode então se concentrar nos desafios e descobertas desse primeiro momento e dar início ao relacionamento com seu bebê num ambiente estável.
Voltar com minha filha recém-nascida para a casa de meus pais foi uma experiência comovente e tocante. Passei com eles um tempo lindo e emocionante nessa nova fase da minha vida, com meu bebê nos braços. Eu era agora uma mulher adulta, expandindo a nossa família e despertando em todos sentimentos de um amor ilimitado. O amor e o orgulho nos olhos dos meus pais tanto por mim quanto por sua neta me fizeram descobrir que Tara era não só um dom para Sumant e para mim com também o presente mais sagrado que eles haviam recebido"           Mallika Chopra

Nossa solidão é cultural, geográfica. Comunidades indígenas, sertanejas, quilombolas, ribeirinhas, por exemplo, relacionam-se de outras maneiras que nós de comunidades urbanas.

Por horrível que isso possa soar, vivemos uma cultura de isolamento. Não sabemos pedir ajuda, não sabemos oferecer, por medo. Medo de se expor, medo de parecer ridículo, medo de que o outro não saiba fazer do "nosso jeito"e assim, uns com medo dos outros, seguimos isolados.

As amizades podem mudar; se antes saíamos para um bar, um noite de conversas, com um bebê fica mais difícil e amigos podem se afastar, mas também podemos fazer novos amigos por afinidades - bebês, escola, brincadeiras, passeios.
Precisamos de abertura, abrir-nos para outras possibilidade. Muitas vezes não incentivamos nossos filhos assim, seja numa praça, clube, festinha: "vai lá, fala com ele, empresta o brinquedo". Estamos dizendo "faça um amigo! "Precisamos repetir isso para nós mesmos e nos esforçar para olhar para essas pessoas que terão em comum conosco a maternidade.

Acho que temos uma ferramenta valiosa nesses tempos que são as redes sociais, a facilidade dessa tecnologia de comunicação que são nossos celulares e não a usamos em todo o seu potencial.

Eu acredito que a maioria de nós aqui dos blogs vive nessa cultura urbana, que traz em si mesma esse isolamento e por isso mesmo pede esse olhar cuidadoso porque há sim como remediar isso.

"Na contemporaneidade, existem formas alternativas de relacionamento, como as redes sociais, por exemplo, que se apresentam como uma boa sugestão de sociabilidade e trocas importantes"- Dr José Guilherme Cantor Magnani, antropólogo.

No meu começo na internet eu ouvia muito o termo amigos virtuais versus amigos reais. Essa é uma barreira que já se transpôs. Quantas pessoas "virtuais" nós sentimos afinidade, preocupação, cuidado. E por que não dar um passo a mais, trocando e-mails, endereço, correspondências, WhatsApp com essas pessoas? Por que não se formar um grupo com essas pessoas que sentimos emanar um calor? Com um tema em comum, e fazer reuniões online para expor opiniões, trocar experiências, angústias, ir além de nossas fotos bonitas no instagram?
Grupos grandes, gigantes, dos quais a internet está cheia, não funcionam com esse propósito de aproximação, falo de quando a sentimos um pulsar ali na telinha!

Eu participo de reuniões semanais via Zoom, Skype e é muito enriquecedor.

O texto que eu postei acima, na minha opinião é lindo, porém é uma outra cultura. Pode servir de inspiração mas não pode servir como lamentação.

Os filhos estão, ainda bem, crescendo, conquistando a cada dia algo novo, relevante, como já dissemos em outra blogagem, estão ganhando asas, tomara sejam nossos amigos, companheiros de vida, mas terão seus próprios amigos, seus caminhos, cabe então a nós oferecermos essa abertura para que outros se aproximem e para nós mesmas possamos oferecer aconchego, colo para quem possa estar precisando.

Precisamos quebrar essa cultura de isolamento. Abertura, disposição e atitudes, são a possibilidade .

Um beijo e obrigada por mais essa possibilidade de participar em grupo com essa reflexão!


8 comentários:

  1. Ana, achei lindo o texto inicial.,mas não me adaptaria nessa situação. Desde que tive a primeira filha, saí do hospital e desde logo, assumi a maternidade. Minha mãe nunca se propôs a isso nem a qualquer ajuda. Então sempre pensei...É isso OU ISSO,rs... Afinal, quem era a mãe? EU...
    Então, pra mim, resolvido estava. E gostei tanto que repeti voluntariamente, 4 vezes...

    E como bem sabes, continuo com a lida,rs...

    Assim, solidão não senti naquela fase...Depois ela vem na hora deles voarem...

    Adorei tuas colocações! beijo pra todos aí! chica

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    1. Chica, bom dia!
      É sempre uma alegria recebê-la aqui no blog!
      Eu também achei lindo o texto como você também o disse, mas é uma questão de cultura.
      Assim como você, eu me virei sozinha, sem mãe, sem familiares por perto para ajudar e nunca senti solidão. A gente cansa, passa perrengues e vai se nutrindo da alegria que é ver esses pequenos desabrocharem!
      Bom domingo para vocês.

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  2. Boa noite querida amiga Ana Paula!
    Não dá mesmo para sentir solidão com 3 filhos para cuidar como eu e nem tempo de comer direito a gente tinha... trabalhava, estudava (só no primeiro, terminava a faculdade) e ainda por cima tinha todo o resto para cuidar (casa, marido e cachorro, rs....)
    O tempo voa e quando estou hoje pensando: só mesmo Deus para me ajudar a ter dado conta de tudo e da forma que foi...
    De que adianta ter mãe perto ou sogra para ajudar se dá com uma mão e cobra com a outra... melhor ser como você foi...
    Muito bom passar por aqui e ler as aventuras de mãe mais nova do que eu e até um pouco mais (a da Chica, rs)...
    Tenha dias venturosos e felizes com seus meninos lindos!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
    https://espiritual-marazul.blogspot.com/2018/11/amor-nefelibata.html

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  3. Querida Ana, muito bem colocaste a vida muda, e se s antigos amigos distanciam, vamos em busca de novos... nem que seja os virtuais os quais vamos conhecendo e por afinidade nos aproximamos... Amei a proposta de irmos além da telinha... faz bem criar uma nova rede de afinidades e assim espantar a solidão de vez.
    Amando cada publicação sua. E que interessante a abordagem inicial onde fala que ambos mãe e filho precisam de cuidados...
    Obrigada por participar
    Bjs, Cris

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  4. Olá Ana, que coisa boa foi essa ideia da Cris e da Te não é?! Visitamos e conhecemos opiniões tão ricas! A ideia da rede de apoio e da aldeia funciona bem nesses povos e nós, urbanos, vamos nos adaptando e aprendendo como podemos um dia de cada vez. Depois que passa as vezes pensamos que poderíamos ter feito diferente, mas era o que tínhamos e sabíamos na época. Muito bom seu texto. Bjos
    Silvia Barbosa

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  5. Olá Ana, tudo bem.
    Me identifico muito com suas palavras, e como vc bem disso, o texto expresso no começo faz referencia a cultura, porem não como lamentações... Podemos e devemos nos reinventar, uma amizade virtual pode ser tão significativa quanto a real, e assim em tempos oportunos vir a ter encontros reais para um café, quem sabe...rs
    Existem épocas e fases de muita dedicação, mas com o tempo a gente encontra espaço para encontros lindos, assim como esse aqui e agora, que também são riquíssimos e valiosos...
    Amei vir aqui.
    Beijos
    Ju

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  6. Olá Ana, que bela participação nesta nova edição do Prosa.
    Interessante esta historia inicial na partilha e as referencias de outras comunidades com suas particularidades.
    Belo trabalho para enriquecer este projeto da Cris e Tê.
    Gostei de ler e informar amiga.

    Um bom e alegre domingo que inspire uma semana maravilhosa.
    Beijo amiga

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  7. Oi Ana, bom dia!
    Primeiramente desculpe não ter vindo aqui antes...
    Comecei a ler seu texto ainda quando estava com a mãe, mas não consegui terminar... A cabeça não estava tranquila...
    Hoje com mais calma estou visitando os blogs que não fui..
    Muito obrigada pelo relato.
    Concordo com você. Temos que nos abrir mais à novas amizades...
    No meu caso tento algumas vezes, mas percebo as pessoas da cidade, (não sou daqui) mais centrada em seus interesses...
    Sabe quando você não vê um "tchan", sabe quando falta algo pra você se identificar de alma aberta? ...
    Mesmo assim ainda penso se não deveria ter um esforço maior... Porém acho que quando tem que ser, as coisas fluem de outra forma.

    Também concordo que as redes deveriam ser usadas para conversas que resultassem em encontros, que é o mais gratificante..

    Quanto a esse texto lindo, não tem como lê-lo e não lembrar do inicio da maternidade.
    Aqui se por um lado foi bom termos ficado e aprendido tudo sozinhos (sempre só nós tres), sem pitacos desnecessarios, pressões etc... por outro com certeza fez falta um apoio maior.
    Não foi por 40 dias e nem imediatamente, mas tive os olhares contemplativos da mãe e pai nos primeiros dias de vida da Maria... e isso ficará pra sempre..

    Muito obrigada pelo relato mais uma vez... E neste domingo temos o tema: "A cobrança do Segundo Filho"

    Participe!

    Um beijo doce

    Tê e Maria! ♥

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