Há textos em que apenas as palavras bastam. Há fotografias que dispensam palavras e também há a junção de imagem e texto que se entrelaçam, se complementam.
Para esta publicação tentei fazer uso apenas de palavras e nada ficava bom ou claro. Então vou colocar a foto.
Antes porém, vai um alerta e um pedido - não faça como eu, que fui tão pequena e me envergonho por minha atitude.
Os adjetivos foram ágeis saltando de minha mente, parecia até que todos ao mesmo se mostravam: brega, exagerado, esquisito, espalhafatoso, inútil, engraçado, chique, ridículo.
O colar da Tia Nazaré.
Não conheço a tia Nazaré e ela também não me conhece.
Tudo se deu da seguinte forma:
Embora todos soubessem que minha sogra não estava nada bem e que o fim de sua jornada por aqui se aproximava, houve a ligação telefônica determinante.
A voz embargada do outro lado da linha dizia que se quisessem ver dona Sebastiana com vida, que não demorassem a chegar.
A distância que separa nossa cidade e o recanto lá em Minas Gerais onde ela morava, é extenso. Avião? Não, não há realmente encurtamento de caminho, é chão e chão e chão.
Meus filhos queriam se despedir da avó, um sobrinho iria conosco e então, um dos filhos de dona Sebastiana chegou aqui em casa e desesperado disse - "lá está chovendo, meu carro não passa na estradinha, preciso ir com vocês".
Cedi meu lugar. Era mais importante os filhos dela, os meus e o sobrinho que foi criado por ela se despedirem. Minha despedida seria de outra maneira.
Foram. E talvez a chuva tenha acentuado ainda mais a tristeza deles.
Minha Júlia, quando voltou relatava todo o sofrimento da avó, seus gemidos, sua angústia, as horas que se arrastavam. A casa cheia de corações partidos, olhos inchados, choros silenciosos e estampados. E a tia Nazaré.
Tia Nazaré é aquele familiar que só se encontra nesses momentos difíceis ou em algum casamento.
Minha filha descreveu com muito encantamento os passos de tia Nazaré.
Ela chegou, meneou a cabeça e foi para o doloroso leito. Pegou na mão da Sebastiana, acariciou sua face, disse palavras, disse rezas, chorou muito, beijou sua mão e saiu.
Enxugou suas lágrimas com as próprias mãos, suspirou longo, estufou o peito levando os ombros bem para trás, o pescoço também, alinhada e recomposta começou então a abrir armários, geladeira, torneira.
O aroma do chá de cidreira com o dos bolinhos de chuva iam invadindo narinas que antes só fungavam tristezas.
Tia Nazaré achou também que para aquelas barrigas vazias um pouco de pipoca ajudaria. A angústia foi dando espaço para o chá e o bolinho, vieram as recordações com um leve sorriso nos lábios com algum açúcar grudado e foram assim substituindo o som dos soluços e dos choros por relatos do chá, dos bolinhos, do café que Sebastiana sempre tinha para oferecer.
Um casal chegou entrando ali pela cozinha. Tia Nazaré bateu o olho e soltou:
- Esse é o Edvânio?
Ao som afirmativo, os elogios saltaram de sua boca!
- Meu Deus como você se tornou um homem formoso, era tão mirradinho. Olha só, gordo, vermelho, bonito!
O rosto vermelho do Edvânio que é ruivo, ganhou tonalidades complexas de se descrever, acho que foi próximo ao roxo!
As risadas vieram espontâneas!
Num determinado momento ela se pôs a conversar com minha filha Júlia e se disse encantada com a simpatia dela. Na sua opinião eu deveria ser uma mãe muito agradável e por isso ela iria me mandar um presente, feito por ela mesma.
Foi em busca de sua bolsa e tirou de lá um colar. O colar da tia Nazaré. E pediu que Júlia me entregasse.
Conversaram longamente minha filha e ela. Foi Júlia que ficou encantada com o jeito de olhar para a vida que tia Nazaré demonstrou.
Silenciosamente pedi desculpas por ter olhado para o colar e despejar nele vários adjetivos.
O colar da tia Nazaré traz consigo um pouquinho da vivacidade, da alegria, da força em atravessar tantas dificuldades que ela já passou.
Obrigada pelo presente Tia Nazaré!
Notinhas sobre mim
Estou, dentro do possível, bem. Os efeitos da quimioterapia são intensos, desagradáveis, tenho muita fraqueza, enjoo, não consigo ficar no celular, computados, nem mesmo televisão. Tenho ainda mais dois ciclos dessa medicação que é bem agressiva e tóxica e depois começarei uma outra que parece ser mais branda.
Peço desculpas por não estar interagindo nos blogs. Em breve conseguirei passear por eles!
Um beijo e fiquem em paz.
Ana Paula
Ana Paula, certeza absoluta que você passeará muito pelos blogs. Escrevendo tudo da maneira que você escreve é por demais pazeiroso e incrívelmente com tanto estilo, argumentação perfeita, sequência dos fatos perfeitas. Sabe, Ana Paula falo de coração: sua tia Anástacia é um evangelho vivo! Amei vir aqui! Afeto!
ResponderExcluirGostei muito de a ler, Ana Paula,
ResponderExcluirA tia Nazaré era uma pessoa interessante e pragmática e o seu conto definiu-a com mestria.
Talvez ela apareça no casamento da Julia...
Experimente para os enjoos, cheirar gengibre; para o jejum após a quimio, chá de maçã; para
a fraqueza aconselham geleia real em cápsulas naturais.
Vai tudo correr bem. Força!
Abraços de sincero afeto, 💐
~~~~~~~~~
Oi, Ana. Muito bom te ver por aqui e ter notícias suas. Só desejo que você fique bem. Com certeza você deve ter muitas histórias para contar do que tem vivido e observado nesse tempo que tem estado fora. Por aqui eu aguardo. Força e foco na sua recuperação. Vai dar tudo certo, com fé em Deus. Não te esqueço. 🙂
ResponderExcluirBom domingo! 💝💐🎈
~Cartas da Gleize. 💌💕
Lindo teu texto,Ana e mesmo sem conhecer, dá pra imaginar um pouco da Tia Nazaré pelo seu colar. Lindo carinho e presente epude imaginar a carinha da Jília escutanto atentamente cada conversa dela e dos de lá!
ResponderExcluirQuanto ao teu estado, quem vive ou viveu sabe o quanto doloroso é. Mas a certeza de que tudo passa e ficarás bem logo, logo, é o nosso maior presente e alegria! TE CUIDA e nem precisas passar nos blogs. Quando boa, terás muito tempo pra isso! beijos, chica
Boa noite de sábado, minha querida amiga Ana Paula!
ResponderExcluirPassei o dia na região serrana e não imagina como fiquei feliz há pouco ao chegar em casa e ver seu post.
Um relato emocionante, como você sabe bem conduzir pela brilhante escritora que sempre foi desde que a conheço.
Não se preocupe em passe em nossos blogs, sua saúde está em primeiro lugar agora.
Fique bem e, de vez em quando, dê um oi por 'lá' ...
Tenha uma continuação de tratamento abençoado!
Beijinhos
Oi, Ana Paula, gostei, como sempre, de ler você! Sempre leio aqui histórias interessantes, por vezes muito comoventes.
ResponderExcluirAmiga, cuida de você, não se importa agora com os blogs amigos, haverá tempo para eles. Isso vai passar, sei que é muito ruim esses enjoos, esse terrível mal - estar. Mas acredite, vai passar e tudo ficará bem.
Um beijinho, e força, amiga...
🙏🌹🙏
Olá!
ResponderExcluirTambém gostei do texto. Esse colar é a cara de alguém que se chama "Nazaaré..." não sei porquê!
Te desejo plena recuperação. Esse tratamento é mesmo debilitante mas necessário. Foque em sua saúde, se recupere e aí é um "conselho" meu: procure fazer na medida do possível, o que gosta, isso nos deixa mais feliz e nosso sistema imune se fortalece na alegria.
beijos.
Belíssimo texto, emotivo e com memórias afetivas! O colar de tia Nazaré conduz em cada continha um pouco da alegria e da personalidade dela, é um mimo de uma riqueza afetiva imensa. Que Deus abençoe e restaure sua saúde!
ResponderExcluirAbraços!
Ana.
ResponderExcluirQue lindo registro sobre o colar.
Amo a sua sensibilidade em descrever as cenas, as pessoas, as emoções.
Também gostei da sensibilidade da tia Nazaré em fazer chá, bolinho de chuva e pipoca naquele momento.
Eu não sabia da sua cirurgia e do seu tratamento.
Desde semana passada tenho dedicado tempo para ler e interagir nos blogs.
Comecei a comentar no seu blog, começando por postagens mais antigas. Porque gosto muito de ler o que você escreve.
Então, não cheguei a ver as postagens em que fala sobre a sua saúde.
Estou em oração por você.
E tenho certeza que vai passar.
Abraço forte.
Ana Paula querida, voltei pois vi na Roselia que hoje,dia 10 é teu niver!
ResponderExcluirFelicidades e tuuuuuuuuuuuuudo de bom! Muita saúde e só coisas boas!
beijos, chica
Passo para lhe desejar boa e rápida recuperação.
ResponderExcluirAbraços 🌿🌼🌿🌺🌿🌸🌿💟
Querida Ana Paula,
ResponderExcluirComo diz o ditado "a cavalo dado não se olha os dentes", eu tenho certeza que sua tia Nazaré te presenteou com este colar como prova do grande apreço e carinho por você, foi um gesto muito bonito dela. Acredito que tudo que seja feito de coração e com afeto vale a pena nessa vida. Quanto a sua recuperação eu te desejo melhoras no seu tratamento e que muito em breve você esteja plenamente recuperada e seguindo sua vida normalmente.
Um abraço carinhoso!
Venho lhe desejar uma ótima convalescença numa excelente primavera.
ResponderExcluirBeijos e abraços. 🌿🌷☘️🌻☘️🪻🌿
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Olá Ana. Você está sumida na blogosfera.
ResponderExcluirDesejo que esteja bem com sua família e saúde.
Abraços.