O
pai incumbiu os dois filhos da ordenha das vacas e o mais velho ficou
encarregado do agrotóxico na plantação.
“Não
deixa de usar luva e óculos. Seu Genésio passa aqui ainda hoje para
trazer a máscara que eu pedi pra trazer lá da cidade. Vamos ficar
só uns dois dias.”
Já
estava colocando o chapéu na cabeça, mas a mulher advertiu que lá
na cidade grande não se usava essas coisas. Dependurou-o de volta.
Viagem
de seis horas.
A
filha, moça estudada na maior capital do país, morou durante dois
anos com os tios. Moça esforçada, trabalhadeira e econômica,
comprou um apartamento.
Pequeno,
é fato. Só um dormitório. Um bom começo, dizem.
Os
pais, deixaram o sítio para ajudar a moça na mudança.
Ela
não cabia em si pela conquista. Os pais, orgulhosos pela filha
estudada e esforçada.
Chegaram
cedinho e começaram a desmontar as caixas, chaves de fenda espalhadas,
furadeira. E foi tomando forma o novo lar da moça.
Primeiro
a cozinha; na sala de um sofá de dois lugares e uma cadeira, a
cortina. Pediu comida pronta para entrega. Enquanto almoçavam,
ligação no celular.
“É
o colchão. Vão trazer hoje à tarde”. Voz de felicidade quase
infantil da moça.
Lavaram
os pratos simples. O pai achou melhor deixar o café para mais tarde
e foi montar o quarto.
Um
pouco trabalhoso o guarda-roupa, mas jeitoso que era, logo estava
empertigado o móvel.
A
filha com a mãe trouxeram a cabeceira da cama que estava embalada e
acomodada na lavanderia e a moça com o auxílio do pai foi
desembalando.
Papelão,
plástico bolha que a mãe ia rapidamente recolhendo e o semblante do
pai modificou.
“Quer
parar um pouco? Vamos passar um café? Está tudo bem?”
O
velho apenas disse que queria continuar para terminar logo. O aperto
que sentiu no peito não ousou demonstrar. Aquela cabeceira era
grande demais para a sua menina. Era uma cama de casal.
A
moça, percebendo o desconforto paterno, tratou de arrumar a situação
- “quando você vierem me visitar, já tem onde dormir, aqui na
minha cama”.
Tentou
entoar uma exclamação na fala, mas no fundo sabia o que se passava
na cabeça do pai.
Era
para ficarem mais um dia. O homem disse desculpas de quem se atarefa
com a terra e partiram no comecinho da noite.
Para
a mulher apenas reclamou a falta do chapéu. Seu velho chapéu que
tão bem compreendia sua maneira de pensar.
Ana Paula, pai sempre fala muito pouco, mas pensa muuuuuuito!
ResponderExcluirAdorei essa crônica.Tão gostosa de se ler e muito bem escrita. Merece parabéns!
Beijo,
Manoel
Que beleza,Ana Paula!
ResponderExcluirE tantas vezes precisaríamos de um chapéu igual ao que ele sentiu falta, pra poder pensar melhor...Entender ...
Adorei te ler e deu pra imaginar muito bem a alegria da moça e a saia justa do pai que se deu conta que sua filhinha crescera.... beijos,lindo fds!chica
Tanto nessa crônica!
ResponderExcluirCadência no contar como que nos levando pelas mãos.
Vivências que são tão nossas de parte a parte.
Sua fã
Fã de chapéus
De histórias de país, filhos, lares
ô, meu deus! um dia vamos passar por isso com nossos filhos! Mas faz parte, não é? Gostei, mas fiquei com vontade de ler mais um pouco! Beijos, Ana! Volto depois; estou com muitos textos pra ler. Não é fácil, não! :)
ResponderExcluirQuando minhas sobrinhas avisam que vão chegar com os namorados eu vou logo perguntando: "arrumo cama junto ou separado??" São os novos tempos e a gente fica torcendo para que tenham responsabilidade.
ResponderExcluirQue crônica linda! Sou suspeita para falar, vinda da roça, então fico logo encantada e comovida com essas histórias da gente simples do sertão. Na hora lembrei de meu pai, quando parti para estudar na cidade grande... teria sentido o mesmo desconforto? rsrsrs
ResponderExcluirTexto muito gostoso de ler, flui, aliás, essa é uma característica da tua escrita! Gosto muito, sempre!
Beijos
Como ele deve está se sentindo vendo sua filha ganhando o mundo e tendo seu próprio canto.
ResponderExcluirAbraços.Sandra
Não deve ser fácil pra um pai deixar um filho, ou filha (pior ainda) criar asas e voar...
ResponderExcluirMas é tão necessário, tão bom, que o retorno será maravilhoso!
Um lindo conto, Ana!
Já disse que sempre me surpreendo qdo venho aqui, né? Adoro!
Posso demorar um pouquinho, mas venho, com gosto!
Beijos
É... a filha realmente cresceu.
ResponderExcluirEntendo esse pai por ter um que muitas vezes age 'procurando o seu chapéu'.
Carol
www.umblogsimples.com
Adorei a crônica... Pai é bem assim mesmo! ... e deve dar uma dor no coração!!!
ResponderExcluirBeijos!!!
É tal e qual, mas contado assim está ainda mais delicioso. Eu sou muito menina do papá.
ResponderExcluirBeijinhos
Certos detalhes que falam alto caem primeiro nos ouvidos pensantes dos pais, estes leitores atentos das redondezas dos filhos.
ResponderExcluirBjos, Ana com gostinho de próxima vez.
Calu