sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Tomates, corredores e smatphones

Irritação à primeira vista, foi o que eu senti.
"À primeira vista"é modo de dizer, porque não vi nada, e sim, ouvi. Então foi a voz do sujeito que me irritou.
Era uma manhã de céu cinza e eu escolhia tomates esverdeados porque não haviam os vermelhinhos, a safra não era das boas, não me lembro se era excesso de chuva, ausência da mesma, geada, enfim, os eventos climáticos sempre determinam a tonalidade dos tomates.
E foi durante a escolha dos tomates que ecoou aquela voz por todo o mercado "Mas corra porque são as últimas unidades e tem cliente aproveitando e é aqui no corredor de número doze".
O encontro com aquela voz se deu muitas outras vezes "aqui no corredor de número seis; está friozinho então vai muito bem um capuccino; aqui você encontra o capuccino sabor canela por apenas oito reais, eu disse, oito reais e você ainda ganha uma colher para mexer, mas corra porque a colher roxa já acabou; agora só tem nas cores amarelo e azul e são as últimas unidades. Você leva o capuccino e ganha a colher colorida".

Neste dia da colher roxa eu não resisti: fui ver quem era aquele sujeito que falava de maneira pausada, insistente e irritante.
Alto, magro, meia idade, calça jeans, camisa de manga comprida dobrada quase à altura do cotovelo.
Nada para mim mudou. Apenas que a voz irritante agora tinha um rosto.

Numa tarde de céu azul, eu caminhava até o mercado quando vi o sujeito da voz no ponto de ônibus. Segurava um guarda-chuva preto na mão.
Naquela tarde, o mercado estava silencioso.
Pus-me a imaginar se no ônibus o sujeito conversava com o cobrador ou o passageiro a seu lado. Em casa, se conversava com a mulher sobre as promoções que anunciara nos corredores numerados do mercado. Será que comprava alguma oferta por ele mesmo anunciada?

A simpatia pelo homem só veio quando li no jornal que está chegando uma nova tecnologia que permite que os varejistas encaminhem mensagens personalizadas ao smartphone de um consumidor.
Será comum bolos enviarem mensagens aos smatphones de consumidores famintos que estão esperando um café num balcão, apenas uma maneira de "estimular" o consumo.
Ou quando você estiver no corredor dos cereais em um supermercado, receber uma mensagem avisando da promoção de cornflakes.
De repente passei a achar mais irritante os celulares apitando, acendendo... O homem das promoções agora me é simpático, bem ao menos devo reconhecer que ele é bastante criativo com seu roteiro de promoções.

5 comentários:

  1. Comprei um android há algum tempo, vivia recebendo atualizações do face, do twitter, do instagran, achei legal sabe, a principio. Mas, ai, esse mês mês meus créditos acabaram e resolvi não recarregar, não recebo atualizações ou coisas do gênero... estou quase inclinada a não recarregar o celular nunca mais... kkkk...

    E sim, de repente me movo de intima compaixão pelo rapaz e de agonia por mim e por todas as pessoas que correm o risco de serem metralhadas por essas informações desnecessárias.

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  2. rsss..Celular que avisa tudo? Não! O meu é dos que não fazem nada(tanto que o ladrão me devolveu,rs)... E o pobre homem deve sonhar com as enganações que faz durante o dia, correndo atrás dele,rs... bjs, lindo fds! chica

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  3. Este bombardeio de informações que recebemos - sem solicitar - são irritantes. Eu aprecio o silêncio e sentir que tenho o poder da escolha.

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  4. Ana Paula, concordo com você. Pelo menos é um ser humano como a gente e não um chip gravado, kkk!
    Aqui na terrinha tem um desses propagandistas velho conhecido da população. O bacana é que ele tem uma ética bacana para trabalhar. Não é chato, não grita, não mexe com ninguém e é bastante irônico. Já tem uma idade mais avançada também. Ele fica falando das novidades pelo microfone num calçadão e quando o sol é coberto por algumas nuvens ele solta a "pérola" : "OLHA A CHUVA (todos olham para cima e ele continua...)...DE OFERTAS! Aí é só risadas. Todos se alegram na rua e melhora o dia de muita gente.
    Beijo!
    Manoel - Blog do Óbvio

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  5. Para que já me irritou :O

    Não tenho mais candura pelo moço ao microfone,por causa dos apitos. Sem paciência para as frases repetidas, jargões do tipo o mundo vai acabar, corre, pega e sensacionalices, barulho que faz esquecer o que fomos comprar, embora entenda a necessidade de um salário para pagar as contas dos muitos que há por ai.

    Não quero nem um nem o outro, pode ser?

    Que as feiras, mercearias e quitandas não se modernizem Senhor. Amém!

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