quarta-feira, 2 de abril de 2014

Conservantes de memória


Toda mãe deveria saber que esses potinhos que vendem em supermercados são cheios de conservantes; não deveriam ser dados a uma criança.
A minha mãe, certamente sabia.
Vinham grudados de dois e era somente na compra do mês que ela me permitia comer um. Ou melhor os dois, acho que com intervalo de quase uma semana entre um e outro. Era um luxo que precisava durar.
Chamava-se flan.
Ela destacava um dos potes, lavava, abria com delicadeza a tampa que o selava e o emborcava sobre um pires. Usando da mesma delicadeza, fazia um furo no fundo do pote e eu via o espetáculo acontecer: deslizava suavemente até pousar no pires.
O pote plástico era retirado lentamente e suas mãos me ofertavam pires e colher.
Trinta anos de sua ausência. Num potinho de supermercado, lembranças que contrariam o tempo.

10 comentários:

  1. Contrariam o tempo e sendo ausência contrariam que ela só amarga, também adoça

    Aqui marido é fã de flan, compro os muitos que não podia comprar qd ia as compras com minha mãe, tempo de dividir uma bala com meu irmão e por vezes geleia de mocotó

    Lindo contar e dividir de sua lembrança sensorial, sentimental, com calda de recado por cuidados alimentares, de saudade, de ser quem és

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  2. São lembranças que ficam, aquecem a alma e vamos repetir os mesmos gestos geração após geração.

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  3. Esses fazem bem, os que vão fundo em nossas memórias e conservam em nós as doçuras! ADOREI! beijos,chica

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  4. Linda, linda sua memória olfativa e afetiva! Sua mãe devia ser uma pessoa cuidadosa, uma mãe que ama de verdade seus filhotes, num simples ato como este já dá pra sentir tudo.
    beijocas cariocas

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  5. Ah, querida Ana Paula, para mim essas lindas lembranças não contrariam o tempo um minuto sequer, ao contrário, trazem-no bem para perto de mim, carregado de belezas, imagens, cheiros e sabores que, pelas lembranças, consigo perceber que estão gravados eternamente no meu coração. Linda crônica, simplesmente adorei. Bjs Marli

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  6. Olá, querida Ana
    Claro que me lembro!!! Meus meninos adoravam... e eu digo que é bem gostoso: gostinho de ternura de mãe...
    Bjm fraterno e quaresmal

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  7. Acho que estou emocionada!!! Eu digo a meus alunos, quando eles me perguntam o porque de estudar história: "Nós somos nós e nossas lembranças." Quando leio coisas assim... ou vivo... ou escuto... eu tenho certeza disso... Obrigada por compartilhar.

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  8. Lembranças caras acionadas em sabores e datas, Ana.Carinhos guardados na memória afetiva e que destacam o amor e os cuidados de tua mãe.

    Belo dia aí.
    Bjos,
    Calu

    Obs: concordo com Pandora:)

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  9. Oi Ana!
    Doces lembranças... saudades para sempre...
    Ah! o tempo... parece não passar nunca para as coisinhas especiais da vida.
    Belíssimos texto, minha linda!
    Fique bem!
    Beijos!

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