Tirei a foto com a câmera do celular e embora não tenha ficado uma foto boa, havia algo neste saco de pão que me instigava a escrever.
Foi minha filha que voltou da casa de uma amiga trazendo-o cheio de pipoca doce do tipo canjiquinha e logo explicou que não era a embalagem original da pipoca, mas a mãe de sua amiga tirou um pãozinho que estava ali e encheu-o com a canjiquinha para que ela trouxesse para casa.
Encheu-me de ternura e tristeza, sem que eu soubesse me esclarecer.
Era além da poesia de Drumond que tornava aquele rústico papel, especial. Era além da felicidade que falava seus versos que tão bem combinaram com a simplicidade do pardo saco de pão. E eu não sabia o que era.
Por algumas vezes, na tela do celular, olhava para a foto e para o desenho da lixeira logo abaixo dela. Quase.
Então soube de uma amiga que, no prédio onde ela mora não é permitido entrar no elevador principal segurando um saco de pão. Saco de pão só pelo elevador de serviço.
Talvez fosse isso a escrever. Talvez pudesse brincar com as palavras e questionar em tom alegre - será que saco de pão poetizado pode entrar no elevador social? E colocaria uma exclamação ali junto ao final para expressar um certo riso, uma certa descontração.
Ainda seguia triste apesar da paisagem, da sorte, do tempo.
Sovei bem, suei e cansei o braço. Cobri a massa, o pão, o saco, a poesia para que descansassem e crescessem.
Levou tempo até que ficasse bom.
Foi preciso que eu me lembrasse de uma amiga que certa vez fez uma chuva de açúcar no pão com manteiga ao ler um texto com atitude homônima.
Não é só no elevador social que o saco com o pão está proibido de entrar. É por todos os lugares, é por todo o social, toda a sociedade.
A simplicidade de dentro foi tomada por um mistério vindo de fora. É quase um pecado comer pão deste rude saco. A verdade é que temos dele.
É preciso que tenha multigrãos, farinhas enriquecidas, plus, softs e venham plastificados. Esses podem entrar no elevador.
Eu não comi ainda pão com chuva de açúcar ou talvez sim, de uma outra forma que o tempo guardou na parte doce da memória.
Era com a vó Maria e com o vô Antônio que, eu nunca soube o porquê e hoje entendo que ali naquele prato fundo não cabia nenhuma dose de razão, eu comia sopa de pão.
Pão velho, dormido, de véspera. Seria falta de dinheiro para comprar outro? Seria respeito em não jogar comida fora? Ou seria a sabedoria das coisas simples? Como disse antes, pouco importa a razão.
Primeiro picava-se o pão com a mão. Depois vinha o leite fervido e soprado para afastar a nata. O café escorria do bico do bule e por cima de tudo a colher grande tremelicava sem susto, sem medo do açúcar não ser "fit" e ser apenas açúcar e a sopa de pão nos nutria.
Não tinha a poesia de Drumond estampada no papel do pão. A poesia era diretamente adicionada na massa. E a gente era simplesmente feliz.
Verdade,Ana Paula, antes, mesmo sem a poesia, éramos felizes.Sem frescuras, sem nada., apenas curtindo a simplicidade de cada momento e encarando-o como natural. Hoje sabemos que eram simples. Adorei e também assoprava o leite pois não suporto nata dele.rs .. Valeu ! Adorei! bjs, tudo de bom,chica e feliz nosso dia!
ResponderExcluirNossa Ana Paula, fiquei emocionada com seu texto!
ResponderExcluirSabe que guardo todos os sacos de pão? Eu sacudo as casquinhas e os dobro cuidadosamente, depois uso para embalar outros alimentos, o lanche do filho, e até para escorrer o óleo de uma fritura.
Gosto da textura do papel, também uso para escrever, já fiz vários bloquinhos de papel de pão.
A Adelia Prado escreveu todo seu primeiro livro de poesias no papel de pão.
Fiquei pasma por saber dessa regra tão idiota no prédio da sua amiga, qual a razão disso? Nunca havia ouvido falar de uma coisa dessas...
Bjs querida e ótimo domingo
Tenho relação afetiva com sacos de pão
ResponderExcluirCoisa de filha de padeiro, padrinho padeiro
Cresci entre farinha, fornos, calendários de parede que eram o prelúdio da chegada de um novo ano
Que sempre adorou a tarefa de ir comprar o pão quando não vindo das padarias da família
Sempre arrancou tacos no caminho sem lavar as mãos
Sempre comeu quente sem ter dor de barriga
Tomei muito dessa sopa
Com pão e bolachas também
Raízes espanholas
E para mim sopa tem que ter pão para molhar e lamber o prato
Sardinha frita é com pão
Tortilha
E pão com manteiga mergulho na caneca de café com gosto em casa e não mergulho com sacrifício em hotéis e casas alheias sob o olhar atento de marido
Meu ser criança
Que também molhava e molha o pão na gema mole do ovo frito
Pão com sardinha em lata, azeite, vinagre, cebola e tomate
Huuuummmm
Fiz muitos desenhos, era o papel que muitas vezes tinha ou de rolo, de embrulho
Faço hoje anotações
Uso para tirar a gordura das panelas, do fogão
Tenho cantor pela cor
Além do pão nos sacos de pão, sonhos, pão doce, biscoitos
Pena é além dos sacos de pão não terem espaço nos elevadores, não tem espaço o bom dia, o tá servido, o cheiro da manteiga fresca e do pão estalando ser motivo de papo por que o fone de ouvido ou o olhar fixo no celular fazem cada dia mais as pessoas serem intolerantes a convivência, a glútem, a lactose, a olho no olho, a simplicidade que vale mais, pesa mais que a grama do ouro e são mais leves e saudáveis que a grama do pão
Esqueci embrulhado na dor e saudade que meu Dindo sempre levava para mim em papel de padaria amarrado de cordão ou em saco de pão o meu pão preferido que com o tempo saiu da vitrine pela sua simplicidade: pão de açúcar
ResponderExcluirUm pão de leite pesadinho e molhadinho areado de açúcar
Doces e eternas lembranças
Também tenho dificuldade em lidar com esse mundo cheio de frescura. Na minha casa tudo é simples, mas cheio de amor. Para mim basta, mas para outros...
ResponderExcluir#porummundocommaisespacoparasacodepao! Hahaha
Beijo e boa semana!
querendoserblogueira.blogspot.com.br
Poesia sobre pão eu só conheço a do Jorge Aragão.
ResponderExcluirEle levou um toco rústico
nesse papel minúsculo.
Eu por minha vez
achava fofa a embalagem
" Feito com carinho"
vinha escrito
e tanto afeto me envolvia,
ai que fome eu sentia!
Um beijo da Alê Lemos.
Ana, eu ainda como sopa de pão...
ResponderExcluirUma caneca de louça, primeiro o pão, depois o leite e por cima uma chuva de açúcar....
Coisas de criança que ainda carrego comigo.
Um belo texto, como sempre!
Um Feliz Dia pra vc!
Beijos
Ana Paula: Não tenho palavras fiquei deveras muito emocionado mas é um lindo
ResponderExcluirTexto e uma bela reflexão. Feliz dia da mulher.
Beijos
Santa Cruz
Que lindoe reflexivo e amos nos afundando num mundo cheio de frescuras e de puro cnsumismo, de modismo de invenção numa laimentação milagrosa de que iso pode isso não, deste alimentos essenciais, de sete grãos, dos transgênicos, aos não consumíveis com glutém e vamos adoecendo mais e envelhecendo. no tempo de meus avós e minha infãncia era qualquer pão, qualquer fruta, feijão com arroz, ovo e caldo de carne, e tudo era saudável, e com certeza se fosse com poeisa dava ainda melhores resultados. Bjs Ana, feliz dia da mulher
ResponderExcluirAdorável ideia esta: na embalagem de um alimento para o corpo encaminhar um poema, alimento para a alma.
ResponderExcluirUm abraço, Ana!
ps.: feliz finalzinho de dia da mulher!
ResponderExcluirOi, Ana Paula!
ResponderExcluirUm alimento sagrado não pode andar dentro de um saco? Pois ele é sagrad em qualquer lugar, que dirá um elevador! Essa norma de que falou e que eu não tinha conhecimento, só demonstra o quanto somos medíocres em aceitá-las. Ninguém se rebela?
Super criativa a pessoa que pensou em colocar poesia em um saco de pão. A felicidade está dentro e fora de um saco de pão.
Hum... já tomei muita sopinha de pão e quanto mais envelhecido, mais gostoso ficava... A explicação veio de um padeiro; o fermento evapora com o tempo e o gosto fica melhor. Noutra ocasião, tive uma funcionária que só comia pão amanhecido e ela explicou que dessa forma não provocava problemas estomacais. Há sabedoria nas sopinhas de pão. Agora mais ainda... aprendi a fazer!
Parabéns pelo dia da Mulher!
Vamos em frente!!
Beijus,
Pão é alimento, é vida, é comunhão. Separar o que pode ou o que não pode entrar em um elevador social é tão pequeno e medíocre que não vale a pena comentar.
ResponderExcluirSimplesmente delicado, cheio de significados e muita sensibilidade. Parabéns me encantei pela bela crônica.
ResponderExcluirSimplesmente delicado, cheio de significados e muita sensibilidade. Parabéns me encantei pela bela crônica.
ResponderExcluirLindo e tocante texto... Me vez olhar o jeito simples do mineiro, mas o mineiro de verdade, com tradições como o de tomar café com pão com manteiga, todos os dias à tarde. Em qualquer casa que se chegue por volta das quatro da tarde, a mesa esta posta, o cheirinho de café noa ar e o pãozinho chegando quentinho da padaria da esquina...
ResponderExcluirCoisa boa!
bjs
Olá, querida Ana Paula
ResponderExcluirUm post que me remeteu à infância com nostalgia e alegria...
Creio que estamos 'velhas"?!
"No meu tempo não era assim"... frase que caracteriza a Terceira Idade (não é o seu caso, sei)...
Pois bem, agora os tempos mudaram: já não se diz o acima mas: "Poxa, igual como eu era criança!"
Voltamos ao passado porque vimos que as críticas tão ferrenhas ao que se achava errado talvez não o fosse... Estamos comprovando que não era...
Lindo post e cheio de tenrura!!!
Nem teria coragem de usar o saco de pão paulista... rs...
Bjm quaresmal
Me esqueci de lhe dizer que noutro dia me deu uma vontade danada de comer pão com manteiga e açúcar... vou fazê-lo em breve quando tenha o pão francês que nem sempre uso... Gostoso demais!!!
ResponderExcluirBjm