Acordo
com um som confuso vindo da rua: vozes, carros, buzinas e o som de um
apito que parece soluçar.
Abro
a janela e lá embaixo vejo o agente de trânsito agitando
rapidamente o braço o que faz com que o som de seu apito saia
cadenciado.
Não
sei o motivo de tanta inquietação, mas preciso descer para ir até
a padaria.
O
barulho é pior ali da calçada. A rua da padaria está interditada
para carros. Começo a caminhar por ela e logo enxergo o motivo da
balbúrdia.
Uma
árvore gigante morta ali na rua. Desfalecida sobre uma casa. Sobre
fios da rede elétrica. Sobre o caminho de muitos humanos.
Não
posso me demorar. Aquela imagem é espantosa.
Levo-a
para a mesa do café da manhã.
Um
outro som nos adentra – agora é a motosserra.
Ruído
este que me faz relembrar uma campanha publicitária da minha
adolescência contra o desmatamento. Proteger as árvores, pulmões
do mundo”.
Meio
do dia e é preciso passar novamente pelo caminho com as crianças.
Paramos. Olhamos em silêncio que é quebrado de repente pela
pergunta da menina:
“Mãe,
e se tiver um ninho com ovos ou filhotes?”
Seus
olhos estão avermelhados assim como a pontinha de seu nariz. É uma
pergunta triste.
“Filha,
deve haver entre todos esses funcionários alguém para remover
cuidadosamente o ninho. Deve haver...”
Cimentamos
os pés de nossas árvores, impedimos que a terra se mostre. Talvez
exausta de tanta inércia, de tanta indiferença a árvore queira se
libertar, queira correr. Está enrijecida.
Ou
talvez irada e resolva desabar sobre nossas cabeças, nossas casas,
nosso caminho...
Enquanto
estou ali parada, ouço uma pessoa tranquilizando os moradores daquela rua. Não há com o que se preocupar, todas as árvores daquela rua serão
cortadas e tantas outras também. Estão podres, só servem para
causar transtornos.
Será
esse o olhar urbano para uma árvore?
Escrevi
este texto quando ainda morava nos arrebaldes da avenida Paulista.
Foram dois dias de trabalho da motosserra, depois passaram conforme o
prometido cortando todas daquela rua.
Leio
no jornal que as quedas de árvores causam muitos problemas no
trânsito, além disso, a queda de energia traz o risco de morte para
pessoas que dependem de aparelhos para sobreviver.
Sempre
aprendi que as árvores eram sinônimos de vida. Davam-nos o ar
purificado, eram os pulmões do planeta. E agora fico sabendo que
elas mesmas representam risco de morte.
Não
foi só aquele dia que começou confuso. Eu me sinto confusa.
Será
que podemos ligar o planeta à aparelhos que o mantenham vivo, longe
das perigosas árvores?
Dá uma tristeza qdo isso acontece...e não é a primeira vez, infelizmente, acho que não é a última. Por mais que me digam que é perigoso manter uma árvore velha próxima a zonas residenciais, não consigo me ver morando em uma cidade ou outro lugar qualquer, sem elas.
ResponderExcluirSe convivemos com bandidos e violência, por que não com árvores!?
Tristeza...
Bjs
Ana Paula, vou usar um trecho do texto para expressar minha opinião sobre essa real situação:
ResponderExcluir"Estão podres, só servem para causar transtornos".
Será esse o olhar urbano para uma árvore?
Infelizmente esse é o olhar urbano para uma árvore, um pássaro, para as flores, para os idosos, para os deficientes físicos, para os presidiários, para os desempregados, para os doentes crônicos, para os menos letrados,...,para...
Manoel.
Que triste,né? Aqui em Porto Alegre quando construíram a perimetral, víamos todas as da rua serem mortas.Triste,triste...beijos,chica
ResponderExcluirO mundo esta de cabeça para baixo mesmo né?
ResponderExcluirQue triste! Realmente as pessoas se tornaram muito egoístas agora, não pensando no futuro do nosso planeta.
"É preciso não esquecer nada:
ResponderExcluirnem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta nem o céu de sempre."
É preciso não achar normal, não se acostumar não deixar de se apiedar, indignar, desejar ver folhas, raízes, pássaros e borboletas.
Q cena triste!
ResponderExcluirbjs
Minha querida!
ResponderExcluirEsse sentimento é muito latente,
quando vemos uma árvore tombar, mas as vezes é necessário...Elas também tem um ciclo de vida.
Abraços! Tudo de bom pra ti.
Oi querida, quando li sobre o ruido da motossera fiquei triste.
ResponderExcluirCerta vez passei por essa mesma tristeza ao ouvir, de manhâ, um motossera cortando um "jequitibá" ao lado de minha casa. A sombra era tão boa, e ela tão linda, que não acreditei no que ouvia.
Fui correndo ver e continuei não acreditando porque ela era saudável, jovem ainda. Foram os proprietarios do lote que pediram para que ela fosse removida. Parecia que chorava, e eu chorei junto, o dia todo.
Essas suas fotos são alarmantes, a árvore era enorme mesmo, talvez muito velha, mas é tudo muito triste.
Tomara plantem novas no lugar! vamos ser otimistas senão morreremos loucas...rsrsr
beijos amiga, aqui está um dia bom, sem chuvarada.
Ana, boa tarde,
ResponderExcluirEmocionante seu texto, tem pessoas que dependem de aparelhos para sua sobrevivência, não todas, mas o mundo inteiro depende das árvores para sua sobreviência, ela produz o ar que respiramos, sem a natureza não há vida. Um abraço.
Ai Ana que texto lindo! E as tuas palavras são tão delicadas, mesmo a história tendo um fundo triste. Lindo mesmo! Beijõess
ResponderExcluirE assim vamos acabando não só com as arvores mas com nós mesmo. Iremos acordar um dia? Pelo bem dos nossos filhos, netos e outras gerações espero que sim. bjooo grandeee
ResponderExcluirO perigo está nos homens e querem trasportar para as pobres árvores. Constroem casas, prédios, estradas, pontes em lugares indevidos, onde encontram brechas e a culpa são das árvores...Isso aí é a natureza retribuindo a gentileza..
ResponderExcluirBj grande!
Débora
Oi Ana. Texto cheio de sensibilidade. Estamos transformando árvores em perigo...
ResponderExcluirAs árvores não são perigosas.
ResponderExcluirOs fios e as casas é que deviam estar a uma distância segura delas, para que quando morressem.... o pudessem fazer em paz!