sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Mãe tartaruga

Existe um tempo que é imensurável. Tão marcante, tão cheio de significados, que deixa de existir como minutos, horas ou segundos.
Tive um tempo desse hoje à tarde com o Bernardo.
Uma conversa para mim surpreendente. Conversa não. Foi um ouvir. Um ouvir com todos os meus sentidos. Parei tudo o que estava fazendo e o que pretendia ainda fazer para ouvir.
Crianças tem uma naturalidade para expressarem a alma, que apenas precisam que adultos não as interrompam com experiências de vida.
Apenas ouvi o meu filho dizer que as mães deveriam ser como as tartarugas - apenas colocar seus ovos e confiar que em pouco tempo as tartaruguinhas iriam rumo ao mar que é a vida delas. A mamãe tartaruga sempre teria amor pelos filhotinhos em qualquer parte do imenso oceano. Falou que eu sou uma mãe tartaruga e nesse momento seus olhos ousaram marejar diante dos meus e antes que eu pudesse questionar se era uma boa mãe, se isto estava parecendo um tanto despido de sentimento, ele continuou...o filho nasce  
da mãe e ele sempre vai amá-la mesmo que esteja longe. A mãe é como uma tartaruga, você nasce dela e depois a aventura da vida te espera. Você não vai ficar sozinho porque a vida é sempre em equipe, você sempre vai encontrando pessoas. Uma mãe é apenas uma mãe.
Mais um mergulho em olhos marejados, agora os meus e o dele. Um abraço demorado e forte.
Sim eu entendi tudo o que meu filho me disse, não precisei questioná-lo em momento algum.
Frio, despido de sentimentos? Não, de jeito nenhum. O mar em seus olhos me mostraram isso.
Quando nos tornamos mães, queremos que nossos filhos durmam sozinhos em seus quartos, queremos que ao deixá-los na porta da escola, entrem sem chorar, queremos que sejam capazes de passar uma semana no acampamento de férias, sem termos que buscá-los antes do tempo. Queremos filhos empreendedores, queremos filhos que falem inglês para viajarem o mundo. Quanta independência, quanta liberdade queremos para os nossos filhos.
E hoje quando ouvi o meu filho, soube que ele já sente dentro de si que o mundo o espera.
Li em alguns blogs, orkut, uma frase já conhecida que diz "que filhos queremos deixar para o mundo?" No momento em que os tive em meus bracos sabia que não podiam me pertencer.
Por um tempo, daquele que é imensurável, meu ego urdiu alguma coisa como você é uma mãe tartaruga?
Sou sim e continuarei sendo.
No imenso mar que vi nos olhos do Bernardo estava impregnado todo o meu amor por ele. Amor que ele aprendeu a sentir no cuidar, no beijar, na bronca e principalmente, o que eu sempre ensinei: que os amor está além da presença física, do corpo. Uma mãe sempre sentirá o amor por sua tartaruguinha e a tartaruguinha carregará para sempre este amor, onde quer que esteja.
Aprendi muito com você, meu filho, hoje simplesmente te ouvindo.


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