sábado, 14 de março de 2015

Vovó, Rita e eu


Esses dias, eu postei essa foto acima no meu instagram, aliás, aproveito a oportunidade para avisar que estou tendo problemas na minha conta, há pessoas que estão sendo bloqueadas; meu filho instalou algum programa extra e... enfim, estamos trabalhando para melhor atendê-los!
Sobre a foto acima:
No início da semana eu assistia à tv na companhia ( ?! ) de meu filho que estava ao tablet.
Iniciou-se um programa de culinária que eu adoro, o Cozinha Prática com a Rita Lobo. Aliás, gosto do programa por causa da Rita Lobo. Elegante, bonita, agradável, serena.
O programa era sobre arroz e em determinado momento ela fez bolinhos de arroz.
Eu também faço bolinhos de arroz com a receita de minha avó.
Os de Rita são assim achatadinhos; os meus são bojudos.
Após ficarem prontos lá no programa, meu filho suspira e diz: "a gente assisti a esse programa e fica com uma vontade de comer esses bolinhos de arroz".
Nossa! E eu que achei que ele estivesse vendo tablet.
Tão sincera foi a declaração do garoto que resolvi, mesmo sentindo que eu trairia vovó e sua tão ancestral receita, que faria a receita de Rita para meu menino.
Planejei qual seria o melhor dia para cozer os bolinhos. Teria de ser um dia em que eu pudesse me sentir fina e elegante como Rita, ou seja, não poderia ser um dia em que eu lavasse roupa, passasse pano no chão, limpasse vidros e ainda cozinhasse.
Não. Deveria ser um momento de atmosfera serena.
Acordei e senti que aquele seria o dia.
Antes mesmo de sair da cama, visualizei-me sem avental, preparando os bolinhos e depois sentada no sofá, com as pernas cruzadas, folheando uma revista esperando os filhos chegarem da escola.
Tudo daria certo. Já tinha dado, é assim que se pensa.

Ingredientes. Chequei a receita pelo computador e como sabia de antemão, falta-me amido de milho.
Na verdade, queijo parmesão também. Eu o tinha em saquinho, mas Rita recomendou um bom queijo a ser ralado na hora. Bem, dependeria do preço.
Amido de milho e talvez, parmesão.
Fui ao mercado que tem como slogan, "lugar de gente feliz".
Poxa! Eu estava no lugar certo! Sentia-me muito feliz naquela manhã!
E o parmesão ainda estava em promoção.
Ah! Deveria ter tirado uma foto do parmesão; era bonito. Tinha um invólucro preto que dava um contraste com a cor de queijo parmesão. Usei metade e aoutra metade comi com goiabada.
Sei, sei que Rita nunca faria isso. Parmesão com goiabada, nunca.
Foi um deslize, que cometeria novamente.
Ainda no mercado, após pegar o amido de milho de outra marca, mas da mesma cor, amarelo, na caixinha, fui até os ovos.
Uma moça linda pegava uma caixa de ovos korin. Simplesmente pegou e com leveza colocou em seu carrinho.
Pensei em fazer o mesmo e colocar no meu cestinho os ovos korin, mas aí escutei uma voz interior: lembra que tem que comprar uma chuteira pro filho, as havaianas da menina não servem mais e lembra que o cachorro pediu uma ração nova com blueberrys? Ovos korin são muito caros.
Então lembrei que eu tinha ovos em casa. Comprei no dia anterior uma caixinha com 6.
E também lembrei de uma frase da Tati Bernardi que anotei e interrompi minha escrita aqui para procurá-la e já que achei, mesmo não se enquadrando exatamente aqui, porque não se trata de ovos, mas sim de frango, só que frango e ovo tem um parentesco, aí vai a frase de Tati Bernardi:

"Já percebeu que a pessoa que come lasanha de abobrinha se acha melhor que as outras? Tem o médico sem fronteira e tem a pessoa que come quinoa real com filetes de frango korin, pau a pau ali na generosidade para com as mazelas humanas alheias" - Tati Bernardi

O fato é que eu não precisava de ovos. Paguei meus dois itens e fui para casa. É preciso ressaltar que o lugar de gente feliz é o mercado mais próximo da minha casa, porém fica a vinte minutos de meus passos só na ida.

Iniciei o preparo da receita de Rita. Tive que ir tantas vezes da cozinha para a sala para ver no computador o modo de fazer que tive vontade de ter aquela geladeira com computador na porta.
Mantive-me sem o avental o tempo todo, feito Rita.
Só não consegui, nunca consigo, descascar a cebola como ela, com as mãos e sem chorar.
Caramelizei as cebolas ( vovó riria desse termo ), ralei o parmesão em movimentos firmes, porém delicados e peguei um potinho para quebrar os ovos antes de colocar um a um na tigela com os demais ingredientes. Ovos no final.
Quebrei o primeiro e estava podre.
Senti-me feliz pelo ovo podre. Fiz exatamente como Rita recomenda, já tinha aprendido com vovó. Ovo sempre no potinho que, se estiver podre, não perde a receita inteira.
Joguei fora, lavei o potinho e quebrei o segundo. Podre.
Aí eu fiquei p__@, mas tentei-me manter a serenidade.
O terceiro foi para a tigela e aí aconteceu.
Todos os outros ovos, até chegar no número 6, estavam podres.
Me descontrolei, me descabelei, acabei com aquela atmosfera de paz, me odiei por não ter comprado ovos korin, olhei no relógio e só faltavam quarenta minutos para eu estar no sofá com as pernas cruzadas, folheando a revista e eu não tinha os ovos para a receita de Rita.
Fosse a receita de vovó, estaria tudo bem, porque na da vovó é assim: tem, você põe; não tem, não tem problema, vai sem mesmo.
Mas na receita da Rita...
Bati na porta da vizinha. A empregada atendeu e disse: é que ela não cozinha, desculpa.

Ela não cozinha, portanto não tem problemas com ovos podres.
Eu não poderia voltar no lugar de gente feliz naquele meu mal humor. Sol do meio dia e subida, nem pensar.
Uma mercearia, ainda mais longe, mas, pelo menos em linha reta seria a minha salvação.
Andei o mais rápido que pude. Lá chegando, pouco familiarizada com a disposição das coisas - nunca tinha comprado ali - deparei-me com prateleiras curtas, lotadas de ovos de codorna e uma caixa de meia dúzia de ovos comuns, aberta com um ovo quebrado e dois ao lado dele.
Indaguei onde teria outros ovos e ouvi o que temia: "não temos, vai chegar no final da tarde".
Deve ser ciúmes de vovó por eu ter trocado a receita dela, não há outra explicação.

A essa altura dos ponteiros do relógio e do meu mal humor muito, mas muito elevado, eu já estava disposta a enfiar aqueles dois ovos no bolso da calça jeans caso não me quisessem vendê-los.

Por cinquenta centavos cada um, enfiaram-los num saquinho plástico e me entregaram.
Precisava correr, voar, tinha medo de quebrá-los. Voltei para casa pisando em ovos e no fim consegui lembrar de fotografar os bolinhos.
Deu tudo certo. Apenas ficou faltando eu sentada com a coluna ereta, pernas cruzadas esperando as crianças.
Dormi de avental no sofá e segundo as crianças, que eu nem ouvi chegar, um dormia de boca aberta e babava.
Os bolinhos ficaram bons, elas disseram.

14 comentários:

  1. Deve ser uma delícia!
    Vim te visitar para conferir as novidades e te desejar um excelente domingo. AbraçO

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  2. Ana Paula, me deliciei com a crônica, teu jeito de escrever e esses bolinhos forram uma verdadeira saga. Aparecer podrinhos na hora da receita?

    A vizinha que não tem ovos pois não cozinha?

    Puxa! Mas ao final deu certo e conseguiste até um nada animador:"estavam bons", sem muita empolgação, mas quando o prato ficou vazio, esse o melhor elogio!


    Lindo te ler!!Com ou sem bolinhos, Com ou sem ovos korin( nunca fui apresentada ,rs) ,com ou sem Rita!

    Melhor ficar com a receita da vovó!

    bjs, chica

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  3. Eu ri kkkkkk Gosto de assistir cozinha pratica, mas quem é fã é minha irmã, que gosta de imitar a Rita quando resolve cozinhar. Já eu, sou um caso perdido, nada serena, destrambelhada, com fixação por fazer do meu jeito kkkk...

    Que bom que o prato deu certo, que péssimo que teve tanta correria e essa vizinha que não cozinha, misericórdia ein!?!?!?

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  4. Hahaha que história! Adorei! Pimenta nos olhos dos outros... Kkk! Que bom que no final deu tudo certo. Adoro o programa e a Rita mais ainda, mas confesso que nunca me animei a fazer suas receitas. Muito glamour! E eu, nem tanto! Concordo contigo, se vai fazer a receita dela tem que ser no estilo. Qualquer dia vou tentar alguma...
    Beijo

    querendoserblogueira.blogspot.com.br

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  5. Que aventura Ana Paula! Admiro sua determinação, diante de tantos contra-tempos eu talvez tivesse deixado os bolinhos para outro dia.
    Os filhos nem imaginam todas as peripécias que fazemos por amor a eles...
    Bjs

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  6. Olá, querida Ana Paula
    E agora, o que faço com minha vontade de comer bolinho de arroz?
    Vou ter que fazer de qualquer jeito mas não hoje...
    Entendi tudinho e a do ovo sempre o colco um a um também... é mais seguro...
    Eu também comeria o parmesão com goiabada, o contraste do doce e salgado me agrada bastante...
    Bom Domingo!!!
    Bjm quaresmal

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  7. Eu gosto de um moço ligeiro, que faz comidas em 15 minutos e come as coisas com um prazer que dá vontade até de brócolis cru
    Gosto da finess da Rita e tb das dicas e receitas
    De bolinho, amo todos
    De vizinhas que emprestem ovos, careço
    Adorei te ler e adoraria um bolinho desse com suco de maracujá

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  8. Oie Ana como vai?
    Eu tbm adoro ver a Rita Lobo dá até vontade de comer e de preparar os belos pratos rapidinhos e práticos. Alice ama o Decora, o meu filho come mal tanto que até ajudou e come bem agora uns legumes e verduras e prova coisas que nunca tentou. No blog tem novidades de nosso fim de semana! Bjs e amo te ler

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  9. Ana!! Que saudade da tua maneira de escrever!!
    Saudade do teu blog , andei um bom tempo desligada de tudo!
    Beijõesss imensos e boa semana!
    Blog Antonella e sua Boneca

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  10. No final deu tudo certo e as crianças amaram!!! Parabéns pela dedicação!
    Beijos!

    Blog Querido Deus, obg por me exportar!

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  11. Ri muito da sua odisseia para preparar a receita da Rita. Lá tudo é perfeito porque ela tem muitos ajudantes, uma cozinha planejada e alguém que grita "corta" quando alguma coisa não dá certo. E quero fotos e a receita do bolinho de arroz da Rita para publicar no Kinder Ovo.

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  12. Oi Ana!
    Que delicia, hein! Gosto da Rita e das dicas que ela dá mas acho o Rodrigo e seu Tempero de Família tudo de bom! Acho que as vezes a cozinha Prática da Rita só é prática porque ela tem um batalhão doente por trás das câmeras ajudando no planejamento.
    Mas o que valeu foi os bolinhos prontos , né?
    E essa da vizinha que não cozinha? Vive! Nem ovo? Proteína indispensável por aqui.
    Beijos!

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  13. Ah, Ana Paula:
    delícia de ler o relato de seu sufoco! - já pensou que suas "aventuras" é que nos dão esta leitura gostosa? =)
    Agora, falando da situação: my god!
    Eu nem sabia que há gente da vida real que não cozinha. E tem empregada, e a empregada não cozinha, também?
    Mas ficou-me a dúvida: toda essa luta, chega no fim, você não comeu unzinho dos bolinhos de arroz?

    Filho não sabe o valor duma mãe.

    bj amg

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