sábado, 8 de março de 2014

Frutos da guerra

"Por mais que não aconteça aqui, não significa que não está acontecendo".


Campo de refugiados era para mim um conceito apresentado numa aula de História da minha adolescência. A professora empenhou-se ao máximo para que tentássemos ao menos resvalar naquela realidade.
Eu, olhei para o relógio calculando quantos minutos faltavam para a aula acabar.
Voltei a reencontrar os campos de refugiados em imagens nos noticiários, que até causam um impacto passageiro, porque, afinal em noticiários uma sucessão de tragédias vão se sobrepondo e ao final já não há mais impacto, só uma sensação de que o mundo está ruim.
Num outro contato com um campo de refugiados, eu fiquei profundamente tocada: recebi um e-mail de uma jovem garota que vivia num desses campos. Sua família fora massacrada e agora ela contava com o apoio de um padre que uma vez na semana possibilitava que usassem um computador. ela contava com o padre e com a minha amizade.
Ao final do terceiro e-mail veio o pedido da minha conta bancária e o fim de qualquer sensibilidade da minha parte.
Recentemente, ao ler uma reportagem em revista, soube que campos de refugiados seguem normas de construção, espaço mínimo recomendado, condições habitáveis. O que na prática, parece não acontecer.

Também recente, houve um evento num parque aqui de São Paulo, onde foi montado um espaço para simular a vida num campo de refugiados. Não era somente entrar, olhar o local. Quem se dispusesse, recebia uma orientação para ser uma pessoa ali dentro: uma mãe, uma criança, um adolescente e lhe era indicado seu espaço.
Claro, sabíamos que dali a um pouco estaríamos de volta às nossas casas, mas ainda assim, quando se está ali numa minúscula tenda de cores opacas, um misto de angústia com tédio, afloram.

É verdade que não acontece por aqui, porém é preciso saber.

"Por mais que não aconteça aqui, não significa que não esteja acontecendo" é a divulgação de um vídeo sobre o conflito ( acho que guerra, infelizmente traduz melhor a realidade ) na Síria que nos próximos dias completa 3 anos. Neste período, 11mil crianças já morreram e mais de 1 milhão estão refugiadas.

No vídeo, um segundo de cada dia de uma menina é mostrado. Uma criança saudável, que brinca, sorri e aos poucos, com os noticiários da tv, jornais, a tensão dos pais aumenta e aos poucos a vida da menina vai mudando.
Ela deixa de brincar para fugir das bombas, se abrigar em esconderijos e come o que é encontrado nas ruas.

Uma boa notícia: muitos adultos estão sendo capacitados para se tornarem mediadores de leitura para as crianças refugiadas, uma grande maioria órfãs. E o livro predileto das crianças refugiadas no Afeganistão é Cinderela.

Coloco o vídeo, onde uma atriz britânica de 9 anos interpreta a menina síria.
A ong que fez o vídeo e também arrecada fundos para ajuda, tem também o objetivo de mostrar que pessoas ao redor de todo o mundo não se esqueceram daquelas crianças. Para isso, propõem que as pessoas cedam seus perfis nas redes sociais ( facebook, twitter ) para que possam conscientizar e mostrar àquelas crianças que mesmo longe da realidade delas, pensamos, nos importamos. enviamos uma oração, um sopro de fé para que não desistam.
Mais informações aqui.



11 comentários:

  1. Não podemos fingir que não existe por não estar aqui perto de nós> Existe, é triste mesmo! Pena, emocionante! bjs,chica

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  2. Ana Paula,
    acompanhei a reportagem sobre o vídeo e vendo-o não tive como não me emocionar;conforme vc disse__ Não é porque distante de nossa realidade que não exista!
    Hoje assistindo a um filme sobre Hanna Arendt, o tema se destaca: não se pode banalizar o mal.

    Irei visitar os sites que vc indica.
    É muito importante que se reverbere esses fatos.
    Bjos,
    Calu

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  3. Olá, querida Ana Paula
    Vc sempre nos mostra realidades que insistem em que fiquem descobertas... parabéns!!!
    Dói no coração da gente certos 'refúgios' na alma do semelhante...
    Bjm fraterno

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  4. Essas tragédias da tv dão mesmo uma sensação de frustração. Eu normalmente assino abaixo assinados no aplicativo do facebook: o Changes, mas fico me perguntando se isso realmente chega até os necessitados. Quantas vezes não ouvi na Tv que mantimentos foram desviados, ou revendidos?

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  5. Ana Paula, é muito triste isso. Geralmente vemos documentários que envolvem crianças ou idosos que nos comovem mais, mas a realidade é chocante mesmo. Tenho um amigo que esteve no Haiti fazendo parte da força brasileira de pacificação por lá. Está de volta faz alguns meses e quando a gente começa a conversar sobre esse tipo de coisa ele fica com os olhos cheios de lágrimas e, ou sai de perto ou muda de assunto. E olha que ele não é um artista ou escritor. Foi treinado para isso e sabe que a solução para essas coisas não está no campo de batalhas e sim nos gabinetes governamentais. Então eu pergunto sinceramente para você. É viável eu mandar ajuda para essas pessoas? Essa ajuda chegará para eles ou serão usadas para outras coisas. O que de concreto eu poderia fazer para que se resolvesse esse problema?
    Infelizmente temos que refletir muito porque a realidade é emocional, mas também deve passar pelo racional.
    Beijo,
    Manoel - Blog do Óbvio

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  6. É lamentável que haja tanta destruição na vida de inúmeras pessoas inocentes, tudo em nome do poder, da conquista. O mundo não está em tempo de paz. A guerra nunca teve fim. Nós é que acabamos por conviver ao lado dela, sem notar tamanho desastre...

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  7. Oi, Ana! Muitas vezes esquecemos o quão dura a realidade pode ser lá fora. Não concordo com a divulgação das situações se não for para despertar algum tipo de atitude. Mais que não esquecer dessas pessoas, colaborar para que haja atitude é o que motiva a divulgação.
    Uma criança que cresce sob a opressão do medo levará suas marcas pelo resto da vida. Vídeo muito bem feito.
    Vou visitar o link indicado... um abraço!

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  8. "Por mais que não aconteça aqui, não significa que não esteja acontecendo" e algo que você não compreende bem às vezes bate na sua porta ou na porta do vizinho. Recentemente acompanhei a agonia e sofrimento de uma amiga que tentou (e conseguiu) trazer o irmão e sua família que oravam na Síria de volta para o Brasil. Agora, quando tudo parece melhor, tem a difícil fase de adaptação de todos, em que é preciso aprender a língua, novos ofícios, onde fica a padaria, e aprender a dormir sem pesadelos.

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  9. Desculpa a demora querida amiga, estou me atualizando agora, o computer voltou a funcionar depois do conserto bem carinho.
    Sobre este assunto, também já fiz post em meu blog, pois me dói muito saber dessas crianças na Síria, milhares, abandonadas em campos de concentração. Que mundo absurdo o nosso!
    beijos cariocas


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