segunda-feira, 25 de maio de 2015

A respeito de placas


"Conheci um homem que era limpador de placas de rua.
Todas as manhãs, às sete horas, ele ia para o trabalho.
Para chegar à Central de Limpeza de Placas de Rua, na Praça do Incenso, ele levava mais ou menos meia hora.
Cumprimentava o porteiro, fazia algum comentário sobre o tempo e ia para o vestiário.
...
Lá, vestia um macacão azul, botas azuis de borracha, e depois, sem muita pressa, ia para o almoxarifado, onde lhe entregavam uma escada azul, um balde azul, uma escova azul e uma flanela também azul.
...
A saída dos limpadores de placas de rua nas suas bicicletas era um espetáculo magnífico. Eles pareciam imensos pássaros azuis saindo do ninho ao mesmo tempo".

Assim começa a história de um livro infantil que, se eu fosse dona de uma livraria, ele estaria catalogado e colocado na prateleira "Adultos que comem algodão-doce".
Esse livro é de meus filhos. Já o lemos várias vezes quando eram menores e vez em quando a Júlia ou o Bernardo se lembra dele e a recordação se dá na cama da mamãe com uma gostosa leitura!



O Limpador de Placas fazia seu trabalho lustrando a placa Rua Guimarães Rosa, quando um garotinho, que por ali passava com sua mãe, indagou quem era o Rosa. Um ônibus barulhento passou nesse momento e o Limpador não pode ouvir a resposta. Mas, aquilo o afetou. Ele limpava placas com nomes importantes e não sabia absolutamente nada a respeito deles.
Naquele mesmo dia, chegando em casa, fez uma lista com os nomes que constavam nas placas que limpava. Soube que alguns eram poetas, escritores, músicos, compositores.
Primeiro inspirou-se nos compositores. Abriu o jornal e procurou algum concerto para ir.


Passou a trabalhar asssoviando serenatas, óperas.

"As pessoas que passavam ouviam o limpador e paravam, admiradas, de olhos fixos na escada azul. É que elas nunca haviam visto um limpador de placas como aquele. Quase todos os adultos acham que algumas pessoas servem só para limpar placas, outras só para escrever poemas, ou melodias. Às primeiras, denominam trabalhadores; às outras, pessoas cultas e eruditas. O fato de alguém fazer as duas coisas ao mesmo tempo deixava essa gente tão atrapalhada que todo o seu modo de pensar desmoronava, desmanchava-se como um papelzinho no meio do fogo".


Passou a ser o frequentador mais assíduo da biblioteca do bairro onde retirava livros dos grandes escritores, lia poesia.
Lamentou ter demorado tanto a ler. Não perdia tempo, porém.


Passou a ser admirado, foi a programas de tv, nunca deixou de trabalho de limpador de placas, mas agora passou a receber carinho das pessoa. O carteiro lhe trazia sacolas cheias de cartas. Era feliz na sua simplicidade!

E sempre que líamos a história, nós pensávamos: que linda história, pena que nunca vamos encontrar um Limpador de Placas.

Será? 

E saindo da imaginação dos livros infantis me deparei com duas histórias, com duas possibilidades de placas.

Existem sim limpadores de placas! O artista plástico Rodrigo Machado e os cineastas Gustavo McNair e Filipe Machado, cansados de reclamar dos problemas de São Paulo, criaram o projeto Serviços Gerais que limpa placas, faz pequenos reparos, limpa estátuas.

Conheça e trabalho deles clicando aqui.

E outra intervenção bastante interessante relacionadas às placas, vem da mães! Especialmente mães de motoboys:

Imagem do site Razões para Acreditar

Fiscalização de mãe! Gostou?
Tem vídeo também:



Eu adorei saber que existem limpadores de placas espalhados por aí!




11 comentários:

  1. Que lindo!

    Limpadores de placas, já vi na estrada. :) Nas ruas das cidades não!

    Sou uma adulta que come algodão doce e não pode ver um pipoqueiro! kkkk Adoro passear pela setor infantil das livrarias!

    Beijos

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  2. Ana Paula, que doçura de livro!

    Um encanto essa história e que bom que aguçou a curiosidade do limpador e assim ele aprendeu e com isso, muito melhor viveu, com certeza. Adorei!

    E saber desses limpadores de placas verdadeiros é legal.

    E as mamães que "melhoram" as placas, tudo de bom! MARAVILHOSO post!

    Aliás, isso é normal aqui! bjs, linda semana,chica

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  3. Que legal, adorei a ilustração e a história.

    bjokas =)

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  4. Que história linda e cheia de encanto , um exemplo que podemos através do propósito e do conhecimento mudarmos a nós mesmos e ao nosso redor. Fiquei louca pra ler este livro. e ele no fim ainda continuou limpnado placas? fosse eu que escrevese o livro colocava que de tanto ler e ter acesso á cultura se tornou um artista e um escritor e das placas ele agora se via, seu nome e a sua linda história de coragem para mudar sua realidade. Bjs Ana obrigada pelas dicas lá no blog, quando tiver bC , pq as vezes o blogspot não atualiza , me avise e quero participar, bjs

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  5. Olá, Ana! Texto incrível! Sabe como a partilha de boas iniciativas sempre me agrada!
    Embora professora não conhecia essa incrível história! Com certeza irei pesquisar mais sobre o livro!
    Achei a ideia de manter as placas em ordem e da "fiscalização de mãe" genial! Apelos para o respeito ao trânsito e à preservação humana.
    Abraços!

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  6. Quero ler esse livro!
    Coisa gostosa de se ler.
    E essa placa, meu filho pare por favor, vou mandar pra meu filho motoqueiro.
    Beijos Ana Paula.

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  7. Olá,com licença.Adorei seu post!
    Já presenteei uma de minhas netas com um exemplar.E já li e reli o "Limpador de Placas".A mensagem que nos passa de como é bom,gratificante se encantar com o conhecer,independente da situação social em que se enquadre,é o ponto forte da história,na minha opinião.
    Parabéns pelo blog,parabéns pelo belo post.
    Um abraço
    Lau

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  8. Gostei da história, bem carismática!

    The Neighbourhoods
    http://theneighbourhoods.blogspot.com/

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  9. Que legal, o livrinho, Ana Paula!
    E eu não conhecia uma placa como esta ao final do seu texto, realmente muito sui generis!
    grande abraço carioca


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  10. Acho que os adultos deveriam ler livros infantis de vez em quando pra retomar toda a doçura da infância. O tempo passa rápido demais e quando nos damos conta os filhos estão ziguezagueando pelas ruas com suas motos, levando nós, as mães, à loucura!
    Que história mais gostosa essa...
    Beijos, boa semana!

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