terça-feira, 3 de julho de 2012

Carro de bois e smartphone



"Era o carro de bois do carreiro Anselmo que costurava os sertões, trazendo notícias e suprimentos ( ... ) " *
O sinal sonoro do carro de bois chegando à fazenda Paraíso, era para Cora Coralina uma janela que se abria para o mundo através das cartas, jornais que vinham de longe. Aquela sonoridade devia lhe trazer uma enxurrada de sentimentos.
Assim ela expressou:
"Uma festa, apurar o ouvido ao longínquo cantar do carro/ avistado na distância/ esperar as novidades que vinham: cartas, livros e jornais" ( Cora Coralina Vintém de cobre - meias confissões de Aninha ).
Seriam as mesmas sensações avivadas pelo cantar do carro e pelo sinal sonoro dos nossos smartphones?
Cora e tantas outras moças e moços e velhos e velhas,  viviam suas emoções até a volta lenta e demorada do carro de boi, do giro vagaroso e rangido de suas rodas de madeira.
E nós? Com a velocidade quase instantânea das nossas mensagens, e-mails, estamos conseguindo saborear as sensações? Ou será que essa enxurrada de sinais sonoros, luminosos nos nossos smartphones está nos afundando, distanciando de nossas próprias emoções?

Uma notícia, em tom de brincadeira, relata uma moda nos Estados Unidos chamada de Phone Stacking, ou Empilhamento de Telefone.
As pessoas reunidas à mesa de um restaurante, colocam seus celulares no centro da mesa com a tela voltada para baixo e aquele que sucumbir aos apelos sonoros do seu aparelho, perde a brincadeira e paga a conta.
Esta maneira "divertida" de encarar um almoço em família ou entre amigos, revela o resultado de uma pesquisa que aponta que 47% dos americanos entre 17 e 34 anos de idade, usam o facebook, twitter ou mensagens na hora de comer.
A brincadeira é uma boa maneira de medir quão viciados em redes sociais estamos, nós e nossos amigos.

Aumentamos surpreendentemente a velocidade do carro de boi para a chegada de nossas cartas, notícias e agora nos aprisionamos nas janelas luminosas dos nossos aparelhos de comunicação.
E você, vai pagar a conta?

* trecho do livro - Cora Coralina Raízes de Aninha.


Este texto eu havia enviado e foi publicado em um blog coletivo que infelizmente foi fechado. Agradeço à Aleska pela oportunidade.

7 comentários:

  1. Eu acho que estou me tornando uma vicia em redes socias, preciso me controlar.
    Vou me policiar mais. rs
    bjs

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  2. Minha querida Ana, eu não pagaria a conta NUNCA!
    Não sou viciada em celular, aliás, fico bem irritada com essa coisa de me encontrarem em qualquer lugar e eu ter que dizer onde estou.
    Faço parte da turma mais velha, não muito dada a dar satisfações e a falar em público no telefone.
    Portanto, não atenderia (a não ser que estivesse preocupada aguardando um telefonema).
    No Face eu abri uma conta para acompanhar minha nora lá em Piracicaba mandando fotos dos netos.
    Não posto, apenas vejo as mensagens e as fotos dos filhos e netos.
    Portanto ainda não sou uma viciada.
    Agora...nos blogs eu adoro viajar e se pudesse ficaria horas!
    Adorei sua postagem, bem interessante e gostosa, como sempre.
    Faz a gente pensar. Beijos querida, boa noite.

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  3. Menina eu ia ser arroz de festa nos encontros pois sempre ia guardar minha grana, deixo de atender o meu sem crise, deixo ele casa, deixo de lado, deixo sem carregar...
    Não resisto é a abraços, saudações, voz, presenças.
    Amei o texto e a brincadeira, vou propor por aqui ;]

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  4. Oi, tudo bem?

    Meu nome é Patricia e faço parte da equipe de um site sobre moda e sapatos - Brandsclub.com.br - você conhece?

    Bom, após ler seu blog algumas vezes, quero lhe dizer que o achei bastante interessante!

    Estou buscando blogs que estejam em sintonia com nossa forma de pensar e queria saber se você tem interesse em fazer parte de uma parceria. Seria muito bom se houver como nos ajudarmos.

    O que acha? Aceita o convite?
    Aguardo sua resposta!

    contato: blog@brandsclub.com.br

    Beijo
    Patricia

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  5. Quantas pessoas andam assim ultimamente! Estão ao lado de outras e nem desfrutam da companhia. Ficam só com seus aparelhos e clicando o tempo todo. Pena!!Só perdem!! Lindo!!beijos,chica

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  6. Eu sou impressionada com a evolução tecnológica e a rapidez que deu para a comunicação, sempre digo as minhas filhas que faço parte de uma geração que viu essa evolução correr a passos largos e rápidos. Acho que nunca foi tão rápida como esta sendo de uns 30 anos pra cá.
    Aprendi no primário hoje ensino fundamental as diferenças entre carta, bilhete e telegrama e nesse momento da minha vida jamais imaginava que um dia iria aprender os diferentes meios de comunicação virtual.
    Quanto fiz 15 anos recebi de meu pai que estava viajando a dias um telegrama, onde dizia...
    Feliz aniversário! Papai saudoso! Que felicidade, nunca tinha recebido um telegrama na vida!
    Foi tão importante pra mim que até pouco tempo tinha esse telegrama guardado.
    Esperava ansiosa pelas cartas das minhas primas, contando as novidades. E os bilhetes dos rapazes. Como era bom abrir o caderno e ver um bilhetinho bem dobradinho com palavras, versos e galanteios.
    Somos nós que vivemos outra geração que comparamos e temos momentos saudosistas, e dou graças a Deus por isso, por ter tido essas duas experiências. Quanto a essa geração que já nasceram no meio de toda essa tecnologia, não fazem nem ideia das “sensações avivadas pelo cantar do carro” hoje a sensação boa para eles e o “sinal sonoro dos smartphones” .
    O que mais me entristece com isso é que a evolução tecnológica foi mais rápida do que a evolução moral e ética, daí percebemos o quanto de informações desnecessárias chegam na nossa porta (telas) sem pedir licença.

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  7. Ana Paula, muito oportuna essa sua postagem. Infelizmente estamos passando do "ao vivo" para o "virtual". É tão gostoso encontrar pessoas amigas, e com um simples olhar, perceber que não estão bem ou tem algum problema e consequentemente conseguir aliviar ou ajudar a esclarecer dúvidas (que se transformam em verdadeiras torturas) pelas quais já passamos e pudemos solucioná-las.
    A comunicação "olho no olho" é mais sensível à sinceridades e falsidades. O calor da conversa ajuda o relacionamento e ensina o tolerar-se.
    Enfim... viva o carro de boi da Cora Coralina!
    Beijo
    Manoel

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