quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Falar de morte

Foram muitas vezes que já pensei em escrever sobre este assunto, mas não se desenvolvia de maneira espontânea. Deixei amadurecer um pouco mais.
Minhas crianças nasceram com o tema "morte"muito próximas a elas porque cedo entenderam a inexistência de avós maternos e com este entendimento as inevitáveis perguntas.
Dia desses, num restaurante bem familiar, porque além de conhecermos os donos, conhecemos também seus adoráveis gatos, deixei as crianças à mesa enquanto fui pagar a conta e demorou um pouquinho, quando fui abordada por uma simpática senhora que me perguntou se eram meus filhos e ao ter a confirmação foi me dizendo: "Mas como é que eles conversam de morte assim como se estivessem falando de brinquedos?"Levaria mais tempo do que eu dispunha para explicar-lhe o porque disto!
Quando ainda sem filhos, participei em um hospital de um ciclo de palestras que era, digamos, obrigatório para quem fosse prestar trabalho voluntário ali. Foram todas excelentes e uma em particular me marcou. Lamento não ter anotado o nome da pessoa, talvez hoje encontrasse algum livro, blog quem sabe...
Era uma professora da PUC-SP que falou sobre a morte sem adentrar nas crenças. Trouxe uma abordagem de como o assunto era visto em algumas regiões do mundo e principalmente em algumas regiões do nosso Brasil. E a maioria, moradores  de grandes  metrópoles, teve mesmo uma reação de surpresa.
Ela nos dizia que o assunto era tabu nas grandes capitais. A morte estava tão terceirizada, tão distante que sua própria compreensão era dificultada por todo este aparato.
Contou-nos que em muitos lugares o funeral é feito na casa das pessoas, traz-se a mesa da cozinha para a sala e ali fica o caixão, as crianças ao redor, entram e saem e claro brincam com as outras que também chegam. Contou-nos também do estigma sofrido pelos coveiros, geralmente não conseguem relacionamentos afetivos, porque são vistos como pessoas de mal agouro. E tantas outras coisas que ela nos contou naquela noite e que ficaram marcadas em mim.
Conversei desde cedo com as crianças, ensino-as a respeitar as crenças das outras pessoas, estimulando seus pensamentos a respeito do tema, seus sentimentos. E esse é o motivo porque conversam tão naturalmente. Porque é assim aqui em casa, é um sentimento que tem dor sim, mas eu sinto que é necessário ser conversado.
Hoje o que me fez escrever escrever foi o post de uma querida amiga virtual, a Lua Dandara, onde ela descreve com a suavidade de uma flor um funeral sueco. É uma delicada emoção que vale a pena sentir.
Lua, querida aprendi mais um pouquinho com você. Obrigada.
Conversarei mais tarde com as criancas sobre este tipo de funeral lá na Suécia. Vou esperar por comentários deles. Depois conto.

Um comentário:

  1. Olá Ana Paula! obrigada por visitar meu blog e me dar a oportunidade de conhecer o seu. Sou blogueira novata, mas não novata na vida.
    Ao ler seu post sobre a morte, vieram-me lembranças do funeral de minha mãe, muitos anos atrás.
    Eu tinha 10 anos e hoje tenho 62. Como vê, faz muito tempo. E a mesa da cozinha foi colocada na sala, o caixão em cima, as pessoas sentadas em volta.
    O entra e sai de crianças, inclusive meus irmãos menores, que não sabiam da gravidade da situação.
    Eles corriam e passavam por baixo do caixão, rindo...
    Como vê, as coisas mudaram muito.
    Vou ler mais do seu blog conforme o tempo permitir. Adorei o que já li. Beijos e obrigada novamente.

    ResponderExcluir