terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sem título

Havia um prazo para a poesia
vir para o papel
pontilhá-lo todo em forma de palavras
Esperei

Esperei não ouvir nenhuma bala perdida
estilhaçar a fina camada de sonhos da criança
Esperei pelo silêncio
Fungava, abafando o som com o travesseiro,
a mãe do filho que a droga levou
Esperei que as mulheres do Congo
não fossem mais estupradas
nem precisassem guardar o pouco dinheiro
em suas genitálias
Esperei tanto que o prazo ameaçou
partir e deixar a poesia

Mas havia morangos
adocicando o ar poluído da metrópole
Havia uma menina estuprada
que trazia no olhar o desejo de um príncipe encantado
Havia um menino que desejou
que desejou ser o príncipe
e um dia deus olhos irão se encontrar

A poesia chegou
Vermelho sangue
Vermelho morango
Papel adocicado
Poesia no prazo

7 comentários:

  1. Poesia linda, versos intensos! Inspiração maravilhosa! beijos,chica

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  2. Olá Ana Paula.
    Amei esta poesia, emocionante que chegou a apertar o coraçãozinho.
    Beijinhos da Verinha.

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  3. Adoro poesia...
    Essa é simplesmente linda ;)
    Bjs

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  4. Ana Paula querida!
    Quanta sensibilidade...emocionei-me!
    Quanta coisa passou pela minha mente com essa poesia!
    Fiz até uma prece ao Senhor para tocar os corações, amenizar o sofrimento de seus filhos, trazendo paz...
    Abraços! Linda tarde pra ti.

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  5. Poesia intensa. Versos firmes que trazem à tona nossa infeliz realidade!

    É uma pena que esses casos de violência aconteçam com tanta frequência atualmente, que até nos acostumamos com as notícias nos jornais.
    É uma pena que não haja um combate eficiente à violência em nosso país.
    Nos resta apenas orar para que Deus nos proteja e afaste todo mal de nós e daquelas pessoas que nos cercam.

    Ao ler a poesia, imaginei todas cenas, ouvi os sons e senti os aromas contidos nela!
    Como tudo aquilo que você escreve, a poesia foi muito bem escrita.
    Meus parabéns.

    Sou sua fã Ana!

    Beijos, Marcilane.

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  6. Ana, admiro demais quem consegue colocar seus pensamentos em forma de poema.
    O seu, melancólico e triste, mas no final com um fundo de esperança, ficou muito bom!

    => CLIQUE => ESCRITOS LISÉRGICOS...

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  7. Sabe, esses dias também andei meio triste com esse mundo, tão cheio de violência. Mas então vi um filme, sobre as crianças roubadas no Sudão, estupradas e obrigadas a matar, e a frase de um menino me devolveu esperança. Ele dizia à um adulto, sem fé na humanidade, de que não podemos endurecer nosso coração para não nos tornarmos iguais aos selvagens humanos com os quais dividimos esse planeta. Seria uma forma de não deixá-los vencer essa batalha. Lindo, não? Acho que sua poesia traduz um pouco isso.

    Um abraço carinhoso, Ana Paula!

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