quarta-feira, 29 de abril de 2015

Carmela Caramelo

Comprei uma revista pois queria uma leitura descontraída, livre de uma sequência, leve, rápida.
Mas fui paralisada ao abrir a revista. Ali, na chamada segunda capa, uma publicidade - toalha antiformiga. Fiquei por ali mesmo.


As formigas da minha infância eram de um marrom bem escuro e subiam apressadas pelo tronco do pessegueiro e creio, nunca lhe fizeram mal. Ele floria bonito e alimentava os passarinhos que eram sempre mais rápidos que meu pai a colher um fruto.
Espantei-me quando numa estradinha de terra me mostraram uma saúva.
Já adulta aprendi a, antes de dormir, pegar um prato fundo, colocar água, um copo no centro e o prato com alguma guloseima por cima do copo. Disseram-me: formiga não sabe nadar, a gostosura fica a salvo.
Nem sempre, pois me lembro de uma vez da gostosura descia um papel seda com franjas e as formigas ficaram na ponta das patas para alcançar com os braços a ponta de franja e fizeram sua festa particular.
Todas esses coisas que eu me lembrando, era apenas para chegar à principal.
À doce Carmela Caramelo.
Uma senhora de corpo franzino que um dia me pediu para ir ao centro comercial da cidade e compra-lhe uma caixa de giz.
Colorido? perguntei.
Não vou brincar de amarelinha, ela respondeu sem doçura.
No caminho, sem saber o porquê eu estava comprando giz branco, desci com meu corpo miúdo até a sala dos professores do colégio onde estudava para obedecer ( feliz ) ao pedido da professora Sônia - vai até lá e enche a caixinha com giz colorido. Segurei com cuidado aquela preciosidade de madeira.
Ao chegar naquele local meio misterioso, meio proibido, alguém perguntou o que eu queria e me indicou um canto da sala. Lá estava! Uma enorme caixa cheia de giz branco e outra igualmente enorme com os coloridos.
Escolhi um a um, devia ser para me demorar bastante diante daquela maravilha. Um verde água, o amarelo, aquele salmão tão lindo, azul, cor de rosa.

Comprei os branquinhas da senhora. E naquela mesma tarde vi Carmela acocorada riscando o chão.
Só então me revelou:

Um homem muito sábio que mora embrenhado lá na mata da praia foi que ensinou. O giz branco atrapalha os olhos da formiga; precisa ser em listras e elas nem entram em casa.

Deve ter funcionado, porque a doce Carmela nunca me pediu para comprar qualquer inseticida e ela fazia feliz doce de goiaba.
A sabedoria do velho da mata da praia deve ter funcionado.

Chovia, Carmela esperava o chão secar e lá ia rabiscar.

Olhei bastante para a foto da revista. Era isso! A tal toalha antiformiga tinha listras feito o giz branco de Carmela no chão. Era isso que confundia os olhos das formigas.

Eu só me arrependo de ter estragado toda essa doçura ao procurar na internet o que era uma toalha antiformiga.
Vou esquecer a pesquisa e guardar comigo o chão riscado de giz branco da doce Carmela!

8 comentários:

  1. Que bom ver essas coisas, ler coisas mágicas assim! Adorei a sabedoria da Carmela e bem melhor ficar com ela, não? Não se pode perder essa doçura! E ela o tem até no m=nome... ADOREI! bjs, chica

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  2. É o melhor que você faz!

    De giz e formigas lembro de um senhor que a muito já rabisca no céu, que comprava giz próprio (será?) para formigas e devia segundo as instruções fazer riscos retos com espaço medido de um a outro por onde as formigas perambulavam.
    Ele escreveu: Aqui tem veneno formigas (ou algo assim), no armário da cozinha.

    De formigas e mel a história que não sei se vc leu lá no blog ou se te contei, de que havia na minha infância o sagrado e cotidiano mel de antes de dormir, uma colher para cada (eu e minhas primas na casa da minha Tia Nélia).
    Na oferta, uma época, na fila ouvíamos a pergunta: - Com rosca (havia caído dentro da garrafa a danada) , com formiga, com rosca e formiga ou puro? Eu sempre pedia o completão (rosca, formiga e mel), por traquinagem e pq meu avó dizia que formigas eram boas para vista...tamanduá de óculos não se vê por ai, é um fato, tão sábio meu avô né?).

    De formigas apenas, recente história (tenho muitas com formigas sabe, uma da escola inclusive que é clássica), a recente é com Zaion. Lupas de meu pai nas mãos (uma na minha e outra na dele), bonés e chapéus de Tio Marcos para sol ou chuva, fazemos buscas, catalogação, aventuras.

    Toalhinhas e inventores azedos, estragadores de histórias, minhas, suas, da Disney, da natureza...

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  3. Oi Ana!

    Eu achava lindo o escrever macio do biz no quadro... Saudade desse tempo bom. As formigas me encantam. Menos no bolo ou no açucareiro. Mas essa toalha nunca ouvi nem falar.
    Beijos! 💋😊😘😘😘

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  4. Ounnn Ana como eu amo te ler. Histórias que ns prendem, que revelam nossa infãncia, que nos faz lembrar das crendices que funcionam. Olha aqui em casa tem muita formiga hehe, mas soube que era mesmo bom colocar limpol e um pouco de água ai elas vão levando uma á outra e morrem, o giz branco soube que é bom para eviar mofo então em casa tenho sempre um no fundo das gavetas, dos que a Alice adora rabiscar na escolinha com aamiga vizinha. Ah! que bela história da Dona Carmela, e que delícia os caramelos, o doce de goiaba, o teu pai pegando a fruta no pé, tanta coisa linda escrita dentro d enós que aflora nos teus esccritos. Tem novidades no blog, bjs

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  5. Adorei a crônica, Ana Paula!
    Também fiquei intrigada com essa propaganda da toalha, mas nunca pensei que fossem as listras!
    Bjs e bom feriado

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  6. Oi, Ana Paula!
    Não sabia que as riscas de giz deixam as formigas tontinhas... Aqui em Cabo Frio, tanto as formigas como os mosquitos tem comportamento estranho. Acho que o calor afetou seus nervos. As fornigas nadam... E como sobem até o meu apartamento não dá para fazer as riscas. É sério isso? (rs*)
    O Otto não tinha sossego com elas e mesmo com o pote antiformiga, elas faziam ponte para chegar em sua comida. Daí me ensinaram a colocar detergente no lugar da água que elas fugiriam. Não deu outra. Você sabe que o detergente destrói suas carcaças?
    Vou ficar matutando sobre essas toalhas...
    Beijus,

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  7. Toalhas anti-formigas! Ê mundo moderno!
    Adorei seu texto!
    Beijo

    querendoserblogueira.blogspot.com.br

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  8. Que doçura é essa crônica!Adorei!!
    Não sabia da toalha anti formigas. Vou fazer uma toalha listrada para testar se der certo te falo!
    Será que tem que ser azul e branca?
    Ana, ainda continuo sem o meu PC e por isso ausente dos blogs!
    Beijos
    Amara

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