quarta-feira, 1 de abril de 2015

Reflexões sobre a morte

Ainda era bastante cedo no sábado, quando eu e marido caminhamos até a padaria. No balcão, próximo à saída havia um cartaz convidando para um filme que seria exibido, no mesmo dia à tarde, num auditório e após, haveria uma discussão com profissionais da psicanálise.
"Preciso ver esse filme" - foram as palavras de meu marido.
Não fomos. Lamentei, mas a imagem que estava no cartaz não saía da minha cabeça.


Fui procurar na internet. Não sou muito boa para encontrar filmes; fui no bom e velho youtube e lá estava.
É um filme japonês de 2008 de Yojiro Takita, eu nunca tinha ouvido falar.
A morte é o tema central e há tanto nas entrelinhas.
Neste mesmo dia encontrei um antigo livro, A Arte da Felicidade de Dalai Lama e Howard Cutler com uma história sobre a morte que eu já havia falado aqui no blog, mas não coloquei a história e sim o que eu me lembrava dela.
Antes de falar mais sobre o filme quero costurar aqui a história:

"Na época do Buda, uma mulher chamada Kisagotami sofreu a morte do seu único filho. Sem conseguir aceitar o fato, ela corria de uma a outro, em busca de um remédio que restaurasse a vida da criança. Dizia-se que o Buda teria esse medicamento.
Kisagotami foi ao Buda, fez-lhe reverência e apresentou seu pedido.
 - O Buda pode fazer um remédio que recupere meu filho?
 - Sei da existência desse remédio - respondeu o Buda. - Mas para fazê-lo, preciso ter certos ingredientes.
 - Quais são os ingredientes necessários? - perguntou a mulher aliviada.
 - Traga-me um punhado de sementes de mostarda - disse o Buda. A mulher prometeu obter o ingrediente para ele; mas, quando ela estava saindo, o Buda acrescentou um detalhe. - Exijo que a semente de mostarda seja retirada de uma casa na qual não tenha havido morte de criança, cônjuge, genitor ou criado.
A mulher concordou e começou a ir de casa em casa à procura da semente de mostarda. Em cada casa, as pessoas concordavam em lhe dar as sementes; mas, quando ela lhes perguntava se havia ocorrido alguma morte naquela residência, não conseguiu encontrar uma casa que não tivesse sido visitada pela morte. Uma filha nessa aqui, um criado na outra, em outras um marido ou pai haviam morrido. Kisagotami não conseguiu encontrar um lar que fosse imune ao sofrimento da morte. Vendo que não estava só na sua dor, a mãe desapegou-se do corpo inerte do filho e voltou ao Buda, que disse com enorme compaixão:
 - Você achava que só você tinha perdido um filho. A lei da morte consiste em não haver permanência entre todas as criaturas vivas. Ninguém vive sem estar exposto ao sofrimento e à perda."

No filme, a morte é retratada em seu momento final: a preparação do corpo. Tudo com absurda poesia.

"Fazer reviver um corpo frio e dar a ele beleza eterna. Isso tudo feito com muita tranquilidade, precisão e sobretudo com infinito afeto. Participar do último adeus e acompanhar o morto em sua viagem. Nisso eu percebia uma sensação de paz e extraordinária beleza"- do filme A Partida.

Um filme de 2h e 10min. Um filme soberbo.


Uma Feliz Páscoa a todos!


12 comentários:

  1. Que bela abordagem sobre esse tema que nem sempre queremos pensar, não para nós, mas para ver os nossos partirem! Belo ensinamento de Buda. A morte ronda todos os lares, mais dia, menos dia, ela chega pra alguém...

    Deve ser maravilhoso o filme. Deixo anotada a indicação! Só pelo cartaz dele, já podemos ver que é dos que tocam a alam... bjs, lindo abril e FELIZ PÁSCOA! chica

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  2. Eu acho que já tinha ouvido falar desse filme. Deve ser muito bonito mesmo. Tem um livro espírita muito interessante que fala sobre morte. Chama-se "na hora do adeus" e ele está longe de ser triste ou mórbido. Sem falar qeu a minha monografia foi sobre morte, então se eu vir esse filme em algum lugar eu vou assistir sem prblemas. ah, te indiquei numa tag, se tiver tempo vou adorar ver as suas respostas. beijos!

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  3. A gente teme morte, eu mesma não vou ver quem morreu, não é pq eu teha medo , sei que amigos quando partem ficam no repouso do Senhor, é que talvez prefira a lembrança da vida, e também na minha memória há a dor de ver meu avô querido inerte no caixão, desde ai não olho, se vou a um velório e preciso por amar a família me aproximar, vou mas finjo não ver, me esgui, escureço os olhos, a morte é tão triste, há porém por trás dlea maior de todas as alegrias, reencontrar o Criador, e ai ela deveria ser um caminho para este encontro, mas sabe pq sentimos dor e tristeza, medo ao pensarmos na morte? É pq não fomos feitos para morrer, e sim para termos vida eterna ao lado de Deus. Bjs

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  4. Oi Ana Paula,

    Esse é um dos meus filmes preferidos! Em português ele se chama A Partida. Já o vi muitas vezes e sempre me emociono muito. Fico particularmente tocada com as cenas dos créditos finais, com a delicadeza com que ele prepara aquele corpo. Será que em vida nos tratamos com a mesma delicadeza?
    Já o indiquei lá no blog, mas faz algum tempo, está na página filmes.
    Ele é um filme que transforma.
    Bjs querida e uma Feliz Páscoa para você e sua família

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  5. É um assunto temido mas necessário...
    Vou procurar pelo filme.
    Bjs

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Vi nos comentários que alguém vai procurar o filme e está aqui o link e também o nome em Português, deve ter sido a emoção, empolgação, leitura dinâmica talvez.

    É nosso não ser criado para lhe dar com a perda, com a dor, ainda que saibamos da partida, quando ela acontece, temos dificuldades para lhe dar com a realidade.

    As abruptas e violentas doem ainda mais, eu bem sei da minha dor nessa Páscoa.

    E sobre ver alguém morto (que Paula comentou) não me causa aflição, causa-me aflição ver colocar na cova, tampar o caixão, fico a pensar na pessoa lá, mas não está ali, está em nós, o espírito não vai com a carne para os que creem.

    O que a pessoa era por dentro é ao que temos que nos apegar e sim, sou de me apegar, de manter vivos os mortos, de estar entre mim seus nomes, memórias, fotos...

    Sobre a morte um livro lindo que li é "Através do espelho" de Jostein Gaarder.
    O filme verei numa outra ocasião, estou sem forças.
    Valeu a dica!
    Acho que vale qd em vez ou sempre falar da morte para se dar mais valor a vida ;)

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  8. Há muitos anos atrás visitei, em SP, uma exposição sobre a arte e cultura chinesa. Eu chorei quando vi o exército de soldados feitos em terracota que protegiam o túmulo do imperador. Ao longo da exposição vi outras esculturas, feitas para homenagear os mortos, de maior ou menor poder aquisitivo.
    Neste dia eu aprendi que a morte é a única certeza que temos desde o nosso nascimento e devemos estar preparados para este dia.

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  9. Taí um tema difícil de pensar. Por mais que saibamos que ela vira, mais dia menos dia, acho difícil pensar sobre ela. E peço a Deus para que a mantenha distante de mim e das pessoas que amo. Até quando? Só Ele sabe. Esse é um filme para ser visto com calma e muito lenço de papel, pelo visto. Assim que puder vou assití-lo. Obrigada pela indicação e por nos lembrar desse tema difícil, mas necessário.
    Beijo, flor!

    querendoserblogueira.blogspot.com.br

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  10. Não me lembro de ter chorado tanto no cinema quanto em Okuribito. Sem falar na música tema, que é maravilhosa.

    https://www.youtube.com/watch?v=UiyFeT0Tpkk

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  11. Oi, Ana Paula!
    Já salvei o link do filme para assistir no final de semana.
    No passado era a família que preparava o corpo. Agora são os agentes funerários... penso que é uma invasão para a pessoa que está partindo, pois já lhe basta a degradação de uma autópsia... Penso que deveria ser como a parte do filme que destacou ao final.
    A minha mãe sempre planejou sua morte de forma prática. Hoje compreendo. Ela sempre começava: "Quando eu morrer..." e dizia de todas as providências que deveríamos tomar quando ela partisse. Quando aconteceu, seus documentos estavam todos organizados e por cima, o primeiro de todos, a nossa primeira ação: a escritura da sua lápide no cemitério. O advogado disse-nos que nunca pegou um inventário tão fácil de realizar.
    Minha mãe também falava sobre como deveríamos entender a morte, mas não gostávamos e nunca deixamos que falasse tudo o que pretendia. Ela tentou várias vezes nos dizer e só fui entender suas preocupações depois que partiu e agora tenho a impressão que estou agindo como ela... rs.
    Não tenho medo da morte, estou preparada. Mas temo por minha família... De duas uma, alívio ou tristeza (rs*). Mas tudo se ajeita...
    Feliz Páscoa!!
    Beijus,

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  12. Olá Ana Paula,
    Tema difícil de lidar.
    Tudo apela ao nascimento, gerador de alegrias. Morte é perda, sinónimo de tristeza e, em alguns, receios: ou de não ter tempo, ou do que virá.
    De qualquer maneira, considero importante honrar os mortos, penso que quem não honra seus mortos, não merece respeito, é facto.
    No que passou é que reside nossa essência, nossa história. Se não, é apenas um "viver por viver", que nem as modas.

    Um bjo amgo

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