domingo, 10 de julho de 2011

Registros

As crianças chegaram de seus dias de fazenda coradas, cheias de histórias boas e engraçadas, mas houve um pormenor.
Bernardo esqueceu a máquina fotográfica.
E isso rendeu boas conversas e reflexões...

Na última aula do kumon, a orientadora disse que faria um mural com fotos das férias das crianças, para quem quisesse, poderia levar. E o Bernardo estava determinado a ilustrar o mural. Pediu-me a máquina, prometeu todos os cuidados necessários. Eu, carreguei bateria, dei umas orientações, disse que seria legal ele experimentar além do modo automático, entreguei-lhe a máquina e pedi que guardasse, porém ele esqueceu.
Por telefone ele me perguntou e eu confirmei o esquecimento. Chorou, mas não havia o que fazer.
A julgar pela cor marrom-terra de suas roupas e meias (sempre as meias!), o desalento pela máquina esquecida não deve ter durado muito.
Mas, já em casa, manifestou seu desapontamento consigo pelo esquecimento. E estava realmente triste, dizendo que não tinha registrado o lugar, as pessoas, momentos bons. Os olhos marejaram.
E meus olhos viajaram. Viajaram para uma época em que não havia fotografia. Não havia fotografia dos meus pais crianças. As minhas eram poucas, pequenas, tremidas e muitas vezes borradas.
Lembrei disso numa conversa doce, porque eu queria confortá-lo. Falei de muitas coisas que vivi e que não foram registradas, nas paisagens que meu pai descrevia e eu imaginava. E tudo isto tinha sido vivido, assim como todas as coisas que ele viveu nestes dias de fazenda. Aquilo importava.
Acostumamo-nos com a tecnologia, com a facilidade das imagens imediatas. Porém há tantos momentos que não são fotografados.
O primeiro olhar que você recebe da pessoa amada, está armazenado na sua memória. Quem é que tem a foto do primeiro olhar, e do primeiro beijo então? (Ainda mais se ele foi roubado!).
Claro que eu entendi a chateação de meu filho.
Foi bom a nossa reflexão, juntos, valorizando além das imagens “palpáveis”.
E houve outra conversa, que tive só comigo.

Acho que existem momentos fotográficos que não deveriam existir. Ou melhor explicando, existem, para mim, fotografias que só ficam boas nos meios de comunicação, para quem quiser vê-las. Por exemplo, pessoas agonizando. Eu não gostaria de ter no meu arquivo pessoal.
Outro exemplo: eu não tenho fotos dos meus partos. Não acho, digamos, estético o momento do nascimento num parto normal. Para mim pode até ficar bom numa revista especializada!
Certa vez, uma senhora mostrou-me o conteúdo de uma caixinha que ela guardava, cheia de lembranças. E eu mostrei-me chocada. Haviam várias fotos de pessoas mortas no caixão. Ela me explicou que era usado na época. Era a última recordação da pessoa.
Uma recordação que eu não queria.
E você, o que acha? Não fotografaria algum momento?

9 comentários:

  1. Amiga!!!
    Tudo bem?
    Concordo contigo, amo fotos, mas me preocupo mais em vivenciar as emoções do que em tentar guardá-las numa máquina! Temos máquina e esquecemos sempre...é o hábito,rs!
    Essas fotos de caixão,deusolivre!Acho que tem momentos que não deveria ter uma máquina por perto, vários...Tadinho do Ber, imagino a frustração, ele se sentiu responsável, mas terá outras oportunidades de fotografar os amigos!
    Um beijãoooo
    boa noite!

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  2. Oi querida
    Vc esta certa, alguns momentos eu tbe nao fotografaria...principalmente de mortes...
    Adorei o post. Adoro seu jeito de escrever.
    Tinha uma comunidade no Orkut que chamava "se meus olhos tirassem fotos" e li um livro que o personagem imaginava que tbe tirava fotos com o olhar e guardava na lembrança, bem poético.
    Grande beijo e uma otima semana

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  3. Amei ler sua postagem!!!
    E fiquei a pensar: És uma mãe muito sábia!
    Muito linda a reflexão que fizestes com seu filho.
    Grande abraço e uma semana abençoada pra ti!

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  4. Olá Ana, eu também não gostaria de ser fotografada em alguns momentos.
    Nos partos, nem pensar! A gente fica feia, suada, pálida. Isso é de um gosto meio duvidoso.
    Fotos de mortos eu também já vi, e fiquei horrorizada. Ainda bem que o costume não pegou.
    Jamais me deixaria fotografar ao acordar, cabelo desgrenhado, sem óculos, não enchergando nadinha.
    Ao acordar apenas as crianças são lindas...rsrsrsrs
    Gostei da postagem, você levanta um assunto bem interessante.
    Beijos, boa semana.

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  5. Gosto dos momentos alegres bem guardadinhos, mas confesso que fotografei meu último filho que era um danadinho e com apenas 1 aninho, mal caminhava e usava tipóia, pois o braço quebrara;. Ele ficou um amor! rsrs beijos,tudo de bom,chica

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  6. Esse Bernardo é muito figura!!
    Tadinho, foi esquecer justo a máquina. rs
    Concordo com vc que os momentos bons ficam guardados na memória, mas não tem preço ver aquela foto tremida ou borrada, rever o rosto dos queridos que já se foram deste mundo, que por muitas vezes a memória falha em alguns detalhes.
    Mas parabéns pela explicação que vc deu a ele! : )
    bjs

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  7. Adoro fotografias... Mas jamais tiraria foto de um querido no seu leito de morte. Aff! Acho de extremo mal gosto. Quero ter lembranças de momentos felizes e só.
    Adorei seu cantinho, e já estou seguindo.
    Muito obrigada pelo carinho da visita.

    Beijos

    Flavi

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  8. querida...
    muito obrigada por toda a força e apoio neste momento tão difícil pelo qual eu passei!
    só agora estou conseguindo dar uma passada por aqui, pois no início foi muito perturbador...
    meu coração estava realmente muito assustado, mas agora parece um pouco mais calmo!
    não sei o que faria se não tivesse 'vocês' ao meu lado neste momento tão delicado!
    super beijo,

    Lully's

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  9. oiiiiiiiiii
    tem selinho da Lully's lá no meu blog pra ti ;)
    passa lá!!!
    beijos,

    Lully's

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