domingo, 21 de outubro de 2012

A senhora dos aplicativos

Jovem, bonita, inteligente, bem sucedida financeiramente, independente.
Ah e profunda conhecedora e usuária dos gadgets.
Sim, gadet, que tem por tradução além de geringonça, aplicativos, dispositivos, ferramentas.

São aquelas "coisinhas"que instalam nos celulares para ajudar nas tarefas do dia a dia.
Já não vivia sem os tais aplicativos e achava exagero classificarem-na como viciada em aplicativos.
Facilitadores da vida - rebatia com classe.
Fim de expediente, chega em casa, ou melhor em seu apartamento, deixa os sapatos de salto altíssimo e com o celular em mãos controla a iluminação ambiente, liga o som.
Estirada no sofá, liga a secretária-eletrônica do telefone; difícil entender que sua mãe ainda usa aquilo quando bem poderia lhe mandar uma mensagem no celular, ou um e-mail seria melhor.
Ouve o conselho materno: tem trabalhado demais, precisa de um pouco de vida no campo.
Sua mãe tem razão, um pouco de ares campestres lhe fariam bem.
Um toque na tela do celular e ela vai para o campo, tirar leite de vaca. Precisava mesmo de um pouco da tranquilidade rural.


Após alguns baldes de leite, veio de repente uma solidão, uma ausência.
O namorado que agora já era ex.
Até que durou. Oito meses apesar de toda a reclamação dele de que era insuportável aquela mania que ela tinha de ficar  espremendo cravos de seu rosto mesmo nos momentos mais românticos.
Ficou péssima com o fim do relacionamento. Amigos sugeriram terapia. Ela optou por um aplicativo:
Sentia-se melhor. Até já recobrara a vontade de sair.
Hoje foi elogiada no trabalho. Era muito eficiente e intrigava a todos o fato de ser tão rápida quando ia ao banheiro. Como conseguia tal rapidez?
Segredo que não revelava:                                       
Aplicativo com barulhinho de água em três diferentes tons. Além de ser ecológico, porque não precisa manter a torneira aberta esperando a vontade do xixi e gastando água, era muito eficaz.
E podia também ser relaxante.
Era isso o que fazia sobre o sofá, ouvia a água para relaxar quando de repente um aplicativo pisca, soa avisando que dentro de algumas horas seu óvulo estará a caminho de ser fecundado.
Este era um projeto a ser concretizado: já tinha seu imóvel, sua estabilidade, queria agora um filho. O livro escreveria depois de plantar a árvore.
"Céus"disse para si mesma, tenho que me arrumar logo e sair ao encontro do pai do meu filho.
Lembrou-se que o pessoal do trabalho iria comemorar um aniversário.
Para lá que foi. Pouca luz pôs em ação um aplicativo que identificava futuros candidatos e ainda mostrava na tela como seria o rosto do futuro bebê.
Depois de identificar na tela do celular uns sete candidatos, partiu para cima do moçoiro.
Oi, quantos anos você tem, qual era a sua nota escolar para matemática, e filosofia, gosta?
Enquanto não tirava os olhos da tela e o pobre rapaz respondia acanhado com aquela situação, ela anunciou:
"É você, é você o pai ideal para nosso filho. Além de lindo ele poderá ser um gênio. Vem, vamos ao meu apartamento..."
Já ia arrastando o pobre moço quando este gritou para os seguranças.

O moço fora criado por sua dedicada mãe que lhe mostrou o mundo das princesas que perdiam sapatinhos. Ele não estava acostumado a princesas que corriam atrás dele e quase foi ele perdeu o sapato.
Ufa! Que sufoco.
E que geringonça era aquela que ela segurava nas mãos e não tirava os olhos?
Nem quis saber...

13 comentários:

  1. para tudo........rindo muito..........pior que conheço algumas pessoas assim.......eu por exemplo.....mas em vez de ser esses aplicativos, são todos para o Theo brincar.......(mas sem exageros......)

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  2. Sensacional! Essa crônica deveria ser publicada num jornal ou coisa assim. MARAVILHOSA e deve ter muita gente assim ou quase... Estou longe disso ainda, prefiro as emoções em tudo... beijos,tudo de bom,chica

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  3. Vim só desejar boa semana, volto com calma para ler e comentar :)

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  4. Ana Paula,o pior é que tem gente que já chegou nesse ponto!Já não conversam entre si,só por SMS...rrsss...excelente história!bjs e boa semana!

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  5. Olá Ana Paula,

    Feliz com sua presença.
    Gostei imenso da sua crônica, mostra um pouco da realidade de hoje.Escreveste maravilhosamente.
    Obrigada pelo carinho, já estou a te seguir.

    Beijos e ótima semana!

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  6. mt bom Ana! vc tem mt talento sabe?!

    fiquei pensando enquanto lia, em como fiquei impressionada esses dias nas minha ferias, qd voltamos, havia mts pessoas esperando o voo, numa sala, teve um momento que eu olhei em volta e nao havia uma pessoa sequer que nao estivesse mexendo nos tais aplicativos em seus celulares, menina fiquei impressionada! as pessoas parecem viver num outro mundo hj em dia, nao é?

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  7. Ana,
    bom demais matar a saudades do seu blog com esse texto!
    Vou procurar uma charge que vi recentemente sobre o assunto e te mandar por e-mail.

    Uma feliz semana!

    beijinhos :**
    Carol
    www.umblogsimples.com

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  8. que loucura! e pensar que existe gente assim mesmo!
    fico boba ao perceber que a maioria dos jovens andam digitando e olhando para sues celulares, o tempo todo!
    adorei sua crônica Ana, voce escreveu muito bem sobre esse problemas que logo se transformará em um problemão.
    tenho pena desse pessoal que depende dos seus "I.tudo" para tudo!
    parabéns, muito bom, beijos.

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  9. Ana mais que coisa linda! Acho que se vc tivesse participado do concurso da Elaine com esse conto tinha ganho. É realmente muito estranha essa época em que as pessoas fazem tudo com o celular. O meu até tem internet, mas nao utilizo pq é muito lenta, e o sinal é péssimo, mas agradeço ao meu pai por isso, se não acabaria virando um vegetalzinho. Vc devia se inscrever em concursos, daqui a alguns anos vai virar uma velhinha da ABL. rsss

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  10. Ana Paula, SENSACIONAL essa postagem. Gostei muito mesmo. Não sei se você me entende, mas o que mais me impressiona não é o texto e sim como uma cabeça (da Ana Paula) pensou tudo isso. A comunicação é engraçada quando levamos em conta a "bitolação" da Senhora dos Aplicativos. Em contrapartida é muito triste porque muita gente vem planejando uma vida assim e vendendo a ideia de conforto e eficiência. Eficiência para que???!!!
    Não seria muito mais bonito abrir um buraquinho na terra, colocar uma sementinha, fechar o buraquinho, marcar o lugar e sempre que necessário regar o local. Quando menos se espera consegue-se "criar" ou "adotar" uma planta qualquer com vida própria e muito mais eficiente que o celular da garota. E a planta nem vai precisar de "baterias" para "funcionar", né?
    Coisa de louco isso, rs...sr.
    Ana, sensacional essa sua "provocação anti-ecológica.
    Beijo
    Manoel

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  11. Muito bacana essa foto com o Bernardo.

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  12. Venho te convidar a participar do desafio do blog Fotos de Quinta dessa semana.

    Bjo

    Ana Virgínia
    http://fotosdequinta.blogspot.com.br/2012/10/desafio-fotosdequinta.html

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  13. Muito bom Ana Paula! Essa geringonça que muitos carregam pra onde vão, estão os tornando seres solitários, vazios e um pouco "geringonça."
    Adorei a história!
    bjkas doces!

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